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Tributo à atuação acadêmica do professor Fernando Ferreira Costa

A Universidade deve reconhecer todos aqueles que dedicaram parte de seu tempo à expansão de caminhos originalmente desenhados no desenvolvimento das artes, da inovação e das ciências em todos os campos do conhecimento

Esta sucinta manifestação procura evidenciar e dar a devida importância ao legado acadêmico-administrativo do professor Fernando Ferreira Costa, agora aposentado, após 46 anos de docência e de relevantes serviços prestados à Universidade Estadual de Campinas.

Este reconhecimento se assenta e retoma a ideia fundadora desta Universidade, uma ideia adequada ao seu tempo, pressupondo que a Unicamp, em seu conjunto, reconhece todos aqueles que a tornaram bem-sucedida em seus esforços para preservar seus princípios originais, sua cultura e sua organização institucional, contribuindo para seu exitoso modelo acadêmico. Nesse sentido, a Universidade deve reconhecer todos aqueles que dedicaram parte de seu tempo à expansão de caminhos originalmente desenhados no desenvolvimento das artes, da inovação e das ciências em todos os campos do conhecimento. E, em paralelo, dissemina e estimula a aplicação do conhecimento nos setores em que ele é necessário, visando à melhoria da vida das pessoas e à independência cientifica e tecnológica do país.

Fernando Costa estee à frente da FCM em duas gestões
Fernando Costa estee à frente da FCM em duas gestões

Não há dúvida de que Fernando Costa é um dos maiores acadêmicos que a Unicamp tem, não sendo essa afirmação exagerada ou uma sentença meramente comemorativa. É a verificação de tudo que ele é, pelo que fez, e, sobretudo, pela concepção ampla das coisas que faz. O caso especial de Fernando é que, além de acadêmico eminente, um professor que construiu uma obra de educador, médico e pesquisador, ele, de forma discreta, demonstrou uma excepcional capacidade de ação — essa coisa rara, caracterizada pela fusão do intelectual e do homem de ação, qualidades que geralmente encontramos dissociadas e que nele estão não apenas unidas, mas unidas de uma maneira construtiva, criativa e harmoniosa.

Além do excepcional educador, o professor Fernando sabia que a pesquisa estimula no docente a necessária aquisição continuada de conhecimento e de aprimoramento profissional. Havia que se formar um melhor médico para a sociedade, e isso se refletiu nas suas gestões frente à Faculdade de Ciências Médicas, ao Hemocentro e à Unicamp. Mesmo avesso à promoção pessoal, não houve como impedir que seu nome se destacasse no universo médico-universitário nacional, em particular na área de hematologia. Na Universidade, a projeção de Fernando se manifestou naturalmente como forma de reconhecimento de suas qualidades. Foi assim que, em 2009, foi escolhido pela comunidade e nomeado reitor da Unicamp. Toda essa sequência permeada de sua incansável batalha pela ciência como sempre fora, digno e altivo, embora reservado, mas não fechado.

Descerramento do quadro de Fernando Costa, que compõe a galeria de reitores, na antesala do Conselho Universitário
Descerramento do quadro de Fernando Costa, que compõe a galeria de reitores, na antesala do Conselho Universitário, ocorrido em 2016

Pela modéstia e despretensão, que torna agora este reconhecimento necessário, para melhor o caracterizar, tomamos as palavras de Carlos Drummond:

… não é estar aqui ou ali, mas ser. E ser é uma ciência delicada, feita de pequenas observações do cotidiano, dentro e fora da gente. Se não executamos essas observações, não chegamos a ser: apenas estamos, e desaparecemos.

Fernando nasceu em Santa Rita do Passa Quatro em 7 de setembro de 1950, filho de Lauro Costa e Maria de Lourdes Ferreira Costa. Realizou os cursos ginasial e colegial respectivamente, no Grupo Escolar “Francisco Ribeiro” e no Instituto de Educação “Nelson Fernandes”, completando o ciclo em 1968. Aprovado em 1969 no concurso vestibular para a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), colou grau em dezembro de 1974.

Após a residência médica, em 1977 ingressou no Curso de Pós-Graduação de Clínica Médica na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Completou o mestrado em 1979 e o doutorado, em 1981, ambos sob orientação do professor Marco Antônio Zago.

