Fundamental para a produção de fertilizantes e insumos industriais, a amônia é um composto usado na agricultura e em diversos setores da economia. No entanto, sua fabricação tradicional envolve um dilema ambiental e energético. Entre os principais métodos de produção estão o processo Haber-Bosch — utilizado há mais de um século — e a eletrólise da água, considerada uma alternativa mais limpa. O primeiro depende de hidrogênio extraído de combustíveis fósseis e opera em condições extremas de temperatura e pressão, o que implica alto consumo energético e emissões significativas de carbono. Já a eletrólise da água, embora mais sustentável do ponto de vista ambiental, exige grande volume de eletricidade, o que ainda limita sua adoção em larga escala.
Diante desse cenário, pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da Unicamp desenvolveram um processo de eletrossíntese para a produção de amônia verde.
“Com este processo, a tecnologia converte nitrato diretamente em amônia por meio de processos eletroquímicos, em condições mais brandas, reduzindo custos e impactos ambientais”, explica Raphael Nagao, docente do IQ e um dos inventores da tecnologia.

Além de diminuir as emissões de carbono, a conversão ajuda a mitigar a contaminação de rios e solos, ampliando sua relevância no contexto da sustentabilidade.
Diferentemente de métodos baseados na eletrólise da água para obtenção de hidrogênio, a eletrossíntese elimina etapas intermediárias, tornando a produção mais eficiente, escalável e com menor consumo energético.
Com o suporte da Agência de Inovação Inova Unicamp, a patente da Universidade foi licenciada pela BGEnergy, empresa-filha da Unicamp incubada na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp).
“O Brasil importa grande parte dos fertilizantes nitrogenados que consome, mas a demanda por alternativas mais viáveis e sustentáveis é crescente. A amônia é essencial para a produção destes fertilizantes; além deste uso, a produção nacional pode viabilizar o armazenamento e o transporte de hidrogênio, servindo como um vetor energético no futuro. Nesse contexto, a empresa visa preencher uma lacuna no mercado nacional de amônia verde”, contextualiza Vitor Riedel, diretor executivo da BGEnergy.
Segundo Nagao, a Inova Unicamp teve papel fundamental na proteção da propriedade intelectual e no licenciamento da tecnologia, facilitando a interação universidade-empresa.
“A Inova facilita todo o processo, desde a redação de documentos mais burocráticos, até a negociação da transferência da tecnologia, garantindo que pesquisas saiam dos laboratórios e se tornem soluções reais para a sociedade”, destaca o docente.
A tecnologia foi desenvolvida por Nagao, junto aos pesquisadores Thiago de Morais Mariano, Gabriel Floriano Costa e Manuel Edgardo Gomez Winkler, todos do IQ, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Shell, no âmbito do Centro de Inovação em Novas Energias (Cine).

Do laboratório à indústria
Fundada em 2022, a BGEnergy é especializada em tecnologias relacionadas à economia do hidrogênio verde, ao armazenamento de energia elétrica e a fontes renováveis. A empresa atua também na Operação e Manutenção (O&M) de plantas de hidrogênio verde, oferecendo serviços de pesquisa, desenvolvimento e inovação, além de cursos e treinamentos especializados. Com anos de experiência nos métodos de produção, armazenamento e consumo do hidrogênio verde, foi a primeira empresa contratada para desenvolver soluções de O&M em uma planta de hidrogênio verde em operação no Brasil.
Para Riedel, a incubação na Incamp, incubadora gerenciada pela Inova Unicamp, tem sido estratégica para o avanço da empresa. “Esse ambiente favorece o escalonamento de tecnologias, conectando pesquisa acadêmica à aplicação prática e fomentando soluções sustentáveis”, destaca.
Com a patente licenciada, a BGEnergy avança na validação e na ampliação dos testes para viabilizar a produção em larga escala.
“Nossa meta é oferecer novas tecnologias que promovam a produção de fertilizantes sustentáveis e competitivos, reduzindo a pegada de carbono da produção agrícola e contribuindo, assim, para a transição energética”, afirma Riedel.
A expectativa é consolidar a amônia verde como um dos pilares da descarbonização da indústria química global, fortalecendo o papel do Brasil no cenário internacional de energias renováveis.
Esta é a 18ª edição do Prêmio Inventores que a Inova Unicamp organiza com o propósito de reconhecer e valorizar os inventores engajados na transferência de tecnologias da Universidade e na criação de empresas spin-offs acadêmicas no último ano.
INVENTORES PREMIADOS NESTE LICENCIAMENTO:
Raphael Nagao De Sousa, Thiago De Morais Mariano, Gabriel Floriano Costa e Manuel Edgardo Gomez Winkler (IQ-Unicamp) foram premiados na categoria Propriedade Intelectual Licenciada no Prêmio Inventores 2025, organizado pela Inova Unicamp.
PROGRAMAÇÃO DE HOMENAGENS DE 2025
A Inova Unicamp organizou uma série de homenagens em comemoração ao Prêmio Inventores de 2025, como as reportagens relacionadas a casos premiados, disponíveis para leitura nos sites da Inova Unicamp e do Prêmio Inventores, bem como em formato e-book na Revista Prêmio Inventores (com lançamento previsto para agosto).
No dia 19 de agosto, a Inova Unicamp também promoverá o Webinar Prêmio Inventores, compartilhando casos de sucesso na proteção da propriedade intelectual e transferência de tecnologia da Universidade. As inscrições estão abertas e são gratuitas.
Os premiados também receberão um certificado de reconhecimento. Confira a lista completa dos premiados no site do Prêmio Inventores da Unicamp.
A edição de 2025 tem o patrocínio de ClarkeModet e FM2S.
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