Índia interrompe experimento de “ressurreição”
O controverso experimento “ReAnima”, que tentaria produzir sinais mínimos de atividade cerebral em cadáveres humanos, foi interrompido pelo Conselho Indiano de Pesquisa Médica, informa o site da revista Science. O “ReAnima” havia sido lançado em maio, quando o ortopedista Himanshu Bansal anunciou seu plano de tratar 20 cadáveres com injeções de proteínas, células-tronco, estimulação transcranial por raios laser e estimulação nervosa por impulsos elétricos.
A nota na Science lembra que, em entrevistas à mídia, Bansal havia declarado que seu objetivo era trazer os mortos a um “estado de consciência mínima”. O projeto, que não chegou à fase prática, recebeu diversas críticas, entre elas a de que a combinação de procedimentos proposta ainda não havia sido testada, nem mesmo, em animais. Ao anunciar sua ordem de cancelamento, o Conselho de Pesquisa Médica apontou uma série de irregularidades no projeto.
Embrião interativo
A elaboração de um atlas interativo da anatomia do embrião humano, e de seu desenvolvimento durante os primeiros dois meses de gestação, é descrita na edição mais recente da revista Science. O trabalho, conduzido por pesquisadores holandeses, usou mais de 15 mil amostras de embriões da Coleção Carnegie de espécimes embrionários humanos. Foram identificados cerca de 150 órgãos e estruturas, com posição rastreada ao longo do processo de desenvolvimento. O atlas permite apontar diversas diferenças significativas entre o embrião humano, o do camundongo e o da galinha, que costumam ser usados como modelos em estudos. O artigo sobre o novo mapa interativo está disponível gratuitamente no site da revista: www.sciencemag.org .
Gravidade do terremoto
A detecção de flutuações no campo gravitacional da Terra poderia ser usada como sistema de alerta prévio de terremotos, propõe artigo publicado em Nature Communications, periódico online do Grupo Nature. Atualmente, os alertas de terremoto dependem da detecção de ondas sísmicas, produzidas após a ruptura causadora do tremor. Já a flutuação da gravidade ocorre durante a ruptura, e pode ser percebida antes da chegada da onda sísmica.
O estudo publicado analisa dados do terremoto, seguido de tsunami, que atingiu a região de Tohoku-Oki no Japão em 2011, com magnitude 9. Os autores, de instituições da França, Itália e Estados Unidos, determinaram que um sinal de flutuação gravitacional, acima do ruído de fundo, pode ser identificado nos registros.
Nota distribuída pela Nature Communications adverte que a aplicação dessa descoberta em situações reais ainda requer o desenvolvimento e teste de novos instrumentos. No artigo, os autores escrevem que “a detecção robusta com gradiômetros de gravidade, ainda em desenvolvimento, poderá abrir novas direções na sismologia de terremotos, e superar limitações fundamentais dos sistemas atuais de alerta de terremoto”.
Estudo contra o estresse
Que pessoas submetidas a situações de estresse – como provas decisivas – tendem a ter mais dificuldade em lembrar informação decorada, todo vestibulando sabe. Mas uma pesquisa publicada na revista Science sugere que uma técnica especial de estudo facilita a rememoração, mesmo em condições estressantes: depois de estudar um assunto, esforçar-se em relembrar os pontos vistos, mas em princípio sem rever ou reler material original.
O trabalho, de autoria de pesquisadores da Universidade Tufts, em Boston (EUA), comparou o desempenho, sob estresse, de voluntários que se dispuseram a tentar decorar listas de palavras e imagens por meio de uma estratégia comum – relendo-as ou revendo-as seguidas vezes – ou pelo método de “treino de memória”, esforçando-se para lembrar o conteúdo. O segundo grupo se saiu melhor.
“Participantes que aprenderam por estudo repetido demonstraram o típico prejuízo causado na memória pelo estresse”, diz o artigo. “Já os que aprenderam pelo treino de rememoração ficaram imunes aos efeitos deletérios do estresse. Estes resultados sugerem que os efeitos do estresse no acesso à memória podem ser contingentes à força das representações de memória em si”.
Guerra e tuberculose
Colapso de governos, conflitos armados e o deslocamento forçado de grandes massas humanas ajudam a explicar a disseminação e o aumento da resistência a antibióticos de uma variedade da bactéria causadora da tuberculose, diz artigo publicado no periódico PNAS. Pesquisadores dos Estados Unidos e da Europa usaram informações genéticas para acompanhar a dispersão da clade centro-asiática (CAC) da Linhagem 2 da bactéria Mycobacterium tuberculosis.
