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Um poliedro de possibilidades

Livro revisita o diálogo entre o rigor e o acaso na vida e na obra poética de Paulo Leminski

Leminski: poética oriunda de diferentes referências e visões de mundo
Leminski: poética oriunda de diferentes referências e visões de mundo

Um poliedro de possibilidades

Livro revisita o diálogo entre o rigor e o acaso na vida e na obra poética de Paulo Leminski

Leminski: poética oriunda de diferentes referências e visões de mundo
Leminski: poética oriunda de diferentes referências e visões de mundo

O livro Aço em Flor: A poesia de Paulo Leminski é um estudo aprofundado acerca das múltiplas faces do poeta curitibano, um estudo no qual Fabrício Marques identifica um diálogo entre o rigor e o acaso. O livro, lançado pela Editora da Unicamp em coedição com a Editora UFMG, saiu publicado pela primeira vez em 2001 e, revisto e ampliado, em 2024.

Marques formou-se em comunicação pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e é mestre em teoria da literatura e doutor em literatura comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Como jornalista e crítico literário, colaborou com periódicos importantes, como a Folha de S.Paulo. Atuou também como professor e figurou entre os finalistas do Prêmio Jabuti e do Prêmio Portugal Telecom com seu livro de poemas A fera incompletude.

Na obra Aço em Flor, o autor busca mapear os sentidos e as referências mobilizados por Leminski na construção de sua poesia. Assim, entram em jogo o tropicalismo, o haicai japonês, a publicidade, o concretismo e a semiótica. Da confluência e do diálogo entre essas diferentes visões de mundo surge a poética leminskiana, em uma eterna disputa entre a razão e a intuição. Na entrevista a seguir, Marques comenta a nova edição da obra e dá detalhes sobre esse processo.

Jornal da Unicamp – Como se deu o processo de rever a obra para essa nova edição?

Fabrício Marques – Foi um processo prazeroso, motivado pela efeméride dos 80 anos de nascimento do poeta, que aconteceu em 24 de agosto. A primeira edição saiu em 2001. Nesse período de 23 anos até a reedição, confesso que deixei Leminski um pouco “de lado”, pois, além de pesquisador, sou jornalista e professor, e outras demandas e pautas surgiram no caminho. Mas tudo que lemos e que importa fica marcado a fogo em nós. Quando reli o livro para preparar a nova edição, naturalmente voltei a ter contato com os poemas e outros textos de Leminski e de novo me vi diante de uma obra múltipla, instigante, sempre em construção. Para completar, o fato de se tratar de uma coedição da Editora da Unicamp e da Editora UFMG é algo que me deixou bastante satisfeito, pois admiro muito as duas editoras.

JU – Quais são as novidades para o leitor?

Fabrício Marques – A nova edição foi revista, com um processo de reescrita que manteve a estrutura original, mas acrescentou passagens que reforçaram essa estrutura. Por exemplo, ao tentar delimitar o conceito de “acaso”, incluí um trecho sobre serendipidade, algo ausente da primeira edição. Além disso, foi acrescentado um texto inédito, “A aventura radical de Paulo Leminski”, escrito especialmente para essa reedição. Também passaram a fazer parte do livro dois textos que publiquei ao longo dos últimos anos: “Convergências com a publicidade”, que está no livro A linha que nunca termina: Pensando Paulo Leminski (org. André Dick e Fabiano Calixto, Lamparina, 2005), e “Ler, desler, contraler: convergências com Augusto de Campos”, de 2011. Finalmente, há um apêndice apresentando uma entrevista que fiz com o ensaísta argentino Mario Cámara, tradutor do poeta, e uma cronologia da vida e obra de Leminski. Ou seja, muitas novidades, que fazem dessa reedição quase que um livro novo.

JU – Qual é a importância dessa publicação para a fortuna crítica de Paulo Leminski?

Fabrício Marques – Outro dia eu conversava com um amigo, o Guilhermino Domiciano, que fez teatro na Unicamp, e analisamos como cada vez mais temos interesse em entender o que é ser brasileiro. Como as obras clássicas de Joaquim Nabuco, Sérgio Buarque de Holanda e Raymundo Faoro, entre muitos outros, ajudam-nos a compreender o país, em sua rede de extremos, entre desigualdades e privilégios. Mas também a poesia ajuda-nos nessa busca de compreensão. O que é ser brasileiro? A poesia brasileira é diferente do país em que é produzida? E a poesia de Leminski – um vulcão produtivo, irrequieto, múltiplo – pode ajudar a responder a essa pergunta. Nas entrelinhas de Aço em Flor, procuro trazer isso à tona, ao explicitar a ampla gama de interesses do autor refletida em uma face poliédrica, sua visão político-existencial da poesia, sua maneira de articular o jogo entre acaso e rigor – no contexto de uma produção que se deu, na maior parte do tempo, durante a ditadura militar do Brasil.

JU – Como você vê a recepção da obra leminskiana nos dias de hoje? Ele ainda é um poeta de referência para as novas gerações?

Fabrício Marques – Maria Esther Maciel, que escreveu o prefácio de Aço em Flor, destacou, em outro texto, que Leminski, “entre os poetas de sua geração, foi talvez o mais sintonizado com as demandas de um novo cenário cultural, elegendo como matéria-prima privilegiada um presente – entendido como um ponto móvel de confluências temporais, uma espécie de presente sincrônico”. Esse fato, somado ao projeto pessoal do poeta, de criar na faixa entre comunicação e informação, ou seja, de experimentar uma mixagem entre poesia de produção – ruptura com a tradição, vanguarda inventiva – e poesia de consumo – apelo pop –, ajuda a entender a sintonia de Leminski com as novas gerações. Exprimindo-se de um lugar, esse presente sincrônico, e manejando versos entre referências “raras e reles”, na palavra do poeta, sua poesia tem falado diretamente aos corações e às mentes dos leitores.


Aço em Flor
Aço em Flor

Título: Aço em Flor
Autor: Fabrício Marques
Nova edição, revista e aumentada
Ano: 2024
Páginas: 200
Dimensões: 14 cm x 21 cm

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