
Uma perspectiva histórica sobre a hipertensão pulmonar
Uma perspectiva histórica sobre a hipertensão pulmonar
Livro oferece uma análise aprofundada sobre a doença, rara e de difícil diagnóstico
O livro Hipertensão Pulmonar: Caminhos da investigação científica traz informações valiosas sobre o diagnóstico, os tratamentos e as pesquisas médicas relativos à doença, contribuindo significativamente para o esclarecimento do tema e para a sua compreensão. A obra divide-se em duas partes. A primeira oferece uma contextualização histórica sobre como evoluiu ao longo do tempo a forma de entender a hipertensão pulmonar. A segunda parte aborda a relação entre a doença e a prática de atividades físicas, destacando as barreiras que os pacientes enfrentam ao tentar se exercitar.

A autora do livro, Mônica Corso Pereira, formou-se em medicina pela Unicamp, na qual completou a residência em clínica médica e pneumologia e na qual concluiu seu mestrado e doutorado em clínica médica com foco em pneumologia. Desde 2015, Pereira integra o quadro de docentes da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade. Na entrevista a seguir, a pesquisadora compartilha os desafios enfrentados durante a elaboração da obra e fala sobre a importância do livro para a comunidade médica, além de fornecer outras informações relevantes sobre a doença.
Jornal da Unicamp – Quais os desafios enfrentados ao longo da elaboração da pesquisa e da escrita do livro?
Mônica Corso Pereira – A proposta do livro foi retratar os diversos eventos históricos, iniciativas científicas de organização do conhecimento e estudos sobre a hipertensão pulmonar, desde suas primeiras descrições mais sistematizadas, que datam do início do século XX. Ao mesmo tempo, busquei chegar aos dias de hoje descrevendo como é entendida a doença.
A hipertensão pulmonar, uma condição rara e grave, de baixa prevalência, causa uma progressiva intolerância aos esforços físicos devido ao cansaço e à falta de ar, com gradual perda de capacidade funcional. Procurei discutir, de forma abrangente, e não focada apenas no problema hemodinâmico – a principal e mais estudada causa dessa limitação –, quais os outros mecanismos envolvidos na deterioração funcional que caracteriza a evolução da hipertensão pulmonar.
JU – Quais as expectativas para a evolução da pesquisa sobre a hipertensão pulmonar?
Mônica Corso Pereira – As pesquisas na área de hipertensão arterial pulmonar continuam bastante afluentes. Do ponto de vista terapêutico medicamentoso, recentemente uma nova molécula foi descoberta e testada, em adição ao tratamento estabelecido atualmente, o qual inclui drogas de três classes terapêuticas. Há uma expectativa de que esse fato impacte de maneira muito positiva a sobrevida dos pacientes com essa condição.
Em termos mais abrangentes, o tratamento, o cuidado multidisciplinar dos pacientes com hipertensão pulmonar, continua sendo o foco de pesquisas em busca de identificar a melhor forma de fazê-lo. Como em outras áreas da medicina, mostra-se sempre fundamental continuar a busca por novas formas e novos arranjos de tratamento que se dediquem não apenas ao aumento da sobrevida, mas a melhorar a qualidade de vida das pessoas afetadas, considerando a perspectiva dos próprios indivíduos.
JU – Qual é a contribuição da obra para a bibliografia da área de hipertensão pulmonar? Em que esse livro se diferencia das outras publicações já existentes?
Mônica Corso Pereira – Embora haja uma literatura abundante sobre o tema em revistas científicas, há poucas publicações em português.
Ao longo da primeira parte do livro, propõe-se a revisão histórica das pesquisas e dos eventos relevantes envolvendo a doença desde seus primórdios. Pretende-se contribuir para o entendimento sobre como ocorreu o acúmulo de conhecimento a respeito do tema, nem sempre desenvolvido de maneira conectada, e quais os momentos e acontecimentos determinantes para o reconhecimento e a popularização da conceituação da doença. Adicionalmente, como esse acúmulo foi incorporado pela comunidade científica e como contribuiu para o surgimento e o estímulo das pesquisas para o desenvolvimento de fármacos. Essas características dão à obra um diferencial de conhecimento para o leitor, algo que não encontramos na bibliografia médica tradicionalmente. A elaboração desse quadro chega aos dias de hoje, o que dá à leitura atualidade científica.
Na segunda parte do livro, discutem-se os mecanismos de limitação aos esforços na hipertensão pulmonar. Trava-se uma discussão ampla a esse respeito, com a apresentação de alguns estudos realizados pelo grupo de pesquisa da Unicamp.
JU – Quais são as diferenças no tratamento da hipertensão pulmonar no Brasil e em outros países?
Mônica Corso Pereira – No Brasil, o tratamento da hipertensão arterial pulmonar é baseado em fármacos disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde [SUS]. Em 1995, a primeira droga para o tratamento de hipertensão arterial pulmonar viu-se aprovada pela FDA, a agência norte-americana que regulamenta o uso de medicações nos Estados Unidos. Ao Brasil, apenas em 2005 chegaram duas medicações de classes diferentes para o tratamento da doença. Apesar de ter havido avanços – como a incorporação pelo SUS de medicações de três classes terapêuticas e protocolos do SUS para o diagnóstico e o tratamento da condição –, há, ainda, muito o que fazer. A incorporação de novas moléculas para o tratamento, uma maior equidade entre as diversas regiões do Brasil para o acesso ao diagnóstico e tratamento, a construção de uma linha de cuidado na saúde pública para a hipertensão pulmonar – com ações voltadas para o diagnóstico, para o estabelecimento de centros de referência responsáveis por acompanhar os pacientes e para o tratamento multidisciplinar da condição – representariam uma ação importante e com impacto positivo no cenário atual.

Título: Hipertensão Pulmonar: Caminhos da investigação científica
Autor: Mônica Corso Pereira
Edição: 1ª
Ano: 2024
Páginas: 224
Dimensões: 16 cm x 23 cm
