Desenvolvido no Instituto de Geociências, modelo barateia e agiliza a prevenção de deslizamentos de terra
Pesquisa desenvolvida no Instituto de Geociências (IG) da Unicamp chegou a um método que permite uma análise rápida e de baixo custo de áreas propensas a deslizamentos de terra, como o ocorrido em fevereiro em São Sebastião (SP), quando 57 pessoas morreram soterradas.
Elaborado pela estudante de mestrado Andrea Katerine Vallejo Quiceno, o método consegue identificar áreas suscetíveis a escorregamentos e, desse modo, possibilita melhor gestão de riscos de desastres, ações de remediação e remoção de populações, evitando danos mais severos à infraestrutura. O estudo foi desenvolvido na Bacia do Rio Guaratuba, no município de Bertioga, no litoral norte de SP, que é uma das bacias que drenam as escarpas do Planalto Atlântico, da Serra do Mar e da planície costeira antes do deságue nas praias.
O principal resultado da pesquisa é um mapa que identifica e delimita as áreas propensas a escorregamentos, complementando e reforçando a informação disponível sobre as regiões de interesse. De acordo com o orientador da pesquisa, o professor Jefferson Picanço, o método desenvolvido por Quiceno informa o local mais suscetível à ocorrência de escorregamentos rasos – que é quando o material se desprende do barranco e o talude começa a se movimentar – e à formação do fluxo de detritos, uma mistura de lama e materiais que desce pelos canais dos rios com grande energia e poder de destruição.
Segundo a avaliação dos pesquisadores, os fluxos de detritos provocam os desastres mais graves. Trata-se de mistura de sedimentos e água, impulsionada pela gravidade. Atinge mobilidade considerável do espaço vazio alagado, saturado com água ou lama, e apresenta alta velocidade de fluxo, além de uma força de impacto significativa e longo escoamento. Esse fluxo traz consigo uma energia associada que chega a ser 40 vezes superior à de uma enchente – quando o nível de água inunda uma casa, por exemplo, mas não chega a derrubar as paredes.
Deslizamentos rasos são movimentos de massa gravitacionais, caracterizados pelo deslocamento do solo ao longo de superfícies de ruptura relativamente pequenas e rasas. São geralmente de- sencadeados por chuvas extremas, mas podem se aglutinar e evoluir para um fluxo de detritos.
“O método desenvolvido pela Katerine serve para dizer quais são as áreas mais suscetíveis à ocorrência de escorregamentos e, depois que os fluxos de detritos vão para o rio, apontar o local em que cessa o seu movimento, indicação que hoje não se consegue mapear com precisão”, explica o professor. “Ele não ajuda no mapeamento de áreas muito grandes, como as de um município inteiro, mas indica áreas localizadas onde o trabalho deve ser concentrado. Esse método economiza esforços”, resume Picanço.
Na dissertação, a pesquisadora pon- dera que, apesar dos vários modelos e metodologias disponíveis para avaliar o movimento de massa, ainda existem algumas limitações devido às especificidades e condições de cada região de estudo. Isso, segundo ela, inclui fatores geológicos, ambientais, mecânicos, topográficos e antrópicos. E são esses fatores que influenciam no nível de precisão do método, dificultando uma previsão mais precisa de áreas propensas a deslizamentos.
“A novidade desse trabalho é a avaliação integrada da suscetibilidade. Existem outros métodos que foram testados para essa avaliação, mas agora estou integrando não só a avaliação de suscetibilidade de escorregamento raso como também a de fluxo de detrito. Estou juntando os métodos já conhecidos na literatura”, explica a pesquisadora.
As bases
A pesquisa desenvolvida por Quiceno teve como base o método Gides e o modelo Shalstab, sendo que este último avalia o potencial relativo para iniciação de deslizamentos rasos em terrenos íngremes, co- bertos com solo de baixa permeabilidade.
O Gides, por sua vez, é uma metodologia de mapeamento semiquantitativo desenvolvida e implementada pelos governos do Brasil e do Japão, como parte do “Projeto de Fortalecimento da Estratégia Nacional de Gestão Integrada do Risco de Desastres Naturais”. Foi ajustado e adaptado para o Brasil a partir de 2013 e é usado para mapeamento de perigos e para avaliação de risco de quatro fenômenos principais: falhas de encostas, deslizamentos de terra, fluxos de detritos e quedas de rochas.
Quiceno conseguiu também automatizar o processo para extração dos parâmetros morfométricos das bacias — como área, comprimento e redes de drenagens — a partir do Modelo Digital do Térreo (MDT).