Publicação pode servir de guia para produtores e pesquisadores
As espécies de eucalipto somam cerca de seis, dos oito milhões de hectares de florestas plantadas no Brasil. O número é significativo, mas ainda está longe do potencial de mercado que essas árvores têm, sobretudo se elas ocuparem os espaços de pastos mal manejados distribuídos pelo país. A avaliação é do doutorando da Unicamp Thiago Bevilacqua Flores, um dos autores do livro “Eucalyptus no Brasil, Zoneamento Climático e Guia para Identificação”, lançado pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (IPEF), de Piracicaba.
O trabalho de pesquisa para o livro levou dez anos e também apontou alguns equívocos na geografia das florestas de eucalipto brasileiras. “Muitas das espécies que foram encontradas, plantadas em diferentes lugares do Brasil, têm baixa aptidão climática para aquela região”. Isso quer dizer que as espécies foram plantadas onde há menos chances de um pleno desenvolvimento ou produtividade o que, em alguns casos, pode levar o produtor a estender sua área de plantio até regiões nativas.
A saída para o problema é aplicar tecnologia, conhecer melhor as espécies e os locais onde as árvores irão crescer, que é justamente a proposta do livro, afirma Thiago. A publicação deve servir como uma ferramenta tanto para os pesquisadores da área como para os produtores rurais. Nele, são detalhadas as 47 espécies de eucalipto mais cultivadas no Brasil e com algum tipo de utilização comercial.
As árvores que popularmente são denominadas eucaliptos, são originárias principalmente da Austrália e integram um grande grupo de plantas que é formalmente denominado Eucalyptus, com mais de 800 espécies. Muitas espécies foram introduzidas no Brasil no início do século 20 para o fornecimento de lenhas para as locomotivas da época.
Os principais usos hoje são para a indústria de papel e celulose; para o setor de energia, com a produção de carvão; laminados e indústria bioquímica, que utiliza o aroma de eucalipto derivado de óleos essenciais de algumas espécies. Há ainda o chamado pasto apícola voltado para o setor de mel e utilizações para cercas, lenhas e estacas de construção civil. “Havia uma demanda sobre essas espécies, como identificar e recomendar, do ponto de vista bioclimático, quais espécies cultivar e em quais regiões”, justifica Thiago.
Cada espécie apresentada no livro traz sua descrição morfológica, distribuição natural e exigências climáticas, fotos do ramo reprodutivo, do tronco, casca, madeira em corte, tronco em corte, botões florais, frutos e sementes. Também há um texto com comentários taxonômicos, que estabelecem critérios de identificação e diferenciação das outras espécies, e diversos mapas utilizados para a modelagem bioclimática.
A recomendação de aptidão climática foi feita a partir da comparação dos mapas do Brasil com a Austrália, Papua-Nova Guiné, Timor-Leste e parte da Indonésia e Filipinas. Foram avaliados dados das altitudes, temperaturas, médias de precipitação, e outros comparativos, como índice de aridez. O trabalho de modelagem bioclimática foi conduzido pelo pesquisador Clayton Alcarde Alvares, também autor do guia. “Quando uma espécie que tem aptidão climática para um clima frio é plantada numa região quente, o resultado da produtividade dela será aquém do esperado”, reitera Thiago.
O doutorando explica ainda que a indústria de papel e celulose trabalha hoje com híbridos de Eucalyptus, principalmente por propagação vegetativa, ou seja, é realizado o cruzamento genético de duas espécies e a planta resultante é clonada em larga escala, produzindo assim, as mudas que são plantadas. “Por isso você chega no povoamento florestal e os eucaliptos são praticamente todos iguais. A carga genética deles é a mesma ou muito semelhante”. Segundo o autor, conhecer e cuidar do patrimônio genético implantado no Brasil é extremamente importante. “Se surgir uma nova praga, por exemplo, muitas vezes é necessário desenvolver um novo híbrido e isso só é possível com a disponibilidade de um bom arcabouço genético”.
Thiago considera um problema o desconhecimento sobre quais espécies de Eucalyptus são plantadas no Brasil, um dos principais do mundo em produção florestal com predominância do plantio de eucaliptos. Contribuía a falta de uma ferramenta para reconhecê-las. “Muitas espécies foram selecionadas geneticamente para crescer muito rápido e gerar muita madeira. O que é muito bom porque, numa área muito menor, você consegue produzir mais. Contudo, quando se aplica o manejo de forma errada, resultado de desconhecimento das espécies, os processos de produção e conservação são colocados em risco”.
Serviço
Título: “Eucalyptus no Brasil – Zoneamento Climático e Guia para Identificação”
Autores: Thiago Bevilacqua Flores, Clayton Alcarde Alvares, Vinicius Castro Souza e José Luiz Stape
Editora: IPEF – www.ipef.br/publicacoes/guiaeucalyptus/
Páginas: 447
Preço: R$ 69,00