Paulo César Montagner

Nasci em 22 de novembro de 1963, sendo o segundo filho de uma afetuosa e numerosa família. Em 22 de julho de 1989, casei-me com Denise, e a chegada dos nossos amados filhos, João Vitor e Isabela, tornou-se um momento especial em nossas vidas. Estudei em escolas públicas e, em 1984, graduei-me em educação física pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). A escolha foi certeira, pois o esporte sempre esteve presente em minha vida, especialmente o basquetebol, que me proporcionou muitas oportunidades como atleta na juventude e técnico da modalidade. Minha trajetória na FEF-Unicamp começou em 15 de maio de 1988, quando a faculdade ainda era jovem e enfrentava grandes desafios a serem implementados. Essas experiências do esporte foram fundamentais para o meu desenvolvimento como profissional da área na Universidade. Tornei-me mestre em filosofia da educação (1993) e doutor em educação física pela FEF (1999). Em 2015, obtive a livre-docência na área de esporte e treinamento e, em 2022, após aprovação em concurso público, fui promovido a professor titular.
Ao longo de minha trajetória na Unicamp, desempenhei diversas funções, como professor, pesquisador e administrador. Fui coordenador de graduação da FEF (2000-2006), diretor da FEF (2006-2010), coordenador técnico-científico do Centro de Estudos Avançados (Ceav) na área de esporte da Unicamp (2010-2013), diretor-executivo da Funcamp (2010-2014) e chefe do Gabinete do Reitor em duas gestões (2013-2017 e 2021-2025). Intensifiquei minha produção científica, publiquei artigos, livros e capítulos de livros, coordenei projetos de pesquisa e integrei redes internacionais, como a International Basketball Research Network (IBRN). Orientei teses de doutorado, dissertações de mestrado, projetos de iniciação científica (IC) e mais de uma centena de trabalhos de conclusão de curso (TCCs). Além disso, atuei como consultor e membro de conselhos editoriais em periódicos e agências de fomento.
Temas em debate
JU – A universidade pública passou, nos últimos anos, por profundas transformações. Nesse contexto, quais são, em sua opinião, os maiores desafios que estão por vir e de que forma irá enfrentá-los?
Paulo César Montagner – Com as ações de inclusão tomadas nos últimos anos, a Unicamp vem se tornado uma universidade cada vez mais plural. E, para lidar com a pluralidade, é preciso que se valorizem as diferenças e a promoção de formas de fazer ciência, em que a multiplicidade de perspectivas e de pontos de vista viabilize sempre o pensamento livre e questionador. Nesse sentido, precisamos buscar a constante ampliação dos espaços de diálogos internos, por meio do engajamento participativo, crítico e integrado com as diversas instâncias do nosso meio acadêmico, buscando continuamente aprimorar os mecanismos que possibilitam a democratização constante dos seus espaços institucionais, e valorizar, de modo crescente, nossas instâncias consultivas e deliberativas, pois são nelas que ocorrem os debates e decisões que legitimam as nossas ações acadêmicas e administrativas.
Pretendemos também dar continuidade a uma relação de parceria crescente com a sociedade, sem a qual a Universidade perde sua própria razão de existir. Para tanto, devemos manter uma política institucional de ações que visem promover e ampliar a presença constante da Unicamp em diversos setores da sociedade, assim como a presença desta na nossa instituição, procurando, sempre, meios inovadores de produzir conhecimento que possam contribuir, de diferentes formas, para melhorar a realidade social como um todo.
JU – A política nacional foi marcada, nos últimos anos, por disputas renhidas entre dois pólos ideologicamente antagônicos, cujas diferenças acentuaram-se ainda mais nas últimas eleições. De que forma a sua gestão pretende interagir com as diferentes instâncias de governo?
Paulo César Montagner – Uma das marcas de nossa atuação sempre foi a capacidade de diálogo com diferentes atores institucionais, a partir de uma referência política clara e bem definida. Essa postura nos fez tanto estabelecer um conjunto de ações com diversas prefeituras da região, com diferentes secretarias de Estado desta e de outras gestões do governo estadual, assim como em muitos ministérios do governo federal. Nossa meta é consolidar e ampliar esse diálogo, inclusive com uma estratégia de demonstração dos benefícios sociais, políticos e culturais da universidade e, especialmente, da Unicamp no contexto de diálogo com essas diferentes esferas de governo.
