A antecipação dos impactos do aquecimento global impõe novos desafios à transição energética. Acelerar as iniciativas em curso é urgente para que se desenvolvam estratégias de mitigação dos efeitos menos previsíveis.
No Brasil, a transição energética precisa propagar-se com maior rapidez para as áreas de transporte e de produção industrial. Duas tecnologias verdes importantes, eólica e fotovoltaica, ainda dependem quase exclusivamente de componentes importados. A situação é a mesma no caso do hidrogênio de baixo carbono, gerado por dispositivos (stacks) que não são fabricados no país.
Neste contexto, vale destacar a importância dos centros de excelência que a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e as universidades públicas do Estado de São Paulo estabeleceram em parceria com o setor de óleo e gás para fomentar a pesquisa e a inovação voltadas à economia verde. Entre eles está o Centro de Inovações em Novas Energias (Cine), criado na Unicamp em 2018.
O setor de óleo e gás compreendeu há algum tempo que investir nos laboratórios das universidades não apenas oferece retornos concretos – patentes, startups e inovações que aceleram a transição energética –, como também ajuda a mudar o perfil dos empreendimentos de empresas cujas atividades eram originalmente ligadas à emissão de gases do efeito estufa.
Os laboratórios da Unicamp, Universidade de São Paulo, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e demais instituições vinculadas ao Cine produzem hidrogênio de baixo carbono a partir da eletrólise de biomassa e são os primeiros na América Latina a fabricar baterias e supercapacitores de lítio e sódio. Adicionalmente, desenvolvem inovações que possibilitam a produção interna de hidrogênio no transporte abastecido por etanol e a geração de eletricidade por células fotovoltaicas de perovskita, mais baratas e baseadas em insumos nacionais.
Com um investimento superior a US$ 37 milhões desde a sua criação, o Cine renova o convênio com todas as suas fontes de financiamento neste dia 13 de novembro, visando a endogenizar a geração de inovações e impactar a indústria e o desenvolvimento econômico do país.
Desenvolver produtos nacionais, aumentando a competitividade e reduzindo a nossa dependência externa, é, ao mesmo tempo, um desafio e uma oportunidade para São Paulo e o país. Nossa desejada reindustrialização deve ser realizada em novas bases, tendo na inovação a sua principal força motriz e na colaboração entre universidades e empresas, com o apoio das instituições de fomento, o elemento essencial para acelerar esta trajetória.
Exemplos como o do Cine e de outras iniciativas da Unicamp relacionadas à mitigação dos efeitos da mudança climática – caso do Centro Paulista de Transição Energética (CPTEn) e do projeto Brave, que busca viabilizar a formação de uma agroindústria baseada no agave – revelam o quanto a cooperação entre universidades e empresas é capaz de contribuir para o desenvolvimento econômico do país, com consequentes benefícios para o conjunto da sociedade.
Artigo publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo do dia 5 de novembro de 2024.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Unicamp.