O pensador do (nosso) subdesenvolvimento
O pensador do (nosso) subdesenvolvimento
Economista lançou novas bases para interpretar o capitalismo na América Latina
Economista lançou novas bases para interpretar o capitalismo na América Latina
Em 1º de agosto de 2024, a demanda da humanidade por recursos naturais ultrapassou a capacidade, do planeta, de produzi-los ou até mesmo de renová-los. Segundo uma comparação citada pela ong WWF Brasil, a sociedade teria entrado no “cheque especial” do mundo. O chamado Dia de Sobrecarga da Terra é calculado todos os anos pela organização Global Footprint Network com base na razão entre a biocapacidade do planeta e a demanda por recursos naturais. A data chega cada vez mais cedo: na primeira vez de sua fixação, em 1971, estimou-se que a sobrecarga ocorreria a partir do 25 de dezembro. Na virada do milênio, em 2000, o esgotamento já havia saltado para setembro. Se o padrão de consumo mantiver-se no mesmo patamar, é provável que, já em 2025, a fatídica data caia no mês de julho.
Esse dia resulta de uma média, pois a cifra varia entre os países a depender de seus níveis de desenvolvimento, padrões de consumo e a pegada de carbono. Em 2024, o Brasil teve uma mínima vantagem em relação à média mundial. Por aqui, o Dia de Sobrecarga ocorreu em 4 de agosto. Na China, o dia apresentou-se mais cedo, em 1º de junho, e nos Estados Unidos, maior economia do mundo, considerada referência para os padrões de desenvolvimento capitalista, a sobrecarga instalou-se em 14 de março. Segundo a Global Footprint Network, a humanidade precisaria hoje de 1,7 planeta para atender às demandas de todos os países. No entanto, se todos seguissem os padrões de consumo norte-americanos, esse número saltaria para cerca de quatro planetas.
Acerca dessa situação, uma análise provou-se certeira: “A evidência à qual não podemos escapar é que em nossa civilização a criação de valor econômico provoca, na grande maioria dos casos, processos irreversíveis de degradação do mundo físico”. Ao contrário do que pode parecer, o diagnóstico não se baseia nos dados mais recentes. Ele foi escrito em 1974, por Celso Furtado, um dos maiores economistas de nossa história e uma das mentes mais visionárias no desafio de compreender o país. Em 2024, a morte de Furtado completa 20 anos e uma de suas obras mais inovadoras, O Mito do Desenvolvimento Econômico – da qual saiu o trecho citado –, completa 50 anos de publicação. Para celebrar as datas, o Jornal da Unicamp recupera a trajetória do homem que estudou o desenvolvimento e o subdesenvolvimento dos países latino-americanos e cujo legado intelectual permanece vivo em centros de ensino e pesquisa, como o Instituto de Economia (IE) da Universidade.
Um sertanejo no mundo
Um sertanejo no mundo
Celso Monteiro Furtado nasceu em 26 de julho de 1920 em Pombal, no sertão da Paraíba, o segundo dos oito filhos de Maurício de Medeiros Furtado, um advogado, e de Maria Alice Monteiro. Em 1927, a família mudou-se para a capital do Estado, na época ainda chamada Cidade da Paraíba, onde Furtado estudou no Liceu Paraibano. Anos depois, no Recife, mais especificamente no Ginásio Pernambucano, concluiu o ensino secundário. Cumprindo o destino que parecia então natural, mudou-se para o Rio de Janeiro, em 1939, para estudar direito. “Como todo jovem que chegava à capital para se tornar advogado nos anos 1940, Celso tinha uma pretensão intelectual”, conta a jornalista e tradutora Rosa Freire d’Aguiar, viúva de Furtado. A verve intelectual o levou a atuar como jornalista da antiga Revista da Semana, período em que chegou a acompanhar Orson Welles na passagem do cineasta norte-americano pelo país. Em 1944, a aventura pelo mundo das ideias viu-se interrompida por uma convocação para integrar a Força Expedicionária Brasileira (FEB) e lutar na Itália, no fim da Segunda Guerra Mundial.
