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Ácido fólico auxilia no controle de infecções em implantes dentários

Polímero biodegradável desenvolvido na FOP libera composto acompanhando mudança no pH

Polímero biodegradável desenvolvido na FOP libera composto acompanhando mudança no pH

Ácido fólico auxilia no controle de infecções em implantes dentários

Polímero biodegradável desenvolvido na FOP libera composto acompanhando mudança no pH

Polímero biodegradável desenvolvido na FOP libera composto acompanhando mudança no pH
O composto: liberação é feita de forma controlada e apenas quando o paciente apresenta uma inflamação na boca

O cuidado com a saúde bucal vai muito além de um sorriso bonito. A perda de dentes pode comprometer a mastigação, a fala e a digestão, além de potencialmente prejudicar a integridade dos demais dentes, enfraquecer o maxilar e a mandíbula e causar danos à gengiva. Dados de 2020 da Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que cerca de 34 milhões de brasileiros já perderam 13 ou mais dentes e que 14 milhões vivem sem nenhum dos dentes naturais.

Na busca por recuperar a saúde e a autoestima de pacientes, os implantes dentários oferecem uma opção de alta performance clínica. Entretanto um desafio, no caso dos pacientes implantados, são as infecções, que podem provocar inflamação e até a perda dos implantes.

Pensando nesse problema, pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp desenvolveram um novo material com o objetivo de controlar as inflamações decorrentes de quadros infecciosos em implantes. Esse material, um polímero, contém ácido fólico, um produto de ação anti-inflamatória. O método recém-criado oferece uma outra vantagem: o composto é liberado de forma controlada, apenas quando o paciente apresenta uma inflamação na boca, condição em que há uma elevação da acidez.

O desenvolvimento do método, durante a pesquisa de doutorado de Raphael Cavalcante Costa com orientação do professor da FOP Valentim Barão e coorientação de João Gabriel Sousa, docente da Universidade Guarulhos (UNG), contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O trabalho recebeu o Prêmio Capes de Tese 2024 na área de Odontologia e menção honrosa no Prêmio Tese Destaque Unicamp 2024 na área de Ciências Biológicas e Saúde.

O professor Valentim Barão (à esq.), orientador, e Raphael Cavalcante Costa, autor da tese: folato é liberado durante 14 dias
O professor Valentim Barão (à esq.), orientador, e Raphael Cavalcante Costa, autor da tese: folato é liberado durante 14 dias

Foco na inflamação

As infecções figuram como a principal causa de insucesso no caso de implantes dentários. Segundo os pesquisadores, estudos de revisão sistemática identificaram taxas de incidência que variam entre 12% e 40%, com média de cerca de 20%. “Um dos principais problemas clínicos decorrentes da infecção é a inflamação causada pelos microrganismos, que pode levar à perda óssea ao redor dos implantes”, destaca Costa.

Além do desconforto causado aos pacientes, essa ocorrência põe em risco o próprio implante e pode comprometer a integridade de outros dentes saudáveis. “A perda óssea pode ser tão grande que não há estrutura para um novo implante”, adverte Barão. “Nesses casos, são necessários outros procedimentos de regeneração óssea, como enxertos ou até o uso de ossos artificiais.”

Uma das limitações em relação ao controle dos quadros inflamatórios é que grande parte dos tratamentos disponíveis têm como foco a eliminação da infecção, tentando matar os micro-organismos responsáveis pelo problema, sem levar em conta a redução da inflamação. Tendo isso em mente, os pesquisadores buscaram avaliar o potencial do folato – a forma natural da vitamina B9, que se apresenta sinteticamente como ácido fólico – para atuar como um agente imunomodulador dos quadros inflamatórios. Suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias já são conhecidas, mas seus mecanismos de ação ainda demandam estudos a fim de que o composto possa ser aplicado de forma tópica.

Uma das dificuldades envolve garantir que o folato chegue a seu ponto de ação em uma concentração adequada para que tenha efeito terapêutico. Quando ministrado por via oral, a concentração do produto que chega à corrente sanguínea do paciente mostra-se insuficiente e, quando aplicado de forma tópica na área do implante, pode ser removido pela saliva.

A pesquisa inovou ao desenvolver um polímero que libera o folato em seu local de ação de forma controlada e apenas em episódios inflamatórios, evitando que o paciente fique exposto a doses excessivas do medicamento. O biomaterial, com uma consistência semelhante à da parafina de vela, apresenta-se na forma de micropartículas e pode ser moldado diretamente nas roscas do implante em contato direto com os tecidos bucais.

A liberação do folato ocorre apenas quando há uma queda no pH do ambiente bucal – o pH diminui devido à produção de ácido lático como resposta a uma inflamação. “À medida que o polímero é degradado, o ácido fólico é liberado. O medicamento chega ao local da infecção para reduzir a inflamação na concentração adequada e no período de tempo correto”, explica Costa. De acordo com os estudos realizados em laboratório, o polímero consegue liberar o folato por 14 dias em uma concentração de 1 μg/mL, o suficiente para produzir o efeito anti-inflamatório.

O polímero, que recebeu o nome científico de PCL-MIP@FT, foi desenvolvido por meio da técnica de impressão molecular. Essa técnica consiste na produção de “moldes” com monômeros funcionais – moléculas mais simples, que podem interagir com outras e formar moléculas maiores –, por meio dos quais o polímero pode ser produzido. A policaprolactona (PCL), que é biodegradável e biocompatível com os tecidos bucais, serviu como base para encapsular o ácido fólico.

Caminho aberto

Os estudos passaram por três etapas. Inicialmente, houve a validação do mecanismo de ação anti-inflamatória do ácido fólico. Em seguida, os pesquisadores trabalharam na produção do polímero e em sua validação. Por fim, realizaram-se testes in vivo com ratos. Ainda são necessários testes clínicos, em pacientes humanos, para que o produto possa estar disponível nos consultórios e para que seu protocolo de uso esteja consolidado.

O processo pode estender-se por algum tempo, mas Costa, com base nos resultados preliminares, estima que o protocolo clínico ideal recomendaria a aplicação tópica do material nas regiões expostas do implante, seguida de uma reaplicação em consultório, se necessário após 14 dias. Depois de 60 dias, o organismo terá eliminado por completo o material.

O reconhecimento do caráter inovador da pesquisa por meio dos prêmios concedidos pela Unicamp e pela Capes causou grande satisfação aos pesquisadores. “Tenho muito orgulho dessa conquista. Foram quatro anos de desenvolvimento do material, um trabalho multidisciplinar que envolveu diversos processos e parceiros”, comemora Costa. Para o orientador, contribuir com inovações que beneficiem as pessoas motiva os pesquisadores. “Ter o reconhecimento de nossos colegas é motivo de extrema alegria.”

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