JU – O aumento da diversidade no perfil de alunos ingressantes trouxe novos desafios relacionados à permanência na Universidade, seja no que diz respeito aos aspectos pedagógico e de recursos financeiros, seja no caso de necessidades específicas. Como o(a) sr.(a) pretende combater e diminuir a evasão?
Paulo César Montagner – As demandas profissionais advindas do mundo do trabalho exigem uma formação que envolva as distintas áreas do conhecimento, e por isso a Unicamp procura garantir experiências acadêmicas transformadoras – tanto para a comunidade interna, quanto para toda a sociedade. Em relação ao corpo discente, os cursos de graduação podem avançar no sentido de ampliar suas dimensões formativas, articulando o conjunto de conhecimentos científicos das respectivas áreas, as potencialidades dos projetos interdisciplinares de ensino, os espaços de vivência dos campi e as manifestações culturais e artísticas que fazem parte de nosso cotidiano. Isso pode contribuir bastante para reforçar o sentimento de pertencimento à instituição, assim como desenvolver no corpo estudantil da universidade posturas de respeito coletivo ao bem público comum. Nesse sentido, o desafio dos cursos de graduação é formar, integralmente, estudantes engajados/as com suas futuras áreas de atuação, fortalecendo o princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, ao mesmo tempo que busca desenvolver suas competências e habilidades profissionais baseadas em princípios de uma sociedade diversa, justa e democrática.
De forma mais específica, nossa proposta de gestão trabalhará no diagnóstico e nas causas de evasão estudantil a partir de novos métodos pedagógicos de acompanhamento e de apoio aos/às estudantes que possuem sua base acadêmica de ensino médio defasada. Ainda quanto ao aspecto pedagógico, visamos fortalecer o Programa de Planejamento Acadêmico, inicialmente no âmbito do ensino de matemática e língua portuguesa, em parceria com docentes da rede pública de ensino. No que diz respeito à política de permanência estudantil, asseguraremos bolsas relacionadas aos auxílios sociais na Unicamp, contemplando estudantes mais vulneráveis, e daremos continuidade ao processo de melhoria e ampliação da moradia estudantil.
JU – A pós-graduação enfrenta uma crise sem precedentes no país, com uma queda na procura e, consequentemente, no número de ingressantes. Na Unicamp, guardadas as proporções, o cenário não é diferente. Quais são os seus planos para a área?
Paulo César Montagner – A redução bastante considerável do número de estudantes de pós-graduação no Brasil e, particularmente, na Unicamp é algo que nos preocupa bastante. Para buscar enfrentar essa situação, consideramos importante: a) continuar fortalecendo nossas políticas de inclusão, procurando aprofundá-las e torná-las mais efetivas, com base no aprendizado acumulado nos últimos anos, para ampliar o impacto social e acadêmico dessas políticas; b) ampliar relevância da pós-graduação da Unicamp na redução das desigualdades regionais e institucionais, por meio de parcerias estratégicas e da formação de redes de colaboração com outros programas de pós-graduação (PPGs); c) fomentar iniciativas que consolidem a liderança regional, especialmente no Cone Sul, e ampliem a influência global por meio de cooperações internacionais com instituições de reconhecido prestígio. Isso inclui a criação de programas de pós-graduação internacionais; d) encarar a extensão como estratégia para modernizar e democratizar a formação dos nossos futuros docentes, pesquisadores/as e profissionais de pesquisa, desenvolvimento e inovação; e) reafirmar o compromisso da Unicamp com a oferta de disciplinas presenciais, sem renunciar às oportunidades oferecidas pelas transformações digitais e inovações tecnológicas em andamento; f) ampliar e estreitar as colaborações entre os diferentes órgãos da administração central da Universidade, especialmente PRP, Inova e Proeec, fortalecendo uma governança integrada e que potencialize os recursos e iniciativas institucionais; g) promover o diálogo para identificar e pleitear demandas comuns junto à Capes e outros órgãos de fomento correspondentes; h) viabilizar cursos multicêntricos de pós-graduação, envolvendo diferentes unidades de ensino, pesquisa e extensão e/ou universidades; i) oferecer programas de pós-graduação em inglês; j) facilitar cooperações internacionais e flexibilizar currículos para atender a públicos globais.
JU – Quais são suas propostas para ampliar e fortalecer a participação da Unicamp em projetos cooperativos de pesquisa, nos âmbitos nacional e internacional, que contemplem temas prementes e os principais desafios contemporâneos?