De volta ao Brasil, Furtado desistiu da carreira jurídica, rendendo-se à economia. Na busca por aprofundar seus conhecimentos, ingressou no doutorado da Faculdade de Direito e Ciências Econômicas da Universidade de Paris-Sorbonne (França), onde defendeu uma tese sobre a economia brasileira do período colonial, em 1948. Durante a estadia no país europeu, conheceu Lúcia Piave Tosi, sua primeira esposa, com quem teve seus dois filhos, Mário e André Tosi Furtado.
Em 1949, tornou-se membro da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), órgão criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para incentivar a cooperação econômica entre os países do continente. Sob o comando do argentino Raúl Prebisch, Furtado assumiu a direção da Divisão de Desenvolvimento da instituição, realizando missões na Argentina, na Costa Rica, na Venezuela, no Equador e no Peru. Por meio do contato com a realidade desses locais, os economistas do grupo consolidaram suas bases de pensamento, calcadas na escola estruturalista de economia, que busca explicar os rumos do desenvolvimento e os aspectos do subdesenvolvimento de uma região olhando para a estrutura produtiva e social constituída ao longo de sua história. “Trata-se de uma tentativa de interpretar o capitalismo na periferia do mundo e suas manifestações concretas, sejam elas econômicas, sociais ou políticas”, sintetiza Alexandre de Freitas Barbosa, professor do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo (USP) e especialista no método histórico-estrutural desenvolvido por Furtado e outros intelectuais brasileiros.
Ao longo dos anos 1950, seu trabalho combinou a atuação junto à Cepal com projetos desenvolvidos em parceria com o antigo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE, hoje BNDES) para subsidiar políticas de industrialização, como o Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitschek. Mais tarde, passou uma temporada de estudos na Universidade de Cambridge (Reino Unido). Nesse período, escreveu sua principal obra, Formação Econômica do Brasil, lançada em 1959.
“Meu pai recebia muita gente. Lembro de acompanhar as conversas dele com [a economista e professora da Unicamp] Maria da Conceição Tavares, sempre intensas”, recorda André Tosi Furtado, segundo filho de Celso e professor do Instituto de Geociências (IG) da Universidade. Tantas atividades exigiam da família um esforço redobrado para acompanhá-lo. “Passei minha vida toda sempre viajando. Houve uma vez em que meus pais foram para o México, e meu irmão e eu ficamos com nossos avós. Depois, meu irmão também viajou para o México, antes de mim, e coube ao [economista chileno] Osvaldo Sunkel me levar para lá. Eu tinha menos de 2 anos”, revela.
Em 1959, a pedido de Kubitschek, Furtado participou da criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e atuou como seu primeiro superintendente. Já em 1962, recebeu um convite de João Goulart para ser o primeiro ministro do Planejamento do país, cargo que ocupou até 1963, quando voltou para a Sudene. “Ele era um homem de muita reflexão, mas de muita ação também”, ressalta d’Aguiar. À frente da pasta, o economista idealizou o Plano Trienal, cujos objetivos incluíam o estímulo ao crescimento econômico e o combate à inflação com distribuição de renda e impulsionamento das reformas de base.
O projeto de materialização de seu pensamento para o país interrompeu-se devido ao golpe civil-militar de 1964. Furtado, um dos vários indivíduos que tiveram os direitos políticos cassados pelo Ato Institucional Nº 1, precisou exilar-se. Seu primeiro destino foi Santiago (Chile), onde trabalhou com a Cepal, indo mais tarde para New Haven (Estados Unidos), onde atuaria como pesquisador da Universidade de Yale. Porém, em 1965, transferiu-se para Paris, onde passou a lecionar na mesma Sorbonne em que havia defendido seu doutorado.
