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Atualidades Pesquisa

O desafio do tamanho de uma floresta

Competição internacional estimula o desenvolvimento de tecnologias para o mapeamento da biodiversidade de florestas tropicais

Uma competição internacional, uma equipe brasileira e um horizonte de desafios para pesquisadores do Instituto de Biologia da Unicamp (IB) na floresta Amazônica. A bióloga do Museu da Diversidade Biológica do IB, Simone Dena, os professores do IB André Freitas e Luiz Felipe Toledo e o doutorando Axel Minouwa, também do Instituto, integraram o Brazilian Team, formado por mais de cem pesquisadores de universidades brasileiras e terceiro colocado na Xprize Rainforest. A competição internacional estimula o desenvolvimento de tecnologias para o mapeamento da biodiversidade de florestas tropicais e, durante cinco anos, promoveu a investigação sobre a relação entre a biodiversidade e as mudanças climáticas. A última etapa foi em julho de 2024 e reuniu quase 300 equipes de pesquisa de 70 países.

Realizada na floresta Amazônica, esta etapa envolveu a disputa pela documentação de espécies em 24 horas; muitas ainda desconhecidas da ciência, como as duas que o grupo coordenado por Dena identificou. A pesquisadora trabalha com bioacústica, uma ciência que estuda os sons emitidos por animais, e na Unicamp também realiza pesquisas na Fonoteca Neotropical Jacques Vielliard. O convite para participar da equipe brasileira veio da necessidade de auxílio na captação e na análise dos sons de animais na floresta Amazônica. “Sabemos que são espécies novas, porque já existem estudos que demonstram que são. Agora o trabalho é fazer a descrição formal dessas duas espécies”, afirma. Como a pesquisadora não coletou exemplares das novas espécies, apenas seus sons, a suspeita é que pertençam ao grupo dos anfíbios.

Durante os experimentos na floresta, foram aplicadas tecnologias de ponta para realizar as amostragens de forma rápida e remota, por meio de processos automatizados e de inteligência artificial. Sensores, coletores, drones e até robôs adentraram a floresta, criando cenas próximas às dos filmes de ficção científica, que mostram objetos não identificados em ambientes remotos.

Brazilian Team conquistou a terceira colocação na competição internacional Xprize Rainforest
Brazilian Team conquistou a terceira colocação na competição internacional Xprize Rainforest

Os pesquisadores realizaram o mapeamento de espécies em cem hectares de floresta sem a presença humana e se concentraram na comunidade do Tumbira, reserva de desenvolvimento sustentável do Rio Negro. Foram coletadas amostras de espécies e vestígios de DNA em cursos d ‘água, no dossel das árvores e em áreas de serapilheira, forração de folhas e galhos que se depositam naturalmente sobre o solo. As informações foram relatadas em 48 horas, e, além de três espécies novas, foram identificados 266 animais, como preguiças, macacos, morcegos, peixes e insetos já descritos pela ciência e até mesmo espécies em escala microscópica, como as que Minowa estuda. “São os bichos de que ninguém gosta, mas geralmente são indicadores de que o ambiente é saudável”.

A observação de Minowa revela a importância de investigar os impactos das mudanças climáticas sobre a biodiversidade amazônica, um dos principais objetivos da competição internacional. Mas, na opinião de Freitas, é preciso dar um passo ainda mais importante antes desta investigação, trabalhando na contagem e na identificação de espécies que estão com o tempo contado de existência. “Trabalhos mostram quantos pesquisadores precisam trabalhar continuamente, por décadas, para descrever toda a diversidade biológica. Temos que correr contra o tempo, porque algumas espécies estão em museus para serem descritas, mas já estão extintas na natureza”, afirma.

Freitas e outros colegas do IB realizaram à distância o levantamento de borboletas e mariposas encontradas nas 24 horas da última etapa da competição. Muitas delas têm exemplares expostos no museu no IB, mas a maior parte ainda precisa passar pelo processo de identificação. Entre estas, o pesquisador tem a expectativa de encontrar espécies ainda não descritas, principalmente mariposas. Trata-se de um trabalho que não tem prazo para ser concluído, assim como a descrição das novas espécies encontradas pelo grupo da bioacústica. De concreto, fica a certeza de que a troca de experiências entre pesquisadores de vários países e universidades e o acesso a novas tecnologias são essenciais para a execução de uma tarefa tão complexa e desafiadora quanto fascinante, como o mapeamento da biodiversidade das florestas tropicais e os impactos das mudanças climáticas. “Certamente, o projeto que nos levou ao terceiro lugar já contribuiu com informações importantes, mas é preciso saber quantas espécies existem, e, depois disso, podemos começar a pensar no que está acontecendo ao longo do tempo”, conclui Freitas.

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