Da colonização portuguesa ao contexto neoliberal atual
Da colonização portuguesa ao contexto neoliberal atual
Obra aborda o modelo de desenvolvimento implantado no Brasil, a partir da última década do século XX
Ao abordar temas como a colonização, o sistema escravista, os períodos monárquico e republicano e a ascensão do neoliberalismo, o livro O Brasil no Capitalismo do Século XXI proporciona uma compreensão abrangente sobre os múltiplos fatores que influenciaram os rumos da economia brasileira ao longo do tempo.
A obra, organizada em quatro capítulos, descreve a formação do capitalismo no país, desde a colonização portuguesa até o neoliberalismo atual. Trata-se de um material ideal, portanto, para todos que estudam ou desejam estudar a economia e a história do Brasil, pois dialoga com os aspectos sociais e históricos responsáveis por moldar a trajetória do país.
Marcio Pochmann e Luciana Caetano da Silva, autores do livro, fizeram doutorado pela Unicamp. Pochman é professor titular do Instituto de Economia (IE), pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (Cesit) e presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Silva é professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), além de pesquisadora-líder do Grupo Dimensões e Dinâmica do Mundo do Trabalho (GDIMT).
Na entrevista a seguir, feita por escrito, ambos comentam sobre as motivações para a realização do livro, sobre as principais contribuições da obra para os estudiosos de economia e também sobre os aspectos econômicos da sociedade brasileira.
Jornal da Unicamp – Quais foram as motivações para a escrita do livro?
Luciana Caetano da Silva e Marcio Pochmann – Inicialmente, nossas reflexões debruçaram-se sobre a dinâmica setorial desde o início do processo de desindustrialização, na década de 1980, em paralelo com o crescimento acelerado do setor de serviços e o fortalecimento do setor primário na pauta de exportação.
Posteriormente, há uma investigação sobre a evolução das unidades federativas na participação do PIB [produto interno bruto] nacional e a composição setorial de seus respectivos PIBs, revelando as particularidades da dinâmica territorial ao longo das últimas quatro décadas.
JU – Quais os principais motivos que retardaram o processo capitalista no Brasil?
Luciana Caetano da Silva e Marcio Pochmann – A ruptura do modelo feudal com transição para o capitalismo industrial começa na Europa, período no qual alguns países mantinham sob domínio colônias espalhadas por outros continentes, cujo papel era fornecer matéria-prima à indústria nascente e consumir os manufaturados importados. Esse processo coloca o Brasil em uma posição periférica, cuja dinâmica era guiada pelos interesses econômicos da Europa, assentada na conveniência política das oligarquias agrárias que, apropriando-se do Estado por meio de cargos eletivos, priorizou o modelo agroexportador com incentivos fiscais e creditícios. Outro elemento que se constituiu como trava ao desenvolvimento capitalista foi a utilização do trabalho escravo por tempo demasiado.
JU – Quais as diferenças entre a industrialização que ocorreu no Brasil e a ocorrida em outros países?
Luciana Caetano da Silva e Marcio Pochmann – Em um universo com mais de 200 países, é difícil elencar essas diferenças, visto existirem diferentes grupos e, dentro de cada grupo, singularidades territoriais. Tais diferenças mostram-se mais claras quando comparamos os países centrais com os países periféricos. Boa parte das nações eram colônias até o início do século XX, sofrendo uma espoliação, pelas nações colonizadoras, de suas riquezas minerais e vegetais. Para além das questões políticas e econômicas, a estrutura do sistema de educação, via de regra guiada pela dinâmica da própria economia e alicerçada em um padrão de seletividade que privilegiava homens brancos e ricos, representa outra variável relevante na compreensão dessas diferenças. Por fim, na condição de país periférico, o Brasil sempre manteve grande dependência tecnológica, fruto da ausência de uma política mais ousada de investimento em uma base tecnológica mais competitiva, o que se reflete na posição do país na divisão internacional do trabalho.
JU – Quais as principais contribuições da obra para os estudiosos de economia?
Luciana Caetano da Silva e Marcio Pochmann – O livro joga luz sobre a dinâmica da economia nacional, destacando quatro fases: do Império à República Velha; o Estado Novo e a modernização conservadora; a desmodernização acompanhada de desindustrialização e reprimarização da pauta de exportação; e, por último, as mudanças recentes na estrutura produtiva com reflexos sobre as relações laborais. Pela perspectiva regional, uma análise da evolução das grandes regiões, com destaque para algumas unidades federativas, pelo reposicionamento no PIB nacional e nas exportações brasileiras. E, por fim, algumas reflexões acerca do reposicionamento rebaixado do Brasil no PIB internacional em paralelo a uma política de renúncia ao investimento em uma base tecnológica mais competitiva.
Título: O Brasil no Capitalismo do Século XXI
Autores: Marcio Pochmann e Luciana Caetano da Silva
Edição: 1ª
Ano: 2023
Páginas: 184
Dimensões: 16 x 23 cm