O período na França traduziu-se no de maior produtividade intelectual do economista, publicando então 10 de seus mais de 40 livros, além de textos integrais, obras organizadas e compilações de textos. “Ele foi traduzido em diversas línguas, até em farsi. Lembro que nos ligaram uma vez do Irã comunicando que a tradução tinha sido feita do espanhol, sem autorização. Em agradecimento, nos enviaram um exemplar do livro e uma caixa de pistaches iranianos”, lembra d’Aguiar com humor. Furtado também esteve em diversos países, em meio a missões da ONU e em viagens de pesquisa. Da França, retornou ao Brasil apenas em 1979, com a Lei da Anistia. No mesmo ano, casou-se com Rosa Freire d’Aguiar, com quem permaneceu até o fim da vida.
MÉTODO HISTÓRICO-ESTRUTURAL,
MÉTODO HISTÓRICO-ESTRUTURAL,
antítese da economia abstrata
antítese da economia abstrata
O desenvolvimento capitalista passa pela industrialização, alimentando um processo de acumulação de riqueza que, em determinado momento, é redistribuída para a população em geral por meio do aumento nos salários e melhores condições de trabalho e de vida, entre outros mecanismos. Esse processo, observado de fato nos países centrais do capitalismo, seria, de uma perspectiva tradicional, o destino de todas as nações do planeta. O subdesenvolvimento do Brasil e dos demais integrantes da América Latina representaria apenas uma fase rumo ao pleno desenvolvimento.
Furtado rompe com a ideia de que esse processo ocorrerá em todos os países da mesma maneira. “Não é possível imaginar que, dentro do sistema capitalista, todos os países chegarão a ser desenvolvidos em algum momento. Haverá aqueles que serão desenvolvidos e os que serão subdesenvolvidos”, resume Paulo Fracalanza, professor do IE. A conclusão decorre da forma como o método histórico-estrutural adotado por Furtado e seus colegas da Cepal baseia o pensamento econômico na realidade material de seus países. “O método [histórico-estrutural] é uma forma incrível de pensarmos a economia”, defende Fracalanza. “Não podemos ter uma economia puramente abstrata, teórica, com grandezas apenas matemáticas, cujos dados revelarão o caminho de alguma forma. A economia deve estar embebida na história, na geografia, nos aspectos regionais e nas estruturas de poder que comandam o processo.”
Na visão do economista, países como o Brasil, cuja industrialização ocorreu de forma tardia, a reboque das economias centrais, como as europeias e a norte-americana, passam por processos de crescimento econômico sem distribuição de renda, resultando em uma concentração de riquezas nas mãos da elite. Some-se a isso a dependência das indústrias em relação a tecnologias criadas nos países mais ricos, relegando-lhes atividades de menor valor agregado, executadas por filiais, que enviam seu capital para as matrizes. Tudo isso configura um cenário no qual o subdesenvolvimento não significa apenas um estágio, mas um papel bem definido a ser desempenhado por um determinado país na dinâmica econômica do mundo.
“Ao mostrarmos como as estruturas econômicas e sociais periféricas e centrais se relacionam, trazemos à tona uma dimensão política tanto interna, nacional, quanto internacional”, reflete Barbosa. Segundo Furtado, projetos nacionais de desenvolvimento devem ser capazes de gerar novas tecnologias, de forma a alterar a posição do país na divisão internacional do trabalho. Nesse sentido, surge outra diferença essencial entre o pensamento do pesquisador e as correntes econômicas tradicionais. “A fim de criarmos condições para o desenvolvimento, é preciso planejamento. Isso deve partir de uma articulação do Estado, de um projeto nacional. Não é algo espontâneo”, observa Fracalanza, rejeitando a ideia de que apenas o mercado por si só conseguirá promover o pleno desenvolvimento. “O que é o mercado? São pessoas, grupos que representam interesses concretos. Não se trata de um ente abstrato.”