Paulo César Montagner – A Unicamp tem intensificado a construção de redes de colaboração em vários âmbitos. Bons exemplos são os editais conjuntos com a USP e a Unesp em pesquisa e extensão. O intercâmbio de estudantes e a ampliação de convênios de cooperação internacional sul-sul também são ações importantes. Houve também expressiva participação dos PPGs em editais internacionais. Essas ações consolidam a Unicamp como referência em inclusão, excelência acadêmica e internacionalização. Para ampliar as interações, pretendemos: assegurar a continuidade e o crescimento dos programas de pós-graduação de excelência; aprofundar e tornar mais efetivas as iniciativas de inclusão para ampliar o impacto social e acadêmico dessas políticas; ampliar o protagonismo da pós-graduação da Unicamp na redução das desigualdades regionais e institucionais por meio de parcerias estratégicas e redes de colaboração com outros PPGs; fomentar iniciativas que consolidem a liderança no Cone Sul e ampliem a influência global por meio de cooperações internacionais com instituições de reconhecido prestígio; promover debates sobre a Política Nacional de Pós-Graduação, buscando adequá-la às demandas contemporâneas da sociedade; encarar a extensão como estratégia para modernizar e democratizar a formação dos nossos futuros docentes, pesquisadores/as e profissionais de pesquisa, desenvolvimento e inovação; reafirmar o compromisso da Unicamp com a oferta de disciplinas presenciais, sem renunciar às oportunidades oferecidas pelas transformações digitais e inovações tecnológicas; ampliar as colaborações entre os diferentes órgãos da administração central da Universidade, PRP, Inova e Proeec, fortalecendo uma governança integrada e que potencialize recursos e iniciativas institucionais; promover o diálogo para identificar e pleitear demandas junto à Capes e a outros órgãos de fomento; viabilizar cursos multicêntricos de pós-graduação, envolvendo diferentes unidades de ensino, pesquisa e extensão e/ou universidades.
JU – Que avaliação o(a) sr.(a) faz sobre as relações da Universidade com as diferentes esferas da sociedade e o papel da extensão nesse contexto? De que forma o(a) sr.(a) pretende incrementá-las?
Paulo César Montagner – Dentre as atividades-fim, a extensão universitária apresenta-se como singular e única, sendo a dimensão que melhor cumpre o papel social da Universidade. Na atual gestão, a Proeec ampliou as políticas de extensão democráticas, populares e inclusivas por meio de diversos mecanismos de ações – explicitados nos editais inovadores de cunho inclusivo e nas ações pioneiras na Unicamp –, tais como aqueles direcionados para ações afirmativas, de saberes indígenas, de tecnologia para inclusão social, de cursos de extensão a distância, de extensão para colégios técnicos da Unicamp. Nossa meta é continuar e ampliar essas e outras ações, com foco na indissociabilidade entre ensino-pesquisa-extensão, interdisciplinaridade e interprofissionalidade, interação dialógica, impacto na transformação do corpo discente e impacto na transformação social de nossos parceiros encontrados na sociedade extramuro. Nesse sentido, as ações de extensão serão sempre direcionadas com base na noção de responsabilidade social, incorporando e ampliando as expertises de cada campo de conhecimento e tendo como base os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O conhecimento engendrado na Unicamp deve ser e será compartilhado com a sociedade que a mantém. A difusão do conhecimento será estimulada por meio de programas e edital de cunho extensionista, com a finalidade de gerar soluções destinadas à integração dos demais setores da sociedade, de colaborar tanto com o estabelecimento de políticas públicas e com soluções que melhorem a qualidade de vida da população, em particular daquela em situação de invisibilidade e de vulnerabilidade social. Nesse sentido, nossas ações de extensão buscam propiciar o diálogo e o trabalho conjunto com comunidades externas à Universidade, abrangendo assentamentos e parcerias tanto com prefeituras dos municípios que compõem os campi da Unicamp quanto com empresas públicas e privadas, de modo a proporcionar uma vivência ampla, diversa e democrática.
JU – Em que medida o seu programa de gestão contempla a diversidade do conjunto de servidores, dos técnico-administrativos aos docentes, e quais são as suas principais propostas no que diz respeito à valorização das carreiras e ao aprimoramento dos mecanismos de progressão?
