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Diferentes etapas dos experimentos feitos em laboratório da Faculdade de Engenharia de Alimentos: pesquisadora analisou combinação entre enzimas e os tempos de reação
Diferentes etapas dos experimentos feitos em laboratório da Faculdade de Engenharia de Alimentos: pesquisadora analisou combinação entre enzimas e os tempos de reação

Farmacêutica atesta potencial antioxidante, anti-hipertensivo e antidiabético do shimeji

Farmacêutica atesta potencial antioxidante, anti-hipertensivo e antidiabético do shimeji

Diferentes etapas dos experimentos feitos em laboratório da Faculdade de Engenharia de Alimentos: pesquisadora analisou combinação entre enzimas e os tempos de reação
Diferentes etapas dos experimentos feitos em laboratório da Faculdade de Engenharia de Alimentos: pesquisadora analisou combinação entre enzimas e os tempos de reação

Peptídeos obtidos a partir da proteína hidrolisada do cogumelo registraram efeitos benéficos para o organismo humano

Uma cientista da Unicamp identificou no cogumelo shimeji (Pleurotus spp) uma fonte promissora de peptídeos bioativos com propriedades anti-hipertensivas, antidiabéticas e antioxidantes. A conclusão consta da tese de Daniela Cavenaghi, defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA). A descoberta representa um passo importante para o desenvolvimento de produtos à base desse macrofungo.

Os peptídeos bioativos resultam de sequências específicas de aminoácidos presentes em uma proteína. Essas substâncias possuem, em relação ao organismo, ações benéficas que vão além da função nutricional. Cavenaghi obteve os peptídeos do shimeji por meio da hidrólise enzimática, um processo em que se utilizam enzimas para quebrar moléculas maiores em compostos menores. A pesquisadora lançou mão das enzimas Flavourzyme, Alcalase e Neutrase, amplamente utilizadas na indústria de alimentos. Para cada tipo de bioatividade, a pesquisadora buscou o tratamento enzimático mais adequado, o que envolveu analisar a combinação entre enzimas e os tempos de reação.

Depois de obter os peptídeos, Cavenaghi, farmacêutica e professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT), verificou se possuíam propriedades anti-hipertensivas, antidiabéticas e antioxidantes. As três funções foram identificadas.

A pesquisadora também simulou um processo de digestão, verificando que essas propriedades mantiveram-se intactas. “Isso é importante porque, quando produzimos um peptídeo que tem uma atividade sistêmica, precisamos garantir que haja atividade quando ele chega à corrente sanguínea e é distribuído no organismo para atingir potenciais receptores”, explica.

A farmacêutica Daniela Cavenaghi: desenvolvimento de produtos terapêuticos será novo alvo da pesquisa
A farmacêutica Daniela Cavenaghi: desenvolvimento de produtos terapêuticos será novo alvo da pesquisa
A farmacêutica Daniela Cavenaghi: desenvolvimento de produtos terapêuticos será novo alvo da pesquisa
A farmacêutica Daniela Cavenaghi: desenvolvimento de produtos terapêuticos será novo alvo da pesquisa

No horizonte da pesquisa, encontra-se a elaboração de produtos terapêuticos, embora o doutorado configure apenas um estudo inicial nesse sentido. No caso dos fármacos anti-hipertensivos, aponta Cavenaghi, existem efeitos colaterais que em alguns casos fazem os pacientes sofrerem com o tratamento. “Quando temos um peptídeo bioativo, e ainda oriundo de uma fonte natural, os efeitos adversos vão ser reduzidos em relação ao fármaco sintético.”

A tese contou com a orientação do professor Ruann de Castro, do Departamento de Ciência de Alimentos e Nutrição da FEA. Castro é um dos responsáveis pelo Laboratório de Bioquímica de Alimentos, onde há uma linha de investigação sobre proteínas alternativas, tendo em vista a importância de uma dieta rica em diferentes tipos de alimentos. O cogumelo representa uma fonte desse tipo de proteína.

O docente explica os motivos pelos quais deve-se pesquisar os peptídeos oriundos desse alimento. “Os peptídeos, além da função nutricional, podem exercer certos tipos de funções fisiológicas dentro do nosso organismo. Essas sequências, quando estão presentes nas proteínas nativas, não exercem bioatividades. Elas só passam a exercê-las a partir do momento em que são liberadas. E isso pode ocorrer por meio de diferentes tipos de processos, como a hidrólise enzimática.”

