A experiência de estudar na Unicamp marcou a trajetória de gerações e influenciou profundamente a vida de profissionais e cidadãos de diversas áreas. Na excelência da formação acadêmica ou nas conversas travadas nos espaços comuns dos campi, a vida universitária na Unicamp caracteriza-se por valores que contribuem para que as pessoas formadas aqui tornem-se profissionais críticos e inovadores e cidadãos comprometidos com a construção de uma sociedade justa e democrática.
O Jornal da Unicamp conversou com egressos de diferentes áreas. Hoje destaques em empresas e instituições, os ex-alunos recordam o que os marcou na vida universitária, comentam como a Unicamp contribuiu para seu desenvolvimento e dão conselhos aos ingressantes de 2025.

A relevância dos cursos de computação da Unicamp motivou André Penha a sair do interior de Minas Gerais e a se aventurar em Campinas. “Na época existia um suplemento da revista Exame chamado Exame Informática, que depois se tornou a revista Info Exame. Essa publicação divulgava todo ano um ranking com as melhores faculdades de computação do país e, durante todo o meu segundo grau, hoje ensino médio, a Unicamp era sempre a primeira colocada. Pensei: ‘É aqui que quero estudar’”, recorda o hoje engenheiro, que também cursou o mestrado na área pela Unicamp.
Cofundador e ex-CTO (chief technology officer) da QuintoAndar, startup voltada para o aluguel e a venda de imóveis, e hoje CEO (chief executive officer) da IBBX, empresa da área de internet das coisas (IoT) e de soluções de conectividade, Penha conta que a experiência de sair da casa dos pais representou um passo importante para o seu crescimento e diz que hoje reconhece características da Universidade que contribuíram para seu desenvolvimento. Entre essas características, a oportunidade de conviver com colegas de diferentes áreas. “Todo mundo está por perto no campus. Perto do Instituto de Computação [IC] estão o Instituto de Artes [IA], o Instituto de Economia [IE] e o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas [IFCH]. Nós fazíamos amizade com gente de outros cursos e discutíamos o mundo em geral.”
Refletindo sobre sua atuação profissional, o engenheiro também reconhece que o aprendizado científico o tornou mais analítico, de forma a compreender a estrutura de seus pensamentos e decisões. “Isso me formou como profissional e hoje sou uma pessoa que influencia as decisões de muita gente.” Para os calouros de 2025, Penha deixa um conselho importante: aproveitar a oportunidade de aprender com pessoas diferentes. “Hoje o mundo está cheio de bolhas. Estamos acostumados a escutar apenas quem concorda conosco. Acredito que temos muito a ganhar se conseguirmos dialogar de forma amigável e adulta com pessoas que têm visões de mundo diferentes das nossas, se perguntarmos o porquê disso e se prestarmos atenção nessas razões”, afirma o empresário, que vê as empresas trilharem um caminho melhor quando conseguem acolher a diversidade de visões de mundo.

Por pouco, Julia Adams deixou de realizar sua caminhada formativa na Unicamp. A hoje linguista conta que já estava matriculada em outra universidade quando soube de sua aprovação no curso oferecido pelo Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). “A Unicamp tem um dos melhores cursos de linguística do país. Pude ter uma formação com diversas referências da área, com pioneiros da disciplina”, destaca. Atualmente, Adams trabalha como tradutora, revisora e transcritora em projetos independentes e para empresas especializadas do setor.
A ex-aluna da Universidade orgulha-se de ter contribuído com a diversidade e a inclusão promovida pelo IEL por meio de sua atuação junto ao movimento estudantil, destacando a felicidade de ver aprovadas as cotas para estudantes trans nos programas de pós-graduação da unidade. “Toda essa atuação me ensinou o que realmente é solidariedade. E lidar com questões administrativas da Universidade me ensinou muito a trabalhar com documentos, prazos, reuniões”, reflete.
Para Adams, um conselho importante aos estudantes atuais é não apenas aproveitar o que a Universidade já oferece, mas também os espaços abertos para atuar de modo a ampliar seus mecanismos de inclusão e de representatividade, como os coletivos e os movimentos estudantis. “Muita gente trabalhou e caminhou antes de mim e de vocês para que o espaço da Universidade tenha tudo o que há de bom nele”, adverte a jovem, que não titubeia ao recordar sua trajetória na Unicamp: “É quase um clichê, mas faria tudo de novo mesmo”.

“Nada é permanente, exceto a mudança.” Com essa frase do filósofo grego Heráclito, Leonardo Fraceto recorda o feliz acaso que o trouxe para a Unicamp. Hoje professor do Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Sorocaba, Fraceto lembra que não pensava em cursar química, mas, sim, farmácia e bioquímica, carreiras, na época, inexistentes na Unicamp. “Um amigo do colégio ia prestar o Vestibular da Unicamp para medicina, mas desistiu na última hora e perguntou se eu não gostaria de usar sua ficha de inscrição.” A troca deu certo e fez com que o jovem saísse de Dracena, próximo à divisa com o Mato Grosso do Sul, para estudar em Campinas. Após o curso de química, Fraceto cursou o mestrado e o doutorado na área de biologia funcional e molecular. “Atravessei a rua e fui do Instituto de Química [IQ] para o Instituto de Biologia [IB]”, brinca.
Para o professor, a vida na Unicamp ofereceu uma experiência transformadora ao proporcionar a oportunidade de estar em uma grande universidade junto de professores e cientistas importantes, o que ampliou sua visão de mundo. Fraceto reflete que essas vivências fizeram com que percebesse como o processo de aprendizagem mantém-se constante na vida universitária. “O conhecimento não está apenas no que aprendemos em sala de aula, mas nas iniciativas de buscar informações e transformar isso em algo novo.” O docente alerta os estudantes que a vida universitária equivale a um percurso com altos e baixos, mas feito de momentos de muito aprendizado. “A Universidade me ensinou a pensar de forma crítica, a identificar oportunidades e problemas reais e a buscar estratégias para resolvê-los. São habilidades que me acompanham até hoje.”