O trabalho sugere que essa variedade foi introduzida no Afeganistão durante a invasão russa de 1979-1989, e espalhou-se em meio aos deslocamentos populacionais causados pela invasão americana de 2001. Além disso, escrevem os autores, “nossos resultados indicam que a queda da União Soviética e o subsequente colapso de sistemas de saúde pública levaram à elevação da resistência a drogas na M. tuberculosis”.
Racionalidade é dever moral?
Um conjunto de oito estudos, consolidado em artigo publicado no periódico online PLoS ONE, propõe uma nova dimensão da personalidade humana, a Escala de Racionalidade Moralizada (MRS, na sigla em inglês), que avalia o quanto uma pessoa considera que usar lógica e evidência na formação de crenças é uma virtude – e obrigação – moral, como não roubar ou não mentir.
Os autores, psicólogos baseados nos Estados Unidos e Reino Unido, afirmam que a MRS é estável, consistente e se articula com outras posturas – por exemplo, um algo grau de MRS tem correlação negativa com religiosidade e crença no paranormal. Além disso, pessoas com alto MRS tendem a ver os que mantêm crenças consideradas irracionais como menos morais, buscam se afastar dessas pessoas e, em certos casos, gostariam de vê-las punidas.
“A intensidade e persistência com que crenças tradicionais são defendidas contra conclusões científicas parte, acredita-se, da ligação íntima dessas crenças com os valores morais centrais das pessoas”, escrevem os autores. “No entanto, não são apenas os defensores moralmente motivados das crenças tradicionais que têm sido caracterizados como intolerantes nos debates. Defensores da ciência também já foram chamados de estridentes, raivosos e intolerantes”.
O artigo sugere que essa ligação entre racionalidade e moral pode explicar a estridência de certos esforços a favor de conclusões científicas. Os autores apontam que a MRS é distinta de uma mera medição do grau de importância que o indivíduo dá à racionalidade. O artigo pode ser lido em http://www.journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0166332.
Motor ‘mágico’ passa em teste
O chamado “EM Drive” (sigla em inglês para “motor eletromagnético”), uma intrigante tecnologia que parece produzir impulso sem consumir combustível – e que é saudada como uma possível alternativa para missões futuras ao espaço distante – passou por um importante teste: a descrição de um experimento em que um modelo de EM Drive é testado no vácuo, com sucesso, foi publicada num periódico com revisão pelos pares.
O artigo “Measurement of Impulsive Thrust from a Closed Radio-Frequency Cavity in Vacuum”, de autoria de pesquisadores da Nasa, foi aceito pela publicação Journal of Propulsion and Power, e está disponível online (em http://arc.aiaa.org/doi/full/10.2514/1.B36120 ). A configuração básica de um EM Drive consiste de uma cavidade com forma de cone truncado, dentro da qual ricocheteiam ondas eletromagnéticas, como micro-ondas.
Já que todas as interações permanecem confinadas ao interior do cone, o EM Drive aparentemente viola a Terceira Lei de Newton: ele produz impulso à frente sem “empurrar” nada para trás. Por conta disso, muitos especialistas são céticos quanto ao real funcionamento desse motor.
O EM Drive, no entanto, consome energia, já que eletricidade é necessária para manter a atividade eletromagnética em seu interior. Para viagens espaciais, no entanto, o fato crucial é que ele não consome propelente – o combustível que é queimado e ejetado pelos foguetes tradicionais, ou os íons que são expelidos na propulsão eletromagnética tradicional.
A necessidade de propelente é um limitador importante para a exploração espacial, já que cada nave precisa levar, além do combustível para mover a massa de sua carga útil, combustível extra para mover a massa do combustível que carrega. Um EM Drive, podendo funcionar apenas com uma bateria, energia solar ou um gerador nuclear, representaria um enorme avanço para viagens no vácuo.
Testes anteriores do EM Drive haviam sido realizados no ar, o que levou à sugestão de que o impulso medido seria causado por variações na temperatura do meio circundante. O novo trabalho, realizado no vácuo, parece eliminar essa possibilidade. Ainda assim, o efeito do motor é minúsculo: um motor iônico comum gera um impulso 50 vezes maior que o detectado no experimento. Ainda assim, a causa da aparente eficácia do EM Drive no vácuo segue inexplicada: os autores do artigo sugerem que ele funcionaria “empurrando” as flutuações quânticas do espaço vazio, o que, embora seja altamente especulativo, ao menos preserva a lei de ação e reação.