Castro lembra que há dois produtos já bastante conhecidos da população brasileira e que podem ser comercializados em suas formas hidrolisadas: colágeno e whey protein. A realização de estudos mais aprofundados envolvendo fontes diferentes, como os cogumelos, revela-se essencial para que outros produtos cheguem ao mercado.

Bioatividade

Para a investigação das propriedades antioxidantes, Cavenaghi buscou avaliar a bioatividade dos peptídeos utilizando três métodos distintos. A proteína hidrolisada do cogumelo demonstrou ter atividade nos três casos. Essas propriedades foram potencializadas após a digestão simulada in vitro, com um aumento de até 150% na eliminação de DPPH, um tipo de radical livre.

As propriedades anti-hipertensivas manifestaram-se por meio da inibição da enzima conversora de angiotensina (ECA). Ao inibir a ECA, há um relaxamento dos vasos sanguíneos, ajudando no controle da pressão arterial. A pesquisadora identificou a inibição da ECA comparando a proteína hidrolisada com a não hidrolisada. Os hidrolisados proteicos demonstraram um maior grau de inibição da ECA. Houve uma variação da inibição da enzima entre 15,76% e 50,87%, dependendo da combinação enzimática utilizada para a obtenção dos hidrolisados.

O professor Ruann de Castro, orientador do estudo: peptídeos exercem funções fisiológicas no organismo
O professor Ruann de Castro, orientador do estudo: peptídeos exercem funções fisiológicas no organismo

Já as propriedades antidiabéticas ficaram evidenciadas por meio da inibição das enzimas α-amilase e α-glicosidase. Essas enzimas, responsáveis pela digestão de carboidratos, acabam, quando inibidas, reduzindo a absorção de açúcares simples e, consequentemente, controlando os níveis de glicose no sangue. A comparação da ação da proteína hidrolisada com a da não hidrolisada também apontou melhores resultados no caso da primeira.

O professor Ruann de Castro, orientador do estudo: peptídeos exercem funções fisiológicas no organismo
O professor Ruann de Castro, orientador do estudo: peptídeos exercem funções fisiológicas no organismo

Os valores chegaram a 72% de inibição para α-amilase e ficaram acima de 62% para e α-glicosidase. A Acarbose, nas mesmas condições, atingiu 84% de inibição.

“Trabalhamos com a Acarbose, que é o fármaco de referência. Com relação à bioatividade, verificamos níveis bastante satisfatórios, inclusive com valores comparáveis aos do fármaco de referência, dentro dos padrões nossos de estudo. A Acarbose é fortíssima com relação a essa inibição porque é sintética. Os peptídeos, por serem substâncias naturais, têm uma inibição um pouco menor, mas inibições interessantes quando a gente pensa na aplicação”, conclui Castro.

E comer, funciona? O professor lembra que o consumo do shimeji é milenar e traz diversos benefícios, já que se trata de um alimento rico em vitaminas, minerais e proteínas. Mas fica o alerta da autora da tese: “O consumo dele integral é importante, no entanto não significa que, ao consumi-lo, você não vai mais precisar tomar medicamentos para pressão e diabetes”.

Convênio para doutorado

O doutorado de Cavenaghi fez-se possível por meio do Programa de Doutorado Interinstitucional (Dinter) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), envolvendo a Unicamp e o IFMT. Segundo um dos requisitos do edital, as pesquisas contempladas devem contribuir para o desenvolvimento local. Por isso, os cogumelos utilizados pela cientista foram adquiridos de um assentamento rural da cidade de Campo Verde (MT), que comercializa os produtos em uma feira de orgânicos realizada na Chapada dos Guimarães.

Os resultados do estudo estão sendo publicados em artigos científicos. A publicação sobre as propriedades anti-hipertensivas deu-se na revista Process Biochemistry. O artigo sobre as propriedades antioxidantes apareceu na revista Food and Humanity. Os resultados relativos às propriedades antidiabéticas ainda passam por um processo de preparo para divulgação.

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