FEQ prioriza pensamento crítico, trabalho em equipe e desafios contemporâneos em novo currículo
Neste semestre, a Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp começou a implementar seu novo currículo do curso de graduação. A reestruturação foi fruto do trabalho do Núcleo Docente Estruturante (NDE), estabelecido pela unidade em 2018, e se apoia em uma metodologia baseada no desenvolvimento de competências e habilidades, tendo por objetivo formar profissionais mais humanizados e capazes de atender aos principais desafios da sociedade do século 21.
A partir de agora, além do sólido conhecimento técnico-científico, é esperado que os egressos da FEQ tenham adquirido habilidades como pensamento crítico, capacidade de trabalhar em equipe, consciência das necessidades socioeconômicas e de sustentabilidade, espírito inovador, bem como noções de empreendedorismo. O curso também irá focar a integração entre os diversos tipos de conhecimento – sejam eles teóricos ou práticos – e tem nas atividades de extensão uma de seus ramos fundamentais, absorvendo de forma orgânica a exigência do Conselho Nacional de Educação pela curricularização da extensão, garantindo um percentual mínimo da carga horária dos cursos para as atividades de extensão.
De acordo com Raphael Suppino, coordenador de graduação da FEQ e do NDE, a reformulação visa solucionar o problema da compartimentalização do conhecimento existente no currículo tradicional, que tende a manter os alunos distantes do contexto da vida real e despreparados para lidarem com os desafios do mercado de trabalho. “Na vida real, o problema não explica que precisa ser resolvido com termodinâmica. Ele aparece como um vazamento de vapor, por exemplo, mas o aluno chegava à indústria treinado para ler um enunciado. Esse não é mais o perfil do profissional que a gente quer enviar para a sociedade”, esclarece.
Embora o curso continue dividido em disciplinas, essas não estarão ligadas a um corpo de conhecimento fixo e sim a momentos de aprendizagem envolvendo as habilidades a serem desenvolvidas. Nesse contexto, o conteúdo será um substrato, englobando temáticas que antes eram pulverizadas em diferentes momentos. “O teor técnico é o mesmo tanto no currículo anterior como no novo, mas a forma de condução é diferenciada para proporcionar essa visão integradora”, ressalta a professora Lucimara Gaziola, que também atuou na reestruturação do currículo.
Uma das principais características do novo currículo será a realização de atividades experimentais antes da sua estruturação teórica, o que dá concretude à aprendizagem e contribui para aumentar a motivação e o interesse dos estudantes. Trata-se de um processo semelhante ao que acontecia antigamente, quando os cientistas primeiro observavam o fenômeno na natureza e somente depois tentavam traduzi-lo em uma equação. Esse processo torna o aprendizado mais intuitivo e autônomo.
A mudança de paradigma está em consonância com as transformações que ocorreram nas últimas décadas e que disponibilizaram um volume imenso de informações. Dessa forma, a função do professor não será mais exclusivamente a de transmitir conhecimento, mas de mediar, auxiliando o estudante a analisar criticamente as informações. Para se ter uma ideia, de todas as disciplinas oferecidas pela FEQ no currículo anterior a 2023, apenas três permaneceram: o TCC, o pré-TCC e o estágio. Nessas todas o aluno já é protagonista. Foram, portanto, construídas 28 novas disciplinas, todas baseadas em aquisição de habilidades e competências.
Por esse motivo, a avaliação dos estudantes também passou por alterações. Para o professor Luis Fernando Franco, que integrou o NDE, o processo de avaliação somente fará sentido se for condizente com os objetivos preconizados na componente curricular. “Em algumas circunstâncias, pode ser que a prova tradicional satisfaça aquele critério, mas existem instâncias em que ela não é o melhor mecanismo para avaliar uma dada habilidade. Então, haverá momentos em que um projeto, um trabalho, uma discussão ou outra atividade funcionará melhor como forma de avaliar”, explica.
Para realizar essas mudanças, a equipe do NDE desenvolveu uma metodologia chamada top-down, descrita recentemente em um artigo do periódico Education for Chemical Engineers. Nessa metodologia, o primeiro passo foi estabelecer qual seria o perfil do egresso que o curso gostaria de formar e as competências técnicas e socioemocionais desejadas. A elaboração das disciplinas, por sua vez, só ocorreu no último momento, sendo que todas as etapas contaram com a colaboração ativa do corpo docente da FEQ.
Atualmente, o currículo novo e o tradicional estão sendo oferecidos paralelamente e apenas a disciplina de Modelagem em Engenharia I – voltada para ensinar os estudantes a descreverem fenômenos matematicamente – está disponível na nova grade. A expectativa é que até 2025 a distribuição das disciplinas se equipare, com a meta de, até 2029, haver somente o currículo novo em oferecimento.