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Cesar Lattes

Cem anos de uma vida que não cabe no currículo

Pioneiro da ciência brasileira, as contribuições de Cesar Lattes moldaram a física moderna e inspiraram gerações

“Se existe um Currículo Lattes de Cesar Lattes, não foi ele quem o fez.” Ao fazer o comentário, Carola Dobrigkeit, aluna de Cesar Lattes e, desde 1974, professora do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp, revela aspectos da personalidade do mestre: um homem simples, brincalhão e pouco afeito a alguns trâmites burocráticos inerentes à vida de um pesquisador. Para a surpresa da docente, sua hipótese se confirmou: o renomado cientista tem um currículo na plataforma que leva seu nome. O registro, porém, foi feito por amigos de forma simbólica, em sua homenagem.

Cesar Lattes
Cesar Lattes

Em 2024, Cesar Lattes completaria 100 anos e, para celebrar a data, o Jornal da Unicamp recupera sua história e o seu legado para a ciência e para as instituições acadêmicas, em particular para a Unicamp. Nesta reportagem, a Universidade presta uma homenagem a um de seus professores mais ilustres e a um dos maiores cientistas do país.

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Acesse a galeria em homenagem ao centenário de Cesar Lattes

De Curitiba para o mundo

Cesare Mansueto Giulio Lattes nasceu em 11 de julho de 1924 em Curitiba (PR), filho dos italianos Giuseppe Lattes e Carolina Maroni. Nos anos 1930, a família se estabeleceu em São Paulo, onde o jovem cursou o ensino secundário, equivalente ao atual ensino médio, no Colégio Dante Alighieri. O gosto do garoto pela ciência e a proximidade de Giuseppe com professores da recém-fundada USP garantiram a Lattes a oportunidade de iniciar, ainda aos 15 anos, o curso de física, no qual se formou aos 19. Quem viabilizou o seu ingresso na graduação foi Gleb Wataghin, físico ítalo-ucraniano fundador do Departamento de Física da Universidade e que mais tarde se tornaria o patrono do IFGW.

Cesar Lattes
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Cesar Lattes em diferentes momentos de sua vida: físico brasileiro completaria 100 anos em 11 de julho de 2024
Cesar Lattes

Se Wataghin permitiu que Lattes fosse aluno da graduação, outro professor o conduziu pelos caminhos da física experimental, vertente que se tornaria a paixão do jovem. Conforme narra Cássio Leite Vieira na biografia César Lattes: Arrastado pela história, publicada pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), Giuseppe Occhialini chegou ao Brasil em 1937 a convite de Wataghin para integrar o corpo docente da USP – e para fugir da Itália fascista de Benito Mussolini. Em uma de suas aulas, Occhialini dispensou a exploração teórica e propôs que o jovem cientista aprendesse sobre raios X revelando filmes fotográficos expostos à radiação e medindo suas propriedades físicas. A sugestão despertou em Lattes a preferência pelos experimentos, postura que defenderia em toda sua carreira. “Muitas vezes, um pesquisador afirma que somente sua nova formulação teórica será suficiente para que sua teoria seja válida. Entretanto Lattes afirmava que somente observações experimentais, feitas segundo os padrões da ciência, poderiam validar uma teoria”, explica José Augusto Chinellato, professor do IFGW e ex-orientando do físico. “Ele dizia que a experiência seria a juíza da formulação teórica.”

Cesar Lattes

Próximo ao fim da Segunda Guerra Mundial, Occhialini voltou à Europa e se estabeleceu na Universidade de Bristol, no Reino Unido, onde integrou a equipe que, sob o comando de Cecil Powell, vinha pesquisando raios cósmicos por meio da análise da trajetória das partículas registradas em chapas fotográficas. Naquele período, o método já apresentava vantagens quando comparado com o uso das chamadas câmaras de nuvens, que usavam vapor de água supersaturado para a detecção das partículas. Enquanto isso, no Brasil, Lattes dedicava-se a experimentos também na área de partículas cósmicas, mas utilizando as câmaras de nuvens. Graças a Occhialini, que apresentou a Lattes o potencial das chapas fotográficas, o brasileiro decidiu juntar-se à equipe de Powell em Bristol, em 1946, decisão que transformaria sua carreira.

Cesar Lattes
Cesar Lattes em aula na Unicamp em 1980
Cesar Lattes subindo em um caminhão de transporte de equipamentos para o laboratório de Chacaltaya, na Bolívia, em 1953 (à esq.); com Eugene Gardner em Berkeley, nos Estados Unidos, em 1948 (ao centro); no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) em 1951
Unicamp
Cesar Lattes com alunos da Unicamp ao ar livre no início da década de 1980
Nature
Rastro de partícula carregada: imagem extraída do artigo histórico de Lattes publicado na revista Nature
LEGADO NA UNICAMP
CESAR LATTES JU

Lattes concede entrevista ao Jornal da Unicamp em 1987

Fundo carta
Dudi
A professora Maria de Lourdes Borges: “Na época, foi uma surpresa receber uma carta dele”

Carta de uma jovem pesquisadora

César Lattes
O físico César Lattes durante cerimônia de entrega de professor emérito, em sua residência em Campinas
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