Paulo César Montagner – Valorizar as carreiras é essencial para a excelência da Universidade, garantindo um ambiente de trabalho favorável, condições logísticas adequadas e um reconhecimento financeiro justo. Assim, para a carreira docente, propomos: garantir a regularidade e o direito à progressão; criar mecanismos de gestão para agilizar a tramitação dos processos de progressão; aproximar o salário do último nível da carreira de professor/a associado/a (nível 5.3) com o salário de professor/a titular, ou criar um nível intermediário (5.4); e estudar a criação de programas de gratificação para atividades de ensino e de extensão de acordo com o perfil desejado em cada unidade. Para a carreira Paepe, propomos: a melhoria contínua da progressão de carreira, com a definição estável de previsão orçamentária; a realização de estudos para a reestruturação da tabela de vencimentos e o realinhamento da posição dos/as servidores/as nos níveis da carreira; incentivar a gestão de desempenho como um processo fundamental para a gestão de pessoas, de forma perene; possibilitar condições de trabalho em formato híbrido; manter a decisão de promover a mudança do regime de celetista para estatutário; e estudar a viabilidade de implantação do Programa Permanente Dignidade. Para a carreira de pesquisador/a, propomos: adequar normativas para que os C&Ns ofereçam cursos de extensão de forma independente; incentivar a participação de C&Ns na oferta de novos cursos de pós-graduação junto a unidades de ensino, pesquisa e extensão; considerar as especificidades dos C&Ns nas futuras avaliações institucionais; e estudar a viabilidade de implementação do orçamento anual para a progressão na carreira Pq e a garantia de ampliação do quadro a partir de novos concursos. Por fim, as carreiras especiais de docentes desempenham um papel crucial no fortalecimento da Universidade. Nossa proposta pretende estudar possibilidades de melhorias de todas as carreiras especiais, considerando suas particularidades e permitindo a maior valorização do trabalho e da formação dos/as docentes.
JU – É consensual a percepção de que a reforma tributária pode colocar em risco o atual sistema de financiamento das universidades públicas paulistas. De que forma o(a) sr.(a) pretende atuar para assegurar a manutenção da autonomia financeira?
Paulo César Montagner – Estamos atentos a esse relevante tema. Registramos nossa preocupação com as mudanças que ocorrerão com a reforma tributária. Para as universidades paulistas, a principal alteração será a extinção do ICMS, substituindo-o por um Imposto sobre valor agregado dual, tendo um componente federal (Contribuição sobre Bens e Serviços) e outro estadual (Imposto sobre Bens e Serviços). Essa transição acontecerá entre 2029 e 2033, mas o desaparecimento do tributo ao qual as receitas da Unicamp estão vinculadas já está dado. As condições de funcionamento da autonomia orçamentária terão que ser rediscutidas em um ambiente pouco favorável às universidades. Um grupo de trabalho (GT) nomeado pelo Cruesp, com participação da Unicamp, fez uma proposta que preserva financeiramente e aumenta as garantias da autonomia. Ela vincula os repasses às universidades à carga tributária total do Estado; estabelece uma alíquota no valor de 8,67%; e insere a autonomia na Constituição Estadual. Nosso compromisso é seguir na defesa dessa proposta, buscando uma transição que preserve as conquistas da autonomia financeira em bases jurídicas mais sólidas. Assim, manifestamos nossa defesa na preservação da administração financeira da Unicamp baseada em três princípios que serão mantidos e aprimorados no próximo quadriênio: valorização das pessoas; responsabilidade com os recursos públicos e retomada dos investimentos em infraestrutura da Universidade, com política aprovada sob o título de Plano Plurianual de Investimentos. Pretendemos manter e ampliar a viabilização financeira das obras de infraestrutura. Projetos de investimento de maior porte, cuja execução ultrapasse um exercício orçamentário, frequentemente são objetos de contingenciamento, descontinuidade e desperdício. Vamos atuar para um “orçamento de investimentos”, um planejamento estratégico com parte excedente das reservas financeiras sendo uma forma de conferir previsibilidade. A continuidade dessas ações está vinculada diretamente à preservação dessa proposta de financiamento proposto pelo Cruesp.
Glossário de siglas
- Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
- CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
- Cruesp – Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas
- FCM – Faculdade de Ciências Médicas
- FEF – Faculdade de Educação Física da Unicamp
- FMRP – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
- Funcamp – Fundação de Desenvolvimento da Unicamp
- ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
- Inova – Agência de Inovação Inova Unicamp
- Paepe – Profissionais de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão
- PPGs – Programas de Pós-Graduação
- Proeec – Pró-Reitoria de Extensão, Esporte e Cultura
- PRP – Pró-Reitoria de Pesquisa
- RDIDP – Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa
- UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
- Unesp – Universidade Estadual Paulista
- USP – Universidade de São Paulo