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As pesquisadoras Patrícia Ponce Giomo (à esq.) e Naiara Henning Neuenfeldt analisaram 60 amostras de alimentos para bebês à base de farinhas de cereais
As pesquisadoras Patrícia Ponce Giomo (à esq.) e Naiara Henning Neuenfeldt analisaram 60 amostras de alimentos para bebês à base de farinhas de cereais

Estudo discute presença de micotoxinas em alimentos de bebês

Pesquisa da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp investiga contaminação por substâncias produzidas por fungos



Um artigo publicado na revista científica Food Control debate a segurança de alimentos industrializados destinados a bebês a partir de seis meses de vida. As autoras do trabalho, uma docente e duas pós-graduandas da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, constataram, em um estudo de ocorrência, que a maioria dos alimentos infantis analisados, como papinhas e farinhas usadas em refeições, apresentou baixa concentração de micotoxinas. Das 60 amostras analisadas, 98,3% apresentaram presença dessas substâncias produzidas por fungos, dentre as quais apenas uma superou o nível de concentração permitido por lei.

“Esse é um resultado extremamente positivo, pois demonstra os esforços que a indústria de alimentos e o governo fazem para o controle dessas micotoxinas. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa] estabeleceu a legislação sobre os limites máximos permitidos para micotoxinas nos alimentos em 2011 e, em pouco mais de dez anos, observamos avanços significativos. Isso demonstra que há um controle dentro do país e que as empresas que produzem esse tipo de alimento estão comprometidas com a legislação brasileira”, afirma a professora Liliana de Oliveira Rocha, uma das autoras do artigo.

A docente Liliana de Oliveira Rocha: análises servem como subsídio às agências governamentais responsáveis por garantir a segurança e a qualidade dos produtos
A docente Liliana de Oliveira Rocha: análises servem como subsídio às agências governamentais responsáveis por garantir a segurança e a qualidade dos produtos

Fungos e micotoxinas em alimentos e bebidas são a linha de pesquisa de Rocha. As micotoxinas são metabólitos secundários tóxicos produzidos por alguns gêneros de fungos que podem contaminar os alimentos em diferentes fases – no cultivo no campo, na colheita, no armazenamento, na produção ou na estocagem, devido à má conservação do produto. Entretanto, a professora explica que nem todos os fungos são capazes de produzir micotoxinas. Além disso, os processos utilizados na indústria de alimentos, na maioria das vezes, eliminam os fungos, mas não as micotoxinas — que resistem às altas temperaturas pelas quais os ingredientes passam no processo industrial. Por isso, um alimento pode apresentar contaminação por micotoxinas mesmo sem a presença do fungo. O importante, segundo a docente, é que matérias-primas de boa qualidade sejam utilizadas e que os alimentos sejam analisados para saber se os níveis dessas substâncias não ultrapassam os limites máximos permitidos pela legislação, protegendo, assim, a saúde do consumidor.

Publicado no início de maio, o artigo é resultado do trabalho de pesquisa de duas orientandas de Rocha – Patrícia Ponce Giomo, de mestrado, e Naiara Henning Neuenfeldt, de doutorado –, que também o assinam. Giomo conta que o seu principal desafio foi o aprendizado sobre a técnica de cromatografia, utilizada na separação de compostos, como é o caso das micotoxinas. “Sou formada em biologia, e essa parte utiliza conhecimentos de química orgânica. Como a Naiara já tinha essa experiência, trabalhamos juntas para fazer a extração, analisar os dados e trazer questionamentos para possíveis novas pesquisas.”

Nesse estudo, foram analisadas 60 amostras de alimentos para bebês à base da farinha de cereais comercializados no Brasil. Os produtos foram categorizados em cinco grupos: arroz e/ou trigo; milho; trigo e aveia; aveia e arroz; e multigrãos – trigo, arroz, milho, aveia, cevada e malte, esse último em farinha e extrato. Das amostras, uma ultrapassou a concentração permitida por lei de uma das toxinas analisadas, sendo esse um fator que pode ser motivo de preocupação para a saúde pública. Contudo, segundo Rocha, sempre existe a chance de se encontrar uma amostra com irregularidades porque o universo considerado é muito grande. “Quantas vezes observamos na Europa e nos Estados Unidos recalls de amostras?”, lembra. A docente explica que intoxicações podem ser agudas ou crônicas, dependendo do tipo, da susceptibilidade do indivíduo, da duração da exposição e da concentração consumida.

Público vulnerável

O estudo levou em conta o fato de que o público-alvo desses produtos são bebês e crianças, que possuem baixo peso corporal, maiores taxas metabólicas e um nível de desenvolvimento do sistema imunológico que aumenta a suscetibilidade às micotoxinas. Embora esse trabalho forneça informações relevantes sobre a contaminação de alimentos por micotoxinas no Brasil, as autoras reiteram a importância de pesquisas adicionais para entender melhor a extensão e a prevalência da ocorrência dessas substâncias em alimentos para bebês no país.

Segundo as pesquisadoras, essas análises servem como subsídio às agências governamentais responsáveis por garantir a segurança e a qualidade desses produtos. Para as autoras, entre os pontos que merecem investigações posteriores estão a coocorrência de micotoxinas distintas e a maneira como interagem em crianças. Segundo o artigo, a taxa mais alta de coocorrência de micotoxinas foi encontrada em alimentos multigrãos. Quanto à contaminação, a maior incidência se deu em produtos à base de cereais de trigo e/ou de arroz.

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