Fernando Costa e Edgard Dedecca durante comemoração da vitória da chapa na consulta à comunidade
Fernando Costa e Edgard Dedecca durante comemoração da vitória da chapa na consulta à comunidade

Foi então contratado como professor assistente doutor pelo Departamento de Patologia Clínica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, onde permaneceu de 1979 a 1985. Após um concurso público, foi admitido como professor assistente doutor no Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, em 1985, onde no ano seguinte, foi aprovado em um concurso para professor livre-docente. Fez então estágio pós-doutoral entre 1987 a 1989 em Yale, no serviço de hematologia do professor Bernard G. Forget, onde participou de pesquisas envolvendo alterações moleculares em doenças hereditárias dos glóbulos vermelhos. Retornando ao Brasil, foi novamente admitido na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, em 1990, agora no Departamento de Clínica Médica, onde, em 1994, foi aprovado em concurso público como professor titular em hematologia e hemoterapia. Nessa posição, foi eleito pela comunidade como diretor da Faculdade de Ciências Médicas para o período 1994 a 1998.

Dedicou-se durante toda sua carreira acadêmica ao estudo e a investigação das características clínicas e moleculares nas hemopatias, em especial as doenças hereditárias dos glóbulos vermelhos, incluindo as hemoglobinopatias e a identificação de alterações da membrana eritrocitária.

Pertence as diferentes sociedades, sendo reconhecido pela e membro da Academia Paulista de Medicina, da Academia de Ciências do Estado de São Paulo e da Academia Brasileira de Ciências.

Cerimônia de posse do professor Fernando Costa, em abril de 2009, no Centro de Convençoes: impacto em diferentes perspectivas
Cerimônia de posse do professor Fernando Costa, em abril de 2009, no Centro de Convençoes: impacto em diferentes perspectivas

A gestão da Unicamp no quadriênio 2009-2013

Período profícuo quando a Universidade definiu e implantou ideias inovadoras que estão vigentes e são reconhecidas como iniciativas que, de várias maneiras, impactaram e mudaram a Unicamp, beneficiando-a em diferentes perspectivas. As abordagens e programas implantados na Universidade para o desenvolvimento de pesquisa, formação de recursos humanos de qualidade na graduação e pós-graduação e a aplicação do conhecimento adquirido incluíram novos desenhos, métodos e iniciativas que aceleraram a criação e a aplicação do conhecimento, ancoraram a pesquisa relevante e na fronteira do conhecimento e a formação de pessoas fundamentadas na interdisciplinaridade e na responsabilidade social. Nesse período teve inicio a implantação de mecanismos consistentes de inclusão, novas formas de acesso e permanência, por meio de modelos acadêmicos inovadores para aquele momento.

Sem pretender exaurir as realizações da gestão de Fernando à frente da Universidade, em face da abrangência e da complexidade das ações acadêmicas e administrativas realizadas, é possível constatar que as diretrizes de gestão adotadas desde o início foram baseadas na primazia dos valores acadêmicos, na defesa da autonomia universitária e na garantia do ensino público, gratuito e de qualidade. Essas ações permitiram não apenas consolidar o papel de destaque ocupado pela Unicamp no Brasil, mas também fizeram-na avançar em termos quantitativos e qualitativos, ampliando o seu grau de influência tanto no plano nacional quanto no internacional.

Em abril de 2013, quando se completou o quadriênio administrativo daquela gestão, a Unicamp contava com aproximadamente 33 mil alunos matriculados em 66 cursos de graduação e 142 cursos de pós-graduação em seus campi de Campinas, Piracicaba e Limeira. Contava com 1.750 docentes, dos quais 98% com titulação mínima de doutor e 89% atuando em regime de dedicação exclusiva e que seguiram liderando a produção per capita de artigos científicos publicados em revistas internacionais.

No campo da inovação tecnológica, entre 2009 e 2012, a Universidade foi responsável por 243 pedidos de patentes nacionais, com especial destaque para o ano de 2012, quando os 73 pedidos de patentes depositadas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) constituíram um recorde histórico de depósitos para a Universidade. A Unicamp também foi responsável por 50 pedidos internacionais de patente via Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT, na sigla em inglês) entre 2009 e 2012.

O período foi marcado por diversas realizações em todos os setores da vida acadêmica. Na graduação, o número de alunos matriculados subiu de 15.588 em 2009 para 17.097 em 2012. Houve avanços significativos, com destaque para a implantação do Programa de Formação Interdisciplinar Superior (Profis), com 120 novas vagas destinadas a uma nova e original forma de acesso à universidade para alunos das escolas públicas de ensino médio de Campinas.

