Unicamp integra consórcio internacional que busca soluções computacionais para combater fraudes em fotos e vídeos
Projeto de pesquisa co-coordenado pelo professor Anderson Rocha, do Instituto de Computação (IC) da Unicamp, acaba de ser aprovado para integrar um esforço internacional voltado ao desenvolvimento de soluções computacionais capazes de identificar falsificações em fotos e vídeos, bem como determinar de que maneira foram manipuladas. Os estudos, financiados pela Defense Advanced Research Projects Agency (DARPA), dos Estados Unidos, serão desenvolvidos por cientistas vinculados a sete universidades. A DARPA está investindo US$ 4,4 milhões no projeto, intitulado “MediFor: Análise de Integridade Forense Multimídia”.
Além da Unicamp, participam das pesquisas as universidades de Notre Dane, Purdue, Nova York e Southern Califórnia (Estados Unidos), além de Siena e Politécnica de Milão (Itália). O coordenador geral do projeto é o professor Edward Delp, da Purdue University. Segundo o professor Rocha, cada equipe ficará responsável por uma linha mestra de investigação, mas os trabalhos serão desenvolvidos de forma colaborativa. “O programa terá duração até 2020. Nesse período, faremos reuniões semanais por teleconferência e teremos alguns encontros presenciais, para que possamos trocar experiências e nos inteirarmos sobre o andamento de cada estudo”, informa.
O docente está atualmente na Universidade de Notre Dame, onde cumpre ano sabático com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Lá, paralelamente a outros trabalhos, ele desenvolve pesquisas relacionadas à identificação de fraudes em imagens e vídeos. “A Unicamp e a Universidade de Notre Dame ficarão responsáveis pelas pesquisas numa nova área, denominada filogenia multimídia. Dito de forma simplificada, nós vamos desenvolver soluções computacionais não somente para detectar imagens falsas, mas também para determinar como elas foram geradas e apontar o histórico dos acontecimentos relacionados a essas imagens”, adianta.
Para tornar a explicação ainda mais clara, o docente do IC-Unicamp se vale de um exemplo. Imagine-se que alguém manipulou uma fotografia e montou um quadro no qual uma pessoa famosa aparece ao lado de um conhecido traficante. Depois, divulgou tal imagem na internet. “Através das técnicas proporcionadas pela filogenia multimídia, nós temos como verificar se o documento foi fraudado, de que forma foi manipulado e, dependendo do caso, onde e por quem ele foi gerado”, completa o professor Rocha.
O especialista observa que a tarefa dos pesquisadores envolvidos nesse esforço internacional contra a falsificação de imagens e vídeos é bastante complexa. Primeiro, porque o desafio exige o desenvolvimento de tecnologias altamente sofisticadas, algumas delas utilizadas de forma combinada. Segundo, porque, a cada solução encontrada, os fraudadores buscam novos métodos para aperfeiçoar as adulterações. “É uma disputa de armas ou, em português claro, de gato e rato”, define o docente.
Como o embate é para gente grande, os cientistas caçadores de fraudes têm combinado competência com criatividade para fazer frente aos falsificadores. Pesquisadores da Universidade de Nova York, por exemplo, propõem fazer a identificação de fraudes em vídeos por meio da análise da corrente elétrica. “Quando carregamos a bateria de uma câmera, ela obviamente recebe uma carga elétrica. Esse processo deixa uma assinatura única. No momento da gravação, o vídeo pode ser afetado por esse processo, visto que a rede elétrica de uma cidade como Campinas é diferente da rede elétrica de Londres. Cada uma tem um tipo de comportamento, um tipo de oscilação. Essa especificidade aparece no momento da geração do vídeo e pode ser identificada”, detalha o professor Rocha.
Um aspecto importante do programa financiado pela DARPA, conforme o docente do IC-Unicamp, é que existe o compromisso de tornar pública cada solução encontrada. “À medida que novos métodos e ferramentas forem desenvolvidos, eles serão disponibilizados gratuitamente na internet, para que a sociedade possa utilizá-los”, diz. Outro ponto destacado pelo docente são as oportunidades geradas por esse tipo de consórcio de pesquisa.
Além de abrir chances para que estudantes de pós-graduação cumpram parte de sua formação em uma das instituições participantes, a rede de relacionamento também cria perspectivas para a execução de outras pesquisas colaborativas. “Esse tipo de experiência gera um ambiente muito positivo para o desenvolvimento de vários outros estudos cooperativos, um ciclo virtuoso”, atesta o professor Rocha.
O fato de o Brasil, leia-se Unicamp, ter sido admitido nesse time internacional, entende o pesquisador, representa um reconhecimento à qualidade das investigações que têm sido conduzidas no país. “Isso demonstra que estamos dialogando de igual para igual com alguns dos melhores grupos de pesquisa do mundo”, avalia o professor Rocha. A afirmação do docente está baseada na experiência acumulada com estudos em Aprendizado de Máquina, Computação Forense e Inferência em Dados Complexos do qual faz parte o Laboratório de Inferência em Dados Complexos (RECOD), no IC-Unicamp, que conta com mais quatro professores. O grupo tem buscado novas opções para serem utilizadas pela computação forense.
Nesse período, além de desenvolver métodos e ferramentas, Rocha e sua equipe têm realizado trabalhos colaborativos com diversas instituições, entre elas a Polícia Federal, por meio do Instituto Nacional de Criminalística. Em entrevista recente ao Jornal da Unicamp, Rocha avaliou que o Brasil tem adotado boas práticas para estimular a pesquisa no âmbito da investigação forense. Em 2014, por exemplo, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência de fomento vinculada ao Ministério da Educação, lançou edital por meio do qual foram selecionados 15 projetos forenses nas áreas de computação, biologia, química etc.
Os objetivos são desenvolver estudos originais e formar recursos humanos qualificados para auxiliar a Polícia Federal e outras entidades nas suas investigações. Esses projetos temáticos estão divididos entre diversas instituições do país e o IC/Unicamp conta com dois deles, um em Multimídia Forense, intitulado DeepEyes: Soluções de Computação Visual e Inteligência de Máquina para Computação Forense e Vigilância Eletrônica, coordenado pelo professor Rocha, e outro em Informática Forense, coordenado pelo professor Ricardo Dahab.
De acordo com o docente do IC-Unicamp, a promulgação do marco civil da internet, em 2014, deverá alavancar o uso dessas metodologias científicas para subsidiar eventuais decisões judiciais. “O grupo da Unicamp é o mais atuante no país na área da computação forense. Temos desenvolvido estudos importantes e mantido relações de cooperação com destacados grupos estrangeiros. Um dos nossos objetivos é implantar oportunamente na Universidade um Laboratório Multidisciplinar de Análise Forense, cujo projeto tem sido discutido desde 2012”, pontua o professor Rocha.