Pesquisa revela como a comunidade da Unicamp vê as mudanças climáticas
Questionário foi respondido por 1.258 pessoas, entre docentes, alunos, pesquisadores e servidores técnico-administrativos

Pesquisa revela como a comunidade da Unicamp vê as mudanças climáticas

Questionário foi respondido por 1.258 pessoas, entre docentes, alunos, pesquisadores e servidores técnico-administrativos
Uma pesquisa feita junto à comunidade da Unicamp registrou a percepção dessas pessoas sobre as mudanças climáticas, além de investigar o papel atribuído à Universidade no enfrentamento da crise. Entre docentes, alunos de graduação e pós-graduação, pesquisadores, funcionários técnico-administrativos e professores colaboradores, 1.258 indivíduos responderam ao questionário, entre outubro e dezembro de 2024. Segundo os resultados obtidos, 95,8% dos participantes preveem o agravamento do cenário nos próximos anos, 76,3% afirmam ser possível combatê-lo e 72,4% têm interesse em participar da empreitada. O levantamento investigou, ainda, o efeito da emergência climática sobre a saúde mental, mostrando que a maioria das pessoas (51,8%) associa essa crise a episódios de sofrimento psíquico.
Intitulada “A Percepção da Comunidade da Unicamp sobre as Mudanças Climáticas e o Papel da Universidade”, a pesquisa resulta de uma iniciativa de três professores – Gabriela Celani, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (Fecfau), Neri de Barros Almeida, do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), e Sandro Tonso, da Faculdade de Tecnologia (FT). Membros da Comissão Assessora de Mudança Ecológica e Justiça Ambiental (Cameja) – uma instância associada à Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DEDH) da Universidade –, os três convidaram a professora Milena Serafim, especialista em política científica e tecnológica e atual diretora da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), para participar do projeto. Ao grupo se juntou ainda Denis Alves, aluno de pós-graduação do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências (IG).


A principal finalidade da iniciativa é servir de apoio aos gestores da Unicamp tanto na condução de questões relativas à emergência climática quanto na abordagem de assuntos que tangenciem essa crise. Os dados reunidos e as análises realizadas podem agora ser usados em diferentes tarefas, como o direcionamento dos recursos institucionais e a criação de políticas voltadas para o ensino, a pesquisa, a extensão universitária e a gestão da Universidade. “A partir da mensuração da percepção da comunidade, buscamos identificar como esses fenômenos e seus impactos são notados para determinar em que áreas a Universidade deve concentrar mais esforços”, disse Serafim.
O questionário, elaborado a partir de modelos desenvolvidos pela Universidade de Brasília (UnB) e pelas instituições norte-americanas Universidade de Princeton e Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), contou, ainda, com contribuições dos pesquisadores Luiz Marques, professor colaborador do Departamento de História do IFCH e autor do livro Capitalismo e Colapso Ambiental, e Tania Maron, coordenadora da área de promoção à saúde mental da Diretoria Executiva de Apoio e Permanência Estudantil (Deape) da Unicamp.
A partir da análise dos dados, os pesquisadores traçaram três perfis de respondentes, cada um com percepções distintas sobre a situação, explicou Alves. No mais numeroso, denominado moderado, encontram-se aqueles que acreditam na superação da crise, mas entendem que há barreiras no caminho. “O segundo perfil, chamado institucionalista, reúne quem de fato acredita que os governos, as empresas e outras instituições têm poder para solucionar a questão, além de tempo para concluir o desafio. Já os que estão no perfil dos céticos pensam não haver mais chances de agir – na Universidade, são minoria”, contou o doutorando.
O próximo passo, elaborar um relatório para a Reitoria da Unicamp, implicará apresentar recomendações relativas ao monitoramento da comunidade universitária. O grupo espera transformar a pesquisa em um processo sistematizado para que haja um acompanhamento contínuo sobre como as pessoas encaram os temas investigados. “O ideal seria que todas as universidades públicas realizassem esse monitoramento e dispusessem de um ambiente para o tratamento dos dados em rede. Essas instituições serão cada vez mais impactadas pelas mudanças climáticas tanto porque a ciência será cada vez mais exigida por essa crise quanto porque uma visão aprofundada da questão será mais demandada a seus egressos, como profissionais e cidadãos”, observou Almeida.


Repensar o ensino
A adesão à pesquisa variou de maneira significativa entre os diferentes extratos da comunidade universitária. O engajamento de professores e funcionários técnico-administrativos superou a expectativa dos realizadores, chegando a 13% e 9% respectivamente. Por outro lado, a participação revelou-se consideravelmente baixa entre os estudantes de graduação (0,5%) e pós-graduação (1,2%). “Isso contrasta fortemente com outras pesquisas segundo as quais a faixa etária mais preocupada com as mudanças climáticas é justamente essa na qual estão os nossos alunos, principalmente os de graduação”, afirmou Celani. Para Almeida, o desinteresse dos alunos preocupa. “Os dados mostram que a Universidade precisa motivar mais seus membros a compreender o problema e suas soluções.”
Embora o panorama decorrente da pesquisa revele uma comunidade com compreensão ampla sobre os desafios climáticos e ciente da responsabilidade da Unicamp nessa questão, menos de 33% dos respondentes recorrem à Universidade para buscar formação na área e informação sobre o assunto. A constatação, segundo Tonso, serve de alerta para a necessidade de a instituição repensar o enfoque dado à crise climática em todas as suas esferas, sobretudo no ensino. “Essa pesquisa aponta a nossa responsabilidade. Já é tempo de todos os cursos da Unicamp, principalmente os de graduação, incluírem a questão climática em seus programas. Na licenciatura isso é particularmente urgente”, disse.
A abordagem interdisciplinar e transversal sobre as mudanças climáticas é um consenso entre os professores, que defendem sua adoção nas quatro dimensões da instituição – ensino, pesquisa, extensão universitária e gestão. “É papel da Universidade promover processos de ensino e aprendizagem – formal e informal – que tenham a transversalidade como base”, ressaltou Serafim. “Não é possível produzir a visão necessária para enfrentar a crise socioambiental e climática sem uma política sistemática. Se não misturarmos o engenheiro com o sociólogo, o artista com o médico, não daremos condições adequadas para esse pessoal enfrentar um desafio que não só é da ordem do mundo físico, mas também é um problema de ordem política, econômica, social e cultural”, concluiu o arquiteto.