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Livro reúne coleção de arte pré-colombiana de Rogério Cezar de Cerqueira Leite

Composição com três imagens de esculturas de cerâmica.
Algumas das peças da coleção de arte pré-colombiana de Cerqueira Leite: livro reúne fotos, descrições e análises de 794 artefatos (Fotos: Divulgação)

Quando Cristóvão Colombo chegou ao Caribe, em 1492, dando início ao domínio colonial europeu nas Américas, o que havia no continente estava longe de ser um novo mundo a ser explorado. Uma rica diversidade cultural existia por aqui, algo que se manifesta na herança dos povos originários presente em  elementos imateriais, como os saberes ancestrais e o folclore, e em artefatos que revelam como as sociedades organizavam seus próprios mundos.

Fragmentos desse universo cultural estão reunidos no livro Arte e Arqueologia da América Indígena, lançado em parceria pelas editoras Splendit PUC-Campinas e da Unicamp. Organizada por Alexandre Guida Navarro e Denise Cavalcante Gomes, a obra apresenta a coleção de arte pré-colombiana de Rogério Cezar de Cerqueira Leite, professor emérito da Unicamp e um dos fundadores de unidades como o Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW), do qual foi diretor por duas vezes, e o Instituto de Artes (IA), que também esteve sob seu comando.

O livro reúne fotos, descrições e análises de 794 artefatos, dos quais 599 são peças inteiras e 195, fragmentos de estatuetas, esculturas, vasos e peças de cerâmica das Américas. São peças originárias de civilizações como os Olmecas, Astecas e Maias, do México e América Central; o Império Inca, no Peru; e os Mapuche chilenos. Dos povos originários do território brasileiro, a coleção reúne artefatos dos povos Marajoara, Pocó, Mazagão e Tupi-Guarani.

Textos introdutórios de historiadores, antropólogos e arqueólogos enriquecem a leitura, com análises sobre os ensinamentos que as cosmovisões pré-colombianas podem trazer à sociedade contemporânea. Professor titular do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, Pedro Paulo Funari argumenta a respeito da importância da coleção como prova da diversidade presente na América Latina. Entre os artigos da publicação, Denise Gomes reflete sobre o simbolismo de gestos e danças retratados nos artefatos. Já Alexandre Navarro explora algumas das mais novas perspectivas dos estudos arqueológicos, que põem de lado a ideia de uma supremacia humana frente a outros seres. Nas palavras do organizador, trata-se de “um enfoque de um ser humano ‘humilde’ e mais companheiro de outras espécies que também povoam o mundo”. O prefácio foi escrito por Marcelo Knobel, ex-reitor da Unicamp.

Reprodução da capa de um livro que traz a foto de uma escultura de cerâmica.
A capa do livro: parceria editorial inédita (Foto: Divulgação)

Arte e ciência

A extensa carreira de Cerqueira Leite não ficou restrita  aos muros da Unicamp. Doutor em Física de Sólidos pela Universidade de Paris-Sorbonne (França), ele lecionou também no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), na própria Sorbonne e foi pesquisador da Bell Laboratories, nos Estados Unidos. Hoje, é presidente de honra do Conselho de Administração do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). Apesar de uma atuação próxima da engenharia e das ciências em geral, sua ligação com as artes manteve-se permanente. “Sempre tive um grande interesse por música, antes mesmo de manifestar meu apreço pelas artes plásticas. Ter uma grande ligação com as artes visuais, com o teatro, com a música é algo natural para mim.”

Para ele, o apreço pelas artes aprimora a produção científica. “O pesquisador que tem uma formação humanística ampla consegue fazer ciência com mais ideias progressistas, tornando-a mais humanista”, afirma. Hoje, seu grande acervo, formado ao longo de mais de 40 anos, inclui itens chineses, indianos, africanos, sírios e da Oceania, somando em torno de 4 mil artefatos.

Os reitores da Unicamp e da PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas), Antonio José de Almeida Meirelles e Germano Rigacci Junior, respectivamente, celebram a parceria editorial inédita e ressaltam a importância da obra para a difusão cultural. Eles também enfatizam o papel de Cerqueira Leite no desenvolvimento científico da região de Campinas, que sempre beneficiou as duas instituições. “Este livro é uma prova inequívoca de mais uma faceta de Cerqueira Leite:  seu amor pelas artes em geral. Ao descortinar ao leitor parte de seu rico acervo amealhado durante décadas, o cientista faz jus ao seu papel histórico e acadêmico”, afirmam os dirigentes em carta publicada no livro.

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