Projeto reforça a importância da atuação da universidade em comunidades de alta vulnerabilidade social
O livro Extensão universitária na Vila Paula, lançado pela Editora da Unicamp e assinado por Rubens Bedrikow, pesquisador e professor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, é voltado para estudantes e docentes interessados em práticas integradoras entre ensino e extensão.
Na obra, o autor apresenta o projeto social desenvolvido na periferia da cidade de Campinas e enumera procedimentos que poderão ser seguidos em outros projetos de extensão da Universidade.
Jornal da Unicamp – Como o resultado de um trabalho de extensão pode ser incorporado às ações de ensino e pesquisa dentro da universidade?
Rubens Bedrikow – Extensão é uma das missões universitárias que melhor interagem com os demais setores da sociedade. Atuando em proximidade com as diferentes comunidades, é aquela que mais facilmente escuta as suas demandas. Ao realizar ações de extensão, as trocas entre docentes e alunos – ensino-aprendizagem – acontecem naturalmente. Nesse processo, é fundamental que os dois atores interajam entre si.
O diálogo com grupos sociais externos à universidade acarreta indagações e inquietações, de forma que muitos temas de pesquisa emergem espontaneamente das práticas decorrentes das atividades de extensão. Essas observações evidenciam e reforçam o que reza o artigo 207 da Constituição Federal no que se refere à indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
JU – Como a experiência da Vila Paula pode ser expandida para outras comunidades?
Rubens Bedrikow – Acredito que há muitos aspectos da experiência da Vila Paula que podem ser aproveitados em outras experiências de extensão, tais como as estratégias de aproximação de outras comunidades, a flexibilidade diante do imprevisível, a capacidade de mudar de rumo a qualquer momento, entendendo que fazer diferente não significa dar errado. É preciso ter abertura para novas interações e práticas pedagógicas.
JU – Quais os principais entraves, dentro e fora da universidade, para o aumento e o aprimoramento dos trabalhos de extensão?
Rubens Bedrikow – Entraves importantes para o incremento do número de experiências e atividades de extensão decorrem do excesso de aulas e de conteúdos teóricos dos estudantes, o que deixa pouco tempo livre para outras atividades diferentes do ensino ou da pesquisa. Além desses, outros fatores que influenciam são a pouca experiência da maioria dos docentes com a questão da extensão e a valorização insuficiente desta nos relatórios que avaliam o desempenho dos docentes, pois ainda se dá valor muito maior às produções de pesquisas.
São entraves que podem ser reduzidos com ações da Universidade, como as diferentes formas de incentivo por parte da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura. Este ano, no final de junho, teremos dois congressos de extensão na Unicamp. É importante convidar a comunidade acadêmica para participar.
JU – Qual o público-alvo do livro? Ele pode servir para outras iniciativas nessa área?
Rubens Bedrikow – O principal público-alvo do livro são os docentes que cada vez mais se interessam por extensão, além de alunos e pessoas de outros setores da sociedade que desejam entender o papel da universidade junto a eles. O livro tem o potencial de levar conhecimentos teóricos sobre extensão universitária aos leitores e estimular a formulação e a execução de projetos e programas de extensão.
JU – O trabalho na Vila Paula está concluído? Quais os principais resultados dessa ação?
Rubens Bedrikow – Ficamos cinco anos interagindo com os moradores da Vila Paula. Aprendemos que não há fim, que as atividades podem seguir enquanto houver interesse para a comunidade e para a Universidade. Há cerca de um mês, quase todos os moradores tiveram que sair daquele território para que fosse urbanizado. Muitos saíram e não voltaram. Nossas atividades, contudo, não se restringem à Vila Paula. Pretendemos desenvolver atividades semelhantes em outras comunidades.