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Análises feitas por laboratório da Faculdade de Engenharia Agrícola contribuem com a arborização urbana

Larissa Volpi instala sensor em árvore; no destaque, o dispositivo inserido em pedaço de tronco: malha com rotas de propagação de ondas
Larissa Volpi instala sensor em árvore

Entre o fim de 2022 e início de 2023, Campinas enfrentou situações trágicas envolvendo suas árvores. Após uma figueira do Bosque dos Jequitibás cair sobre um carro, vitimando um homem de 36 anos, e de um eucalipto da Lagoa do Taquaral tirar a vida de uma garota de 7 anos, um alerta se acendeu na cidade: havia o risco de outras árvores caírem? Em virtude das quedas, vários parques e jardins fecharam seus portões para que a situação fosse avaliada. No Bosque dos Jequitibás, a análise feita pela prefeitura apontou a necessidade de retirada de 108 árvores. A medida, contestada pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comdema) e pela Comissão de Arborização Urbana da Câmara Municipal, acabou sendo adotada. Já na Lagoa do Taquaral, 181 árvores foram retiradas com a proposta de substituição por espécies nativas.

no destaque, o dispositivo inserido em pedaço de tronco: malha com rotas de propagação de ondas
O dispositivo inserido em pedaço de tronco: malha com rotas de propagação de ondas

“As árvores são equipamentos públicos que nos trazem benefícios. Precisamos pensá-las como parte viva da infraestrutura urbana. Elas precisam de avaliações periódicas.”A afirmação é de Larissa Volpi, mestranda da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp e pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Ensaios Não Destrutivos(GPEND) da unidade. Coordenado pela professora Raquel Gonçalves, o grupo dedica-se ao desenvolvimento e aplicação de tecnologias para o monitoramento das condições internas de árvores e de estruturas não metálicas. Os estudos feitos pelo laboratório podem ser úteis tanto para avaliar a saúde das árvores de uma cidade como para empresas florestais que as utilizam na produção de papel e celulose ou, por exemplo, como madeira na construção civil.


Por dentro das árvores

Diversos fatores podem afetar uma árvore, tais quais fungos, insetos, doenças, podas inadequadas, falta de espaço para o crescimento de raízes, aspectos do solo, bem como a adaptação de espécies a determinados locais. “Às vezes, olhamos uma árvore e pensamos que ela está bem. No entanto, internamente, ela pode estar deteriorada ou com cavidades”, explica Gonçalves. Por isso, uma avaliação minuciosa, identificando as condições internas das árvores, permite a tomada da decisão correta, que pode ser um tratamento, a colocação de um suporte ou até mesmo o  corte, minimizando situações como as ocorridas recentemente em Campinas.

As pesquisadoras do grupo apontam que grande parte das inspeções realizadas são feitas com base no estado fitossanitário aparente das árvores, ou seja, com base no que se vê por fora. Trata-se de uma inspeção fundamental que permite avaliar questões importantes. Porém, em certos casos, apenas essas informações não bastam.

Os estudos do GPEND utilizam técnicas de ultrassonografia, baseadas na análise das interferências ocorridas durante a propagação das ondas do aparelho. Por se tratarem de ondas mecânicas, sua velocidade de propagação é maior em meios sólidos e íntegros. Para a inspeção, o tronco da árvore é demarcado com uma série de pontos, formando uma malha com várias rotas de propagação. Em cada ponto, um sensor emite um sinal acústico, que percorre o tronco e é recebido por outro sensor. Com isso, o equipamento mostra o tempo que a onda demorou para realizar determinado percurso. Esses dados são inseridos em um software que calcula as velocidades de propagação das ondas de ultrassom na malha. Tomando como base a maior velocidade, comparam-se os registros nas diferentes rotas. “Reduções na velocidade são indícios de desvios na trajetória da onda ou alterações na estrutura interna da madeira, indicando a existência de cavidades ou de zonas com deterioração e, portanto, perda de rigidez do material”, aponta a docente.

Os dados obtidos a partir da ultrassonografia podem ser utilizados para gerar imagens de tomografia, na qual a condição interna do tronco é representada graficamente. “A tomografia nos ajuda a escolher o manejo adequado, o que é recomendado para árvores centenárias ou com significado histórico, por exemplo”, pontua Stella Palma, pesquisadora do grupo. 

Outro equipamento utilizado é o resistógrafo, que introduz no tronco uma agulha de 2 milímetros de diâmetro. Conforme a agulha penetra na madeira, um gráfico indica a resistência encontrada. Uma queda abrupta na resistência significa um indício de deterioração da madeira. “São vários estudos que podem ser feitos e várias medidas que podem ser tomadas antes da opção pelo corte da árvore”, defende.

As técnicas utilizadas pelo laboratório não comprometem a integridade da planta e, ainda assim, permitem a obtenção de dados importantes, como sobre a rigidez e densidade da sua madeira. As pesquisadoras citam como outra vantagem da nova tecnologia determinar, antes mesmo da extração, o destino do material – por exemplo, para a indústria de papel e celulose ou para a construção civil. “Conseguimos direcionar o material da árvore para uma aplicação adequada e economizamos tempo e recursos das empresas”, destaca a coordenadora. A novidade também
contribui para o aprimoramento de outras tecnologias, como a inteligência artificial. “Um estudo que não destrói o material permite a extração de uma quantidade maior de dados, o que é uma demanda para trabalharmos com o aprendizado de máquina”, lembra Palma.

Atenção constante

O trabalho do laboratório gera implicações políticas e sociais importantes. No caso das 108 árvores retiradas do Bosque dos Jequitibás, o laudo que contestou a remoção, feito pelo Comdema, contou com análises realizadas pelo grupo. “Nossa avaliação indicou que algumas das árvores não apresentavam defeito algum. Mesmo assim, elas foram retiradas”, disse Palma. No caso da Lagoa do Taquaral, os alertas tinham sido feitos há bastante tempo. Cinthya Bertoldo, professora da Feagri e também pesquisadora do grupo, conta que uma análise feita pelo GPEND em 2015 já apontava a necessidade de retirada de sete árvores inspecionadas e o monitoramento constante dos demais eucaliptos. “A retirada dos sete eucaliptos foi feita. Entretanto, nada foi feito quanto ao restante”, revela.

Da esq. para a dir., Raquel Gonçalves, coordenadora do grupo, Cinthya Bertoldo e Stella Palma: tecnologia define destino do material investigado
Da esq. para a dir., Raquel Gonçalves, coordenadora do grupo, Cinthya Bertoldo e Stella Palma: tecnologia define destino do material investigado

Outro benefício do processo está no fato de o laboratório ter produzido tecnologias nacionais, como foi o caso do equipamento de ultrassom, já disponível no mercado em uma parceria da Unicamp com uma empresa-filha, e o software de tomografia, em fase de licenciamento. Espera-se que esses recursos e conhecimentos possam estar mais acessíveis ao poder público, contribuindo para aprimorar a atuação dele no setor ambiental. “Os tomógrafos são importados e muito caros, o que dificulta sua utilização por prefeituras de cidades pequenas ou por pequenas empresas de inspeção, que poderiam usar de forma mais constante essas tecnologias e contribuir para a arborização das cidades”, aponta Volpi.

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