Outra contribuição importante de Furtado é mostrar o quanto os fatores que condicionam o subdesenvolvimento se refletem nos modos de vida e de organização social e cultural dos países atrasados, algo que se intensificou com a globalização e com o intercâmbio de informações e produtos culturais disseminados por meio de tecnologias digitais. “O problema todo está em nossa imitação. As elites tendem a reproduzir os modelos de consumo que vêm dos países desenvolvidos. Com isso, todos desejam chegar ao nível das elites”, reflete André Furtado. Por mais que sejam expostos a esses modelos, os países periféricos não conseguem levar para toda a população os padrões de consumo dos países centrais, padrões esses que ficam restritos a uma pequena elite. Entretanto, por conta da sua posição na dinâmica mundial, essas populações participam da produção dos bens que servirão às elites de seus próprios países e ao consumo nas economias desenvolvidas.
A ideia acalentada por Furtado de romper com a dependência externa não se limita à busca por construir nos países periféricos estruturas de desenvolvimento autônomas capazes de criar cenários semelhantes aos dos países centrais, mas abarca o esforço de encontrar novos padrões, mais adequados às necessidades, às demandas e à cultura desses povos. “Talvez não seja o american way of life, talvez tenhamos uma outra visão de desenvolvimento”, argumenta Fracalanza. “A partir de uma visão criativa, inovadora, inventiva, podemos construir uma forma de organização muito mais justa e com um potencial de emancipação muito maior.” (Felipe Mateus)
Da cultura ao desenvolvimento sustentável
Da cultura ao desenvolvimento sustentável
Conforme as ideias de Furtado se consolidavam e ganhavam maturidade nos debates econômicos, o contato com a realidade histórica e material dos diferentes locais onde atuou fez com que o pesquisador incorporasse novos elementos a sua leitura de mundo. “A ideia de desenvolvimento é seu conceito primordial, mas, à medida que ele desenvolveu sua teoria, incorporou adjetivos a ela”, comenta d’Aguiar.
Nos anos 1950, no doutorado na Sorbonne e na experiência junto à Cepal, Furtado voltou-se para o desenvolvimento econômico. Com a criação da Sudene e o trabalho com as mazelas da Região Nordeste, passou a considerar que a pujança econômica não poderia ser dissociada do desenvolvimento social e da redução das desigualdades. Ao longo dos anos 1970, a vida junto à intelectualidade parisiense e a efervescência dos debates sociais e culturais abriram duas novas dimensões em seu pensamento: as implicações do desenvolvimento para o meio ambiente e o papel da cultura nesse processo.
A preocupação com o meio ambiente surge com mais força na obra do economista a partir da publicação de O Mito do Desenvolvimento Econômico. A consciência ecológica, porém, já figurava como tendência entre seus contemporâneos. “Essas eram ideias que já estavam em debate e ele as sintetizou e as catalisou”, afirma André Furtado, que cita a influência do franco-polonês Ignacy Sachs, um dos responsáveis por formular o conceito de ecodesenvolvimento, um conceito que mais tarde receberia o nome de desenvolvimento sustentável.
Outra influência importante para essa abordagem, algo mencionado pelo próprio Furtado em sua obra, deu-se por meio do relatório Os Limites do Crescimento, elaborado por cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) sob o comando de Donella Meadows. O documento saiu publicado em 1972, por encomenda do Clube de Roma. Na época, a obra conquistou popularidade ao analisar a evolução de variáveis como o crescimento populacional, a industrialização e o consumo de recursos naturais e ao concluir que, sem uma mudança no modelo de crescimento, o desenvolvimento desenfreado levaria a um colapso ambiental.
O estudo corroborou o que Furtado já havia teorizado acerca da realidade brasileira: não ocorreria uma convergência de desenvolvimento entre todos os países. Caso isso acontecesse, o modelo dos países centrais não seria o mais adequado ao Sul Global. E, ainda assim, se implementado, um modelo de desenvolvimento sem controle esbarraria nos limites impostos pelo meio ambiente. O economista chegou a adotar uma postura crítica em relação aos que consideravam as novas tecnologias uma forma de minimizar o problema, afirmando que a própria produção dessas tecnologias provocaria impactos ambientais. Por isso, se para os pesquisadores do MIT o desenvolvimento resultaria em algo limitado, para Furtado, a promessa de desenvolvimento pleno, aos moldes centrais, constituía um mito.
