
O Instituto de Artes (IA) da Unicamp realizou na terça-feira (22), no Auditório Raízes da Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DeDH), no prédio do Ciclo Básico I, o lançamento do livro História(s) do Cinema. O evento contou com a presença de estudantes do primeiro ano do ensino médio integral da Escola Estadual Barão Geraldo de Rezende, coautores da obra, fruto de um trabalho de extensão realizado na escola, realoizado desde 2023.
Com uma abordagem multimidiática, a obra sintetiza cerca de 130 anos de história do cinema – desde o chamado primeiro cinema até o cinema contemporâneo –, e apresenta as atividades propostas e QR codes que dão acesso a fotos, vídeos e textos produzidos durante as aulas.
A partir dessa configuração, o material se transforma em um recurso pedagógico para trabalhar com o cinema enquanto forma de pensar, conforme Jean-Luc Godard e seu filme-ensaio também chamado História(s) do Cinema. “Até o imediato pós-guerra, a base do pensamento era a linguagem articulada. Dos anos 1960 para cá, a imagem começa a ser a grande referência em todas as áreas do saber, porque ela é a gênese de todo o nosso pensamento”, afirmou o professor Francisco Elinaldo Teixeira, organizador do livro.
A publicação apresenta conteúdos extraídos das disciplinas de História do Cinema I e História do Cinema II do curso de graduação em midialogia a cargo de Teixeira no ano de 2024 – e que embasaram os planos de aula de uma disciplina eletiva ofertada na escola estadual. A proposta previa o registro escrito dessas experiências bem como a difusão de conhecimentos culturais entre os jovens.

Desafios
A ideia do projeto de extensão partiu de Patrick Cavalcante, mestrando orientado por Teixeira e graduando em filosofia. Também fizeram parte da equipe a doutoranda Ana Karla Farias, o mestrando Rafael Reis e os graduandos em midialogia Henrique Melo, Flávia Santos e Lucas Barros. Todos chamaram atenção para o processo de aprendizado mútuo envolvendo os jovens alunos. “Durante as atividades, entendemos a importância de ressignificar nossa didática para dialogar com os estudantes e fizemos alterações significativas no nosso modo de trabalhar em sala de aula, com a ajuda das professoras da disciplina eletiva de cinema”, afirmou Cavalcante.
Além de aulas teóricas e da exibição de trechos de filmes, o trabalho pautou-se pelas atividades práticas, como a criação de obras de arte surrealistas, a composição de poemas, a contação e invenção de histórias e a produção de vídeo-cartas, quando um aluno gravava uma mensagem para um colega. “Essa atividade, além de trabalhar a elaboração de um self a partir do aparato tecnológico da câmera, também colaborou com o desenvolvimento de um ambiente saudável na sala de aula, trabalhando o lado socioemocional da turma”, explicou o graduando em filosofia.
Os estudantes relataram um estranhamento inicial em relação ao projeto. “O começo era bem teórico, então a gente achava meio chato. Depois, começou a ser legal. Descobri muitas curiosidades que eu não sabia [sobre o cinema]. Gostei bastante da atividade final [as vídeo-cartas]. A gente aprendeu bastante coisa e também se divertiu”, disse Mariana Ribeiro Ferraz, de 16 anos.
Vitor Emanuel Souza Santos, também de 16 anos, contou que, apesar de não ter muito interesse pelo cinema, a “experiência foi muito divertida e juntou as duas salas [dos primeiros anos A e B do ensino médio]. Também achei muito legal ter um livro falando sobre o que a gente fez”.
No evento de terça-feira, cada aluno recebeu um exemplar da obra. “Acreditamos muito nessa relação entre a universidade e a escola pública, que gerou essa parceria linda com um fruto físico, que vai ficar com os alunos e na nossa biblioteca”, afirmou Dhafinny da Silva, que, no lançamento, estava acompanhada de Ariane Moreira, ambas professoras da disciplina eletiva, além de Maria da Conceição Martins Oliveira, diretora da escola estadual.

Reviravolta pedagógica
A produção do livro é um desdobramento de outro projeto de extensão, este surgido a partir das limitações impostas pela pandemia de covid-19. Com as aulas migrando para o ambiente online, Teixeira precisou adotar novas estratégias de ensino: os seminários presenciais foram substituídos por peças audiovisuais, juntando elaboração artística e elaboração do conhecimento. “Essa foi uma virada na minha experiência didática, foi uma maravilha porque deslocou [o ensino] das aulas expositivas e trabalhou esse traço dispersivo dos jovens, que é um grande problema pedagógico atual.”
As peças produzidas pelos alunos, no ano de 2022, resultaram, então, com o suporte do Serviço de Apoio ao Estudante (SAE), na produção do longa-metragem Dos Lumière à Nostalgia da Luz, o pontapé inicial para o livro. Cavalcante ainda vislumbra um novo projeto, a publicação do História(s) do Cinema no formato e-book, a fim de ampliar seu alcance.
Assista ao vídeo sobre o projeto de extensão:
https://drive.google.com/file/d/1ZvxUVIsOiJBFFQyukR7dIaFjrp1TKsA4/view