Atual maestra da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, Ligia Amadio escolheu a música depois de já ter estudado engenharia de produção na Universidade de São Paulo (USP). “Em 1990, eu já havia concluído o bacharelado em música, mas, como o período mínimo do curso de regência era de seis anos, inscrevi-me em duas outras disciplinas durante o último ano”, lembra a maestra, que também concluiu seu mestrado em artes na Unicamp.
A escolha pela Universidade ocorreu devido à excelência do curso. Amadio conta que o corpo docente contava com nomes de peso, com destaque para o maestro Henrique Gregori, professor da disciplina de regência. “Na época, o curso era dirigido pelo maestro Benito Juarez, que havia reunido uma série de professores importantes e maravilhosos, como Almeida Prado, Niza Tank, Eduardo Gramani e tantos outros”, recorda.
Segundo Amadio, a Unicamp ofereceu um ambiente responsável por proporcionar uma formação sólida e ferramentas para enfrentar uma profissão complexa, na qual há a necessidade de se manter continuamente atualizado e de se buscar aperfeiçoamento permanentemente. “Aproveitem, com muito amor e seriedade, tudo o que a Unicamp tem para dar. Ela é plural, multifacetada, e sempre esteve à frente de seu tempo. Uma universidade engajada com a modernidade, com a pesquisa e com o desenvolvimento. E com o futuro”, recomenda aos jovens ingressantes.

O desejo de Felipe Lima de ingressar na Unicamp veio da sua família. “Minha mãe estudou na Unicamp, fez graduação, mestrado e doutorado e sempre compartilhou boas histórias sobre a Universidade. Isso despertou em mim uma vontade genuína de fazer parte [da Unicamp]”, compartilha o engenheiro, hoje diretor comercial da Carbonext, empresa que trabalha com o mercado de carbono e com iniciativas para a mitigação de emissões de gases do efeito estufa.
Lima conta que, durante sua graduação, teve a oportunidade de participar de projetos de iniciação científica, intercâmbio e estágios, o que facilitou sua entrada no mercado. “Essas vivências não só complementaram minha formação acadêmica, como também se mostraram fundamentais para o meu desenvolvimento profissional.” De acordo com o engenheiro, os desafios surgidos em sua trajetória de formação o ensinaram a ter resiliência e pensamento crítico e permitiram-lhe dar-se conta da importância de cultivar boas relações. “A Universidade é um ambiente de aprendizado não apenas técnico, mas também pessoal. Cada experiência contribuirá para o seu crescimento e deixará marcas para toda sua vida.”

Há casos em que as marcas deixadas pela Unicamp revelam-se tão profundas que os estudantes constroem suas carreiras por aqui mesmo. É o que aconteceu com a professora Silvia Santiago, médica formada pela Unicamp e, desde 1985, docente da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). “A Universidade foi generosa comigo. Colocou-me em um mundo que eu não conhecia, da cultura, do conhecimento, da política, do convívio com o universo do pensamento. E isso é bom”, recorda Santiago, comentando que, na época, a Universidade não oferecia as políticas de permanência estudantil que a ajudariam e que hoje beneficiam muitos estudantes.
Nascida na Zona Norte da capital paulista, a professora conta que a opção por mudar-se para Campinas e estudar na Unicamp parecia mais simples do que enfrentar os deslocamentos até o centro de São Paulo. Segundo Santiago, a experiência resultou fascinante para uma jovem que saía de casa pela primeira vez. “Após o terceiro ano da faculdade, passamos a estudar na Santa Casa de Campinas e a formação foi muito boa devido aos professores maravilhosos e aos estudantes veteranos, que tiveram uma paciência infindável conosco no processo de aprendizagem”, relata. A médica também se recorda de alguns dos desafios enfrentados durante a vida universitária – da atuação junto ao movimento estudantil em um período anterior à redemocratização do país até a rotina de plantões médicos em dias de grande movimento, como os do Carnaval.
Uma das memórias que a ex-aluna guarda com carinho é a experiência de assistir pela primeira vez à apresentação de uma orquestra sinfônica, em Campinas, então sob a regência do maestro Benito Juarez. “Quando soubemos da estreia da orquestra, todas nós da república em que eu morava fomos assistir. O concerto começou com ‘Pássaro de Fogo’, de Stravinsky. Poucas vezes senti tanta emoção.” Aos jovens estudantes que chegam à Unicamp, a hoje professora deixa um conselho importante, referente ao espírito da vida universitária: “Não tenham receio de estabelecer relações de troca. Continuem me ensinando com paciência e ensinando todos os professores com quem tiverem contato. Façam amigos e busquem a felicidade na Universidade!”.