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Plateia no espetáculo “De algum lugar para lugar nenhum”, comédia encenada em Fortaleza por 18 atores cegos, do grupo Olho Mágico
Plateia no espetáculo “De algum lugar para lugar nenhum”, comédia encenada em Fortaleza por 18 atores cegos, do grupo Olho Mágico

Deficiência visual em cena

Obra aborda grupos teatrais brasileiros formados por artistas cegos e com baixa visão

Deficiência visual em cena

Obra aborda grupos teatrais brasileiros formados por artistas cegos e com baixa visão

Plateia no espetáculo “De algum lugar para lugar nenhum”, comédia encenada em Fortaleza por 18 atores cegos, do grupo Olho Mágico
Plateia no espetáculo “De algum lugar para lugar nenhum”, comédia encenada em Fortaleza por 18 atores cegos, do grupo Olho Mágico

A questão do acesso à cultura por pessoas com deficiência vem ganhando cada vez mais espaço no debate público, o que fomenta questões teóricas nos âmbitos da diversidade, da inclusão, da estética e da política. O livro Teatros e Artistas com Deficiência Visual aborda esse assunto por meio da análise do processo criativo de 13 grupos teatrais brasileiros que colocam a deficiência visual em seu centro. O autor da obra, Lucas de Almeida Pinheiro, repensa o papel da visualidade no teatro e os desdobramentos teóricos do capacitismo em cena.

Pinheiro, graduado em artes cênicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), mestre e doutor em artes da cena pela Unicamp e docente da Universidade Estadual de Maringá (UEM), atua, no momento, como diretor, professor e pesquisador da área de poéticas e linguagens da cena, com foco nas relações entre cena-deficiência-criação. Na entrevista a seguir, o autor detalha como transcorreu o processo de pesquisa e produção da obra e destaca a sua importância para o estudo das artes cênicas.

Jornal da Unicamp – A obra é resultado das suas pesquisas e experiências profissionais. Como se deu a motivação e quais os desafios para transformá-las em livro?

Lucas de Almeida Pinheiro – A motivação para esse livro surgiu do meu contato com pessoas cegas que, enquanto espectadoras, relatavam as dificuldades de acesso ao teatro. Suas experiências evidenciavam que o teatro, como prática artística e cultural, ainda se estruturava e se estrutura de maneira excludente, sem considerar outros modos de fruição que não o olhar – salvo poucas exceções, como algumas abordadas no livro, ou quando a audiodescrição está presente na encenação. Os desafios para transformar essa pesquisa em livro foram múltiplos. Além da própria sistematização do material coletado, foi necessário articular perspectivas teóricas e experiências concretas de modo a evidenciar os processos criativos gestados, com e para pessoas cegas e com baixa visão, que questionam o visuocentrismo arraigado na tradição teatral.

JU – Como se deu a escolha dos grupos teatrais abordados na obra?

Lucas de Almeida Pinheiro – A escolha dos grupos abordados deu-se, inicialmente, pela proximidade geográfica, com a intenção de acompanhar presencialmente novos processos criativos gestados por esses coletivos. No entanto a pandemia de covid-19 impediu esse acompanhamento presencial e, ao mesmo tempo, possibilitou a ampliação do escopo da pesquisa. Dessa forma, a pesquisa passou a abarcar grupos de diferentes regiões do Brasil que, em suas proposições cênicas, já promoviam outros modos de criação e fruição teatral. Por serem gestados incluindo artistas com deficiência visual, esses processos desestabilizam a centralidade da visão no teatro e apontam para a construção de poéticas que deslocam o olhar como principal via da percepção cênica. A escolha desses grupos deu-se, portanto, pelo interesse em compreender como suas práticas questionam paradigmas estéticos e institucionais, abrindo caminhos para uma cena mais acessível e plural.

JU – Como é a recepção da proposta no meio acadêmico? Qual a contribuição do livro para o estudo das artes cênicas?

Lucas de Almeida Pinheiro – A recepção tem sido bastante interessante e surpreendente. As poéticas, seus conhecimentos e suas provocações estéticas ainda são recentes no campo teatral. Não por falta de vontade de artistas com deficiência, mas por falta de abertura das próprias pessoas sem deficiência para compreendê-las também como artistas. Por falta de oportunidades. São artistas que, por serem historicamente desconsiderados e excluídos da criação cênica, propõem não apenas novas poéticas, mas também tensionam o que entendemos por teatro, cena e espectatorialidade. Essas pessoas propõem outras formas de estar em cena e de se relacionar com o teatro. Além disso, a obra colabora para que o ensino e a pesquisa em teatro avancem na desconstrução de barreiras históricas e epistemológicas que, por muito tempo, limitaram a participação de pessoas cegas na cena artística.

JU – Para além do campo teatral, quais outras áreas podem se interessar pelo conteúdo apresentado nessa obra?

Lucas de Almeida Pinheiro – O conteúdo da obra dialoga com diversas áreas além das artes cênicas, sobretudo com aquelas que se dedicam a questões de acessibilidade, inclusão, educação e estudos sobre a deficiência. No campo da educação, por exemplo, a pesquisa contribui para reflexões sobre metodologias pedagógicas mais sensíveis à diversidade sensorial, questionando práticas convencionais e propondo caminhos que valorizem diferentes formas de percepção e aprendizagem. Os estudos sobre a deficiência também encontram na obra um material relevante para pensar as relações entre corpo, estética e política, considerando como os processos criativos desenvolvidos por artistas cegos e com baixa visão desafiam não apenas o campo teatral, mas estruturas sociais e epistemológicas que historicamente marginalizaram esses corpos. Além disso, o livro pode interessar a pesquisadores da comunicação e das ciências sociais, pois trata de modos de fruição artística que deslocam o foco do olhar como principal via de acesso ao teatro. Essas discussões repercutem em debates sobre políticas culturais, direito à arte e formas de democratização da experiência estética.


Teatros e Artistas com Deficiência Visual
Teatros e Artistas com Deficiência Visual

Título: Teatros e Artistas com Deficiência Visual
Autor: Lucas de Almeida Pinheiro
Edição: 1ª
Ano: 2024
Páginas: 288
Dimensões: 23 cm x 16 cm

Editora
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