Docentes registram, em obra, discussões sobre educação feitas em disciplina que focalizou infância
Organizado pelas professoras Ana Lúcia Goulart de Faria e Rosali Rauta Siller e pelo professor Eduardo Pereira Batista, o livro A aula como produção de conhecimentos é fruto das discussões desenvolvidas na disciplina “Sociologia da Infância”, ministrada por Faria e Siller no segundo semestre de 2021, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp. A obra reúne textos produzidos por docentes da FE e de outras universidades que participaram da disciplina, cujo objetivo era proporcionar um ambiente de debate e discussão entre pesquisadores e alunos no contexto de pandemia e de ataque à ciência e ao pensamento crítico das universidades. Leia, a seguir, a entrevista feita com os organizadores do livro.
Jornal da Unicamp – O que motivou a organização desse livro?
Organizadores – A ideia que sustenta a organização desse livro é a de que a aula pode ser uma abertura para inventar um espaço e um tempo não apenas de transmissão, mas também de produção de conhecimentos. Dessa maneira, as aulas se tornam um lugar de formação e de exercício para o pensamento crítico. Por meio de seminários, que eram apresentados logo depois de uma aula, estudantes e professores convidados podiam produzir conhecimentos de modo dialógico, levantando questões sobre a realidade social e a prática docente, tendo como base suas experiências e os textos indicados previamente, refletindo mais detidamente sobre um tema abordado ao longo do curso e revisitando suas pesquisas a partir de diferentes perspectivas teóricas. O livro é um registro desse modo de pensar a aula e, nesse sentido, o leitor poderá experimentar um pouco do que fizemos ao longo do curso.
JU – Pensando no contexto de pandemia, como as aulas da disciplina “Sociologia da Infância” foram desenvolvidas, considerando que esse foi um cenário atípico? A troca entre professores e estudantes foi tão proveitosa quanto em aulas presenciais?
Organizadores – Devido ao distanciamento social que tivemos de enfrentar durante a pandemia de covid-19, as aulas ocorreram de forma remota. Embora o curso tenha sido ministrado totalmente a distância, esse formato não impediu que a aula continuasse sendo um lugar de encontro que permite a experiência do pensamento e de seu caráter potencialmente emancipador e formativo. Por outro lado, esse cenário atípico possibilitou que pesquisadores de outras regiões do país participassem conosco dessa experiência de pensamento. A pandemia, tal como a vivemos no Brasil, trouxe a terrível experiência da fabricação de cadáveres por ações e omissões de um governo genocida, mas trouxe também um tempo que exigiu de nós e de nossos colegas uma abertura que nos possibilitou encarar a realidade e imaginar coletivamente formas de resistir, até o retorno à normalidade.
JU – No atual contexto do século XXI, qual a importância de produzir estudos nessa área?
Organizadores – Vivemos um tempo histórico marcado pela ascensão de movimentos reacionários de extrema direita, com feições fascistas, em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil. Foi esse o contexto político no qual essa obra foi organizada, ou seja, ela coincide com o final de um governo que, de diferentes modos, negava sistematicamente as produções científicas e promovia abertamente uma guerra ideológica contra as universidades públicas.Quando o trabalho intelectual e a experiência do pensamento estão sob ameaça e se tornam alvo de ataques de grupos reacionários, pensar e dar visibilidade ao que foi pensado se torna uma modalidade de ação. Por isso, para nós, ter publicado essa obra no contexto em que vivíamos foi uma forma de resistência, um ato político e revolucionário.
JU – Qual público vocês esperam alcançar com a obra?
Organizadores – Esperamos que essa obra seja lida especialmente por professores que atuam desde a creche até a universidade e por pesquisadores de diferentes áreas ligadas à educação. Mas esperamos também que qualquer pessoa interessada no tema da educação possa se tornar um leitor de A aula como produção de conhecimentos. Como os capítulos dessa obra foram organizados por afinidade temática, depois da leitura de um capítulo será difícil não começar outro, e depois outro, até o último capítulo, que poderia ser o primeiro, porque a ordem de apresentação não obedece ao princípio do mais simples ao mais complexo. Pode-se começar por qualquer um e terminar igualmente por qualquer capítulo. Desejamos a todos uma boa leitura!
Título: A aula como produção de conhecimentos
Organizadores: Ana Lúcia Goulart de Faria, Eduardo Pereira Batista, Rosali Rauta Siller
Edição: 1a
Páginas: 304
Dimensões: 14 cm x 21 cm