Grupo responsável pelo projeto deve apresentar protótipos no primeiro semestre de 2024
Pesquisadores da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) e da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec) da Unicamp começaram a desenvolver um veículo inovador. Até o final do primeiro semestre do ano que vem, o grupo pretende apresentar o protótipo de uma bicicleta e de um triciclo elétricos inteligentes. De acordo com o professor da Feec Leonardo de Souza Mendes – que vai liderar os grupos multidisciplinares de pesquisa –, o novo veículo nasce com dois objetivos prioritários: facilitar os deslocamentos de idosos e de pessoas com deficiência e auxiliar no processo de realização de atividade física que precise de algum grau de controle ou monitoramento.
O docente revela que o veículo inteligente será dotado de um microcomputador programado com informações sobre a fisiologia do usuário e que deverá reagir de acordo com as suas necessidades. O equipamento poderá ser controlado a partir de um telefone celular.
O plano é construir um veículo urbano para ser utilizado em deslocamentos não muito longos. O equipamento deverá ter uma autonomia de 20 km a 50 km e, por essa razão, não vai precisar de infraestrutura presente nas ruas da cidade, como estações de recarga. “É para ser usado para ir e voltar do trabalho. O usuário poderá fazer o carregamento na tomada de sua casa, durante a noite”, adianta.
O novo veículo terá um motor alimentado por uma bateria e um sistema inteligente que vai receber informações sobre o usuário e o local onde se encontra – como condições da via, obstáculos e o entorno. O sistema deve reconhecer, por exemplo, terrenos planos ou áreas de aclive leve ou acentuado e, a partir desses dados, indicar o módulo de operação mais adequado ao (tri)ciclista. A bateria poderá ser adquirida no mercado, mas existe a possibilidade de que ela seja desenvolvida especialmente para o projeto pelo Centro de Inovação de Novas Energias (Cine), sediado na Unicamp.
Caso percorra um terreno de aclive muito acentuado, ou mesmo um morro, o sistema vai acionar o motor elétrico e o veículo deverá reproduzir os movimentos de uma pedalada, sem esforço para o usuário. Quando a bike descer um morro, o dispositivo acionará o sistema de recuperação de energia, que deverá proporcionar também algum grau de frenagem.
Com isso, o veículo poderá ser usado com maior grau de segurança por uma pessoa que, por recomendação médica, precise realizar exercícios físicos dentro de padrões definidos, que levem em conta, por exemplo, limites do ritmo cardíaco, da pressão arterial, dos níveis de esforço etc.
Além disso, o sistema poderá monitorar os objetivos que o usuário deseja alcançar, como a queima de calorias, distâncias percorridas, o tempo gasto no trajeto, além de seu desempenho em comparação com dias anteriores. “Ou seja, esse é um veículo que vai ‘falar’ com o usuário”, afirma o professor.
De acordo com Mendes, o uso do veículo inteligente deve contribuir, ainda, para o exercício orgânico – aquele realizado em tarefas cotidianas, como subir ou descer escadas e caminhar até a escola, diferentemente dos realizados nas academias. Isso vai ocorrer porque o usuário poderá decidir se quer pedalar em uma parte do ou em todo o trajeto. Por conta dessa característica, diz Mendes, a bike e o triciclo inteligentes poderão ser usados por pessoas de todas as idades e com diferentes condições físicas.
Linhas gerais
O professor afirma que as linhas gerais do projeto já estão prontas. O sistema de controle, por exemplo, já está desenvolvido, diz. Segundo Mendes, uma tese de doutorado que deve ser defendida no final deste ano ou, no máximo, no início do ano que vem trata da chamada rede sensora – um dispositivo de coleta permanente de dados.
A rede analisa as informações obtidas e consulta uma tabela de tomada de decisão. Com base nessa tabela, o sistema aciona os dispositivos a fim de, por exemplo, determinar a pressão necessária para acionar os pedais da bicicleta ou realizar qualquer outra ação que se queira programar. “O que nós não temos ainda são os acionadores. Existe uma parte mecânica que precisa ser desenvolvida. Já há coisas sendo feitas em outros países nesse setor e vamos avaliar se podemos adaptar [a tecnologia já existente para o nosso caso]”, afirma o docente, que pretende começar a formação dos grupos de pesquisa no início do segundo semestre deste ano.
Preço
De acordo com o pesquisador, o veículo não vai ficar muito mais caro que triciclos ou bikes elétricas disponíveis hoje no mercado. Segundo cotação de junho deste ano, uma bike elétrica é vendida por um preço mínimo de R$ 4.900. No caso do triciclo, os preços vão de R$ 2.300 a R$ 12 mil. “Ou seja, a parte mais cara do veículo já está definida. O que nós vamos acrescentar aos custos será o sistema de controle”, diz Mendes. “Além disso, o peso a ser acrescido ao modelo não chega a 3 kg”, garante.
O professor revela que os grupos de trabalho vão atuar em diferentes frentes, para além das engenharias elétrica e mecânica. E diz que haverá grupos ligados à área da computação, da saúde e de humanas. “Trata-se de um projeto essencialmente multidisciplinar”, explica. Mendes acredita que os grupos vão chegar a um resultado muito rapidamente, mas aposta que o projeto vai continuar sendo motivo de estudo por vários anos ainda. “Nossa meta é um veículo autônomo”, conclui.