Pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp publicaram um artigo no periódico Medical Teacher explorando aspectos pedagógicos do uso da simulação no ensino médico. O trabalho tem como autores da FCM Elaine Maria Bueno de Moraes, Tatiana Mirabetti Ozahata, Dario Cecilio-Fernandes e Thiago Martins Santos. Por outras instituições, assinam o texto Danielle Rachel dos Santos Carvalho (Atitus Educação), John Sandars (Edge Hill University, Reino Unido) e Rakesh Patel (Queen Mary University of London, Reino Unido).
O estudo, intitulado “Unravelling the differences between observation and active participation in simulation-based education”, investigou a retenção de conhecimentos e de habilidades técnicas e não técnicas, bem como a autoeficácia entre observadores e participantes ativos em uma simulação de extubação paliativa. A primeira autora do artigo, Moraes, é mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica da FCM, tendo sido orientada por Santos e coorientada por Cecilio-Fernandes.
Ao todo, 44 estudantes de medicina e enfermagem participaram da pesquisa. No primeiro dia, eles foram divididos em grupos de observadores e participantes ativos. Após assistirem a uma palestra gravada sobre extubação paliativa, todos os alunos realizaram testes de conhecimento e de autoeficácia (em que avaliam sua competência para realizar o procedimento).
Em seguida, encaminharam-se para o laboratório de simulação, onde foram avaliadas habilidades técnicas (como desligar o ventilador e retirar o tubo) e não técnicas (como tomada de decisão e comunicação em equipe). Ao final, repetiram-se os testes. Após 14 dias, ambos os grupos participaram ativamente do cenário, sem a presença de observadores, e ocorreram novos testes.
“O interesse no tema surgiu da tentativa de entender se os aspectos investigados apresentavam resultados semelhantes entre os grupos de participantes ativos e observadores. Nosso estudo demonstrou que a observação parece ser equivalente à participação ativa na aquisição de conhecimento teórico. No entanto a participação ativa pareceu ser mais benéfica para a aquisição de habilidades técnicas e para o aumento da sensação de autoeficácia”, afirma Moraes.
Santos acrescenta que, ao mesmo tempo, o conhecimento decai independentemente da manutenção da sensação de autoeficácia. “Isso pode significar que o aluno se sente mais competente do que o conhecimento teórico que realmente possui. Esse fato pode auxiliar professores e estudantes a compreenderem ser necessário ter consciência dos limites do conhecimento adquirido.”
O docente explica que os pesquisadores escolheram o tema da extubação paliativa para entenderem a educação no contexto da pandemia. Naquele momento, esse era um procedimento com o qual muitos estudantes ainda não estavam familiarizados e que se mostrava essencial para os pacientes de covid-19 internados em estado grave. “Esses princípios, como a organização do cenário, o planejamento e os questionários, podem ser aplicados a qualquer habilidade que envolva participação e observação, em áreas como emergência, terapia intensiva, cardiologia e cirurgia”, diz Santos. Os achados, portanto, servem para outros cenários.
“No caso de uma habilidade não técnica, como a comunicação em equipe, o observador pode se sair tão bem quanto o participante ativo, permitindo que grupos maiores participem da simulação, otimizando recursos técnicos e humanos. Por outro lado, o aluno precisa vivenciar a execução motora de certos procedimentos, já que, segundo a literatura, no caso das habilidades técnicas, a mera observação pode não ser suficiente.”
O docente destacou, ainda, os benefícios da colaboração com os pesquisadores estrangeiros. “Rakesh Patel e John Sandars trabalham conosco há quatro anos, e essa parceria ajudou a ampliar as possibilidades de discussão no desenho do estudo, a análise dos resultados e a elaboração do manuscrito submetido à revista. Tem sido uma das minhas experiências profissionais mais enriquecedoras realizar esse tipo de cooperação”, afirmou.
“A publicação na Medical Teacher é de grande importância para a educação em saúde, pois ajuda a difundir entre os educadores a diferença entre o ensino por observação e a prática no desenvolvimento de habilidades técnicas, principalmente”, comentou Moraes.
Para Santos, a publicação evidencia que a FCM está se tornando cada vez mais respeitada tanto nacional quanto internacionalmente, unindo ensino e pesquisa em educação médica. “Nesse estudo, oferecemos uma atividade benéfica aos alunos, enquanto coletávamos dados. Temos outras pesquisas em andamento nessa linha, o que contribui para a excelência da faculdade.”
Sobre a Medical Teacher
A Medical Teacher é uma publicação internacional que divulga pesquisas sobre educação médica, incluindo avanços em abordagens e métodos de ensino. Essa é a revista oficial da Associação Internacional para a Educação nas Profissões de Saúde (AMEE, na sigla em inglês). A revista busca atender às necessidades de professores e administradores da área, tratando desde educação básica e continuada até das mudanças nas políticas de prestação de serviços de saúde.