No fim dos anos 1970 e ao longo da década de 1980, a discussão sobre a dimensão cultural do desenvolvimento também ganha contornos mais nítidos. O debate surge em 1978 com Criatividade e Dependência na Civilização Industrial, obra em que o economista reflete sobre a necessidade de os países periféricos utilizarem suas próprias capacidades materiais e imateriais para elaborar modelos de desenvolvimento que garantam autonomia. “A partir do momento em que temos a criatividade de pensar novas formas de interação entre o desenvolvimento e as estruturas sociais, novas formas de política e de inserção no cenário externo, a economia deixa de ser um elemento dado, uma sequência pré-determinada”, reflete Barbosa.
Furtado passou então a se dedicar à cultura brasileira, vendo-a como um motor para a criação de novos modelos de consumo e de crescimento. “Ele via a cultura como uma atividade econômica que, no futuro, seria cada vez mais importante por conta das transformações da sociedade industrial, em que bens intangíveis se tornariam mais relevantes”, lembra André Furtado. Tal pensamento pôde ser posto em prática pelo economista. Ao retornar para o Brasil após a Lei da Anistia, Furtado filiou-se ao então Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), em 1981. Com a ascensão de José Sarney à Presidência, em 1986, assumiu o Ministério da Cultura, onde ficou até 1988, período no qual tomou várias medidas, entre as quais a criação das primeiras leis brasileiras de incentivo fiscal à cultura.
UMA CASA FURTADIANA
A tradição do pensamento histórico-estrutural de Furtado e dos intelectuais que formaram a Cepal está na essência do Instituto de Economia da Unicamp, “a escola que melhor representa o pensamento de Furtado no Brasil”, nas palavras de Barbosa, ele próprio formado no IE. Criado em 1968, ainda como Departamento de Economia e Planejamento Econômico do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), o instituto surgiu como parte de um projeto no qual a Universidade deveria pensar o país de forma integrada. Para isso, houve a preocupação de constituir uma escola de economia de tradição distinta das demais, o que abriu portas para as teorias cepalinas e estruturalistas. “O grupo que deu origem ao IE estava muito envolvido em um projeto de pensar o desenvolvimento econômico para além do proposto até então”, explica Fracalanza, apresentando as bases do que se constituiu, no pensamento econômico brasileiro, como a Escola de Campinas, da qual participaram nomes de peso como Maria da Conceição Tavares, Luiz Gonzaga Belluzzo e Wilson Cano.
Um dos muitos reconhecimentos da herança de Furtado na Unicamp foi a concessão, ao economista, do título de Doutor Honoris Causa, em 1990. Apesar de ter influenciado gerações de estudiosos, o pesquisador nunca chegou a atuar como professor no Brasil. Fora do governo, Furtado manteve suas atividades acadêmicas, entre a publicação de novas obras e a apresentação de palestras, e atuou junto a comissões da ONU e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Elegeu-se membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) em 1997, ano no qual publicou três volumes de sua obra autobiográfica. Mesmo após sua morte, em 20 de novembro de 2004, seu grande acervo continua inspirando a publicação de novas obras, que reúnem textos inéditos, correspondências e outros materiais organizados por d’Aguiar. Hoje, grande parte desse acervo é mantido pelo IEB e pode ser consultado por pesquisadores e interessados em seu pensamento.
Um homem que pensou o Brasil pelas lentes da economia, Furtado não viu os altos e baixos do país nos últimos 20 anos. Para os especialistas ouvidos pelo Jornal da Unicamp, fica difícil apontar qual seria seu diagnóstico acerca do quadro atual. Todos concordam que, provavelmente, ele reconheceria o desequilíbrio entre as forças que influenciam o debate econômico e o cenário político instável, dificultando uma intervenção de longo prazo. Entretanto, segundo acreditam, Furtado desejaria ver uma condução da economia com um projeto de país mais claro, com maior capacidade de planejamento e foco na redução das desigualdades. “Seguimos ao sabor dos acontecimentos”, sintetiza Fracalanza. (Felipe Mateus)