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Estudos sobre essas partículas são fundamentais para compreender o que acontece no interior do Sol

Reprodução da capa de um livro.

Neutrinos solares são partículas elementares sem carga elétrica e de massa muito pequena produzidas na fusão de prótons no Sol. As pesquisas sobre essas partículas são importantes para entendermos mais sobre o astro e suas propriedades. No livro Neutrinos solares e o Método Científico, lançado pela Editora da Unicamp, o autor Pedro Cunha de Holanda, professor do Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW) da Unicamp, recorre às pesquisas em física de neutrinos para reportar controvérsias acerca do método científico, abordando tópicos como falseabilidade de hipóteses e valores na ciência. O livro tem, portanto, dois enfoques paralelos, uma vez que intercala o apanhado histórico com discussões pontuais acerca da Filosofia da Ciência.

Jornal da Unicamp – Como e por que nasceu seu interesse pela pesquisa em neutrinos?

Pedro Cunha de Holanda – Eu já estava cursando o terceiro ano do bacharelado em Física na Unicamp quando me matriculei em uma disciplina eletiva sobre a física de partículas elementares, lecionada pelo professor Marcelo Guzzo. Acredito que fui fisgado pela beleza do formalismo matemático e pelo fato de essa área de pesquisa tentar responder a questões realmente fundamentais. Guzzo acabou se tornando meu orientador de pós-graduação e, como ele trabalha com neutrinos, acabei me envolvendo também com essa partícula.

JU – Como foi o processo de escrita do livro?

Pedro Cunha de Holanda – A ideia de escrever o livro começou pelo meu interesse em me aprofundar nos fundamentos do método científico e, aos poucos, comecei a colocar alguns elementos de Filosofia da Ciência em meus seminários de divulgação. Sempre que eu lia algo sobre isso, percebia que a pesquisa em neutrinos solares fornece ótimos exemplos ilustrativos. Daí a ideia do livro surgiu, mas ficou hibernando por algum tempo. Foi com a pandemia, recluso em casa, que pude dedicar um tempo maior à escrita. Grande parte do processo de escrita foi tomada pela leitura de textos de Filosofia da Ciência e uma busca por detalhes históricos das pesquisas em neutrinos solares. Como não tenho muita experiência em escrever textos longos de divulgação científica, houve muitas idas e vindas até encontrar o melhor formato e o encadeamento de ideias que eu pretendia apresentar.

JU – A obra é instrutiva e acessível, de linguagem clara e não hermética. Qual é seu público-alvo?

Pedro Cunha de Holanda – Fico muito feliz com essa observação. Acredito que o público-alvo principal sejam as pessoas com interesse em ciência, mesmo as que não possuem, necessariamente, um treino formal na atividade científica. A leitura de um livro de divulgação científica permite ao leitor um tempo para refletir sobre temas complexos, além de se aprofundar em temas de pesquisa atuais. Com Neutrinos solares e o método científico, desejo também dar ao leitor que tem vontade de se aprofundar em um texto de divulgação uma opção de fazê-lo com mais calma.

JU – O Brasil participa de um dos maiores projetos científicos da atualidade (Dune – Deep Underground Neutrino Experiment), que tem como objetivo descobrir novas propriedades dos neutrinos. Quão promissora é a pesquisa brasileira em neutrinos?

Pedro Cunha de Holanda – Os experimentos de neutrinos são de uma escala que faz com que esses projetos quase sempre sejam conduzidos conjuntamente por vários institutos de pesquisa de diversos países diferentes. Por isso, a inserção internacional é fundamental para fazer pesquisa experimental nessa área. Os grupos brasileiros têm alcançado essa internacionalização e são parte integrante de várias colaborações experimentais. Eu diria para os jovens pesquisadores brasileiros que a pesquisa em neutrinos é promissora. Estamos atravessando um tempo em que o financiamento requer atenção, mas vejo com otimismo a retomada desse cuidado das agências de fomento brasileiras com a pesquisa fundamental.

Foto de um homem de pé em um laboratório. Ele é branco, tem cabelo curto, barba e bigode grisalhos. Está usando camiseta polo branca e está segurando um livro.
O físico Pedro Cunha de Holanda, autor do livro: “Percebi que a pesquisa em neutrinos solares fornece ótimos exemplos ilustrativos” (Foto: Divulgação)

JU – O senhor acredita que os programas de pesquisa em neutrinos poderão, em breve, obter respostas para questões que continuam em aberto?

Pedro Cunha de Holanda – Algumas das questões em aberto em física de neutrinos devem ser respondidas pelo Dune ou por outros grandes experimentos, como o Hyper-Kamiokande ou o IceCube. A comunidade científica já sabe o que deve fazer e está com a perspectiva de obter essas respostas na próxima década. Outras questões, porém, ainda se colocam como enigmas, como o problema dos neutrinos de reatores ou os indícios de uma quarta família de neutrinos. Esses problemas são mencionados no livro. Acredito que na próxima década teremos uma compreensão melhor desses enigmas, mas não me arrisco a apontar se as soluções virão da constatação de problemas nos experimentos ou na formulação de boas hipóteses teóricas. Esse é o encanto da pesquisa científica: se já soubéssemos a resposta, não teríamos razão para continuar pesquisando.

JU – Seu livro poderá despertar o interesse de jovens pela área e contribuir para a continuidade das pesquisas no país?

Pedro Cunha de Holanda – Espero que sim. Eu diria que atrair pesquisadores para a física de neutrinos não é o principal objetivo do livro, mas sim, como você colocou na sua pergunta, criar no leitor o interesse pelas grandes questões científicas. Esse envolvimento nem precisa ser profissional, pois um letramento em questões científicas por parte da população que não faz ciência é tão fundamental quanto produzir bons pesquisadores. Resumindo, em momentos de maior pretensão, eu gostaria que o livro contribuísse para que o ato de fazer ciência continuasse sendo uma atividade valorizada em nossa sociedade por todos, sejam profissionais da área ou não.

Título: Neutrinos solares e o método científico

Pedro Cunha de Holanda

Páginas: 160 Formato: 16x23cm

Editora da Unicamp

Composição com fotos de três capas de livros.
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