Na pós-graduação, praticamente metade dos cursos apresentava nível de excelência internacional, segundo Avaliação Trienal 2010 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o que garantiu à Unicamp a maior proporção de excelência entre todas as universidades do Brasil. A Unicamp se destacou nos principais rankings mundiais, ascendendo da 295ª posição em 2009 para a 228ª em 2012 no Quacquarelli Symonds (QS) e colocando-se entre a 251ª e a 275ª posições do Times Higher Education University Rankings (THE). Além disso, posicionou-se também como a terceira melhor universidade ibero-americana.

As atividades de extensão registraram saltos quantitativos e qualitativos, permitindo inúmeras ações envolvendo parcerias com órgãos públicos e privados, bem como entidades da sociedade civil, além de apresentar iniciativas próprias capazes de contribuir diretamente para o desenvolvimento social, econômico e cultural de diversas comunidades próximas aos campi e de outras regiões do país.

O quadriênio 2009-2013 foi caracterizado, entre outras iniciativas, pela ênfase na internacionalização, que passou a ter peso estratégico nas diretrizes da Unicamp. Iniciativas inéditas, como o Programa Professor Visitante do Exterior, os Editais de Visitas de Pesquisadores e a criação do Centro de Estudos Avançados (Ceav), possibilitaram à Universidade ampliar significativamente seu grau de inserção internacional. Os indicadores tomados para análise nesse período confirmam que a Unicamp vem trilhando um caminho sólido como uma universidade de classe mundial.

Equipe de pró-reitores e coordenador-geral durante a gestão de Fernando Costa
Equipe de pró-reitores e coordenador-geral durante a gestão de Fernando Costa

No plano de investimentos, cabe registrar que foram aplicados cerca de R$ 320 milhões em obras físicas, que resultaram em 49.300 metros quadrados de obras prediais, compreendendo 31.500 metros quadrados de edificações novas ou ampliações e 17.600 metros quadrados de reformas. Some-se a essa área predial o investimento de cerca de R$ 66,9 milhões em obras de infraestrutura urbana e benfeitorias prediais, com destaque para a valorização dos espaços de ensino na graduação.

Todas essas conquistas apontam para o inequívoco amadurecimento institucional, em que pese a Unicamp ser uma universidade ainda jovem para os padrões nacionais e internacionais. Importante enfatizar, porém, que os resultados descritos acima retratam apenas superficialmente ações creditadas a uma gestão profícua e responsável, que reconhecia com clareza o conceito de universidade completa e que almejava potencializar o desenvolvimento de projetos interdisciplinares no ensino, na pesquisa científica e na interação com a sociedade, capaz de responder de forma efetiva aos complexos desafios que confrontam as sociedades contemporâneas. Esses projetos, para sua implantação e efetividade, exigiram coesão institucional das e níveis avançados de articulação entre as estruturas de gestão, a aplicação responsável de recursos, o estímulo ao desenvolvimento de projetos e a valorização, qualificação e motivação de docentes e funcionários. Essas medidas foram efetivamente estimuladas e implantadas sob a orientação do professor Fernando Ferreira Costa e permanecem como um legado norteador para uma universidade de qualidade.

Por fim, mencionamos a contribuição do professor Fernando Costa como educador na formação de uma geração de hematologistas e cientistas que ocupam espaços e posições de destaque na comunidade médica e científica do Brasil e do mundo, o que é mais uma das faces de sua contribuição para o papel da Unicamp na sociedade.


José Antônio Rocha Gontijo é professor titular na Faculdade de Ciências Médicas em regime de dedicação integral a docência e a pesquisa. Foi vice-diretor e diretor da FCM (2002-2010). Foi chefe de Gabinete da Reitoria da Unicamp (2019-2021).

Erich Vinicius de Paula é professor de Hematologia do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e Hemocentro da Unicamp. Atualmente é diretor associado da FCM.

Mario José Abdalla Saad é professor do Departamento de Clínica Médica da FCM desde 1986. Coordena o laboratório de pesquisa em obesidade e diabetes do mesmo departamento, tendo como linha de pesquisa, nos últimos 28 anos, mecanismos moleculares de resistência à insulina.

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