O maestro argentino Néstor Andrenacci encerrou em setembro sua temporada como convidado do Programa “Hilda Hilst” do Artista Residente, coordenado pelo Instituto de Estudos Avançados (IdEA). Depois de três meses de intensas atividades, o regente conduziu o Coro Contemporâneo de Campinas (CCC) no concerto “A capella”, com obras de compositores europeus e argentinos, no Auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.
Nascido em Bahía Blanca, Andrenacci é um dos grandes nomes da música coral da Argentina, tendo sido contemplado com o Prêmio de Mérito Konex, um dos mais importantes do país, na categoria Regência Coral, em 1999 e em 2009. O ex-professor da Faculdade de Artes e Ciências Musicais da Universidade Católica Argentina realizou oficinas e concertos, entre julho e setembro, interagindo presencialmente ou virtualmente com a comunidade da Unicamp e com profissionais e estudantes do Brasil e da Argentina.
Segundo o maestro, em entrevista ao Jornal da Unicamp, o ciclo foi muito intenso. Por exemplo, Andrenacci ensaiou com um coro com que nunca havia cantado junto, dentro das atividades da “Oficina Avançada de Regência Coral”. Depois de estudar o repertório durante duas semanas, o grupo realizou o espetáculo “A Canção Coral Europeia dos Séculos XIX e XX”, no dia 26 de julho, na Casa do Lago.
Os alunos da oficina presencial – não só da região de Campinas, mas de outras cidades de São Paulo e até de outros estados – intercalaram-se cantando e regendo seus próprios colegas, o que apresentava um desafio ainda maior, já que seu nível de experiência com regência era variado. Fizeram parte do repertório canções dos alemães Felix Mendelssohn (1809-1847) e Paul Hindemith (1895-1963), do espanhol Manuel Oltra (1922-2015) e do britânico Ralph Vaughan Williams (1872-1958).
A segunda etapa da residência artística foi desenvolvida com oficinas virtuais, em agosto, sobre a música coral Argentina. O foco da atividade foi discutir a história do gênero na Argentina e apresentar os autores mais importantes e suas obras. Andrenacci considerou que foram proveitosas as discussões das quatro aulas, já muitos dos inscritos não conheciam esse repertório, incluindo uma parte da audiência que era formada por pessoas da Argentina, proporcionando uma interação interessante com os brasileiros.
Ainda em agosto, o CCC foi regido por Andrenacci em um primeiro concerto com canções corais a capela e para coro e piano, também na Casa do Lago, com lotação máxima, apresentando obras do compositor britânico Benjamin Britten (1913-1976), do austríaco Gustav Mahler (1860-1911) e do argentino Carlos Guastavino (1912-2000). As atividades presenciais da residência artística foram desenvolvidas com o apoio do maestro Angelo Fernandes, professor do Instituto de Artes (IA) da Unicamp e regente do CCC.
“O maestro do Coro Contemporâneo de Campinas ensina canto na Unicamp, e ele tem muitos alunos de canto no próprio grupo. Interessante é que é um coro que tem um nível profissional, embora eles não sejam profissionais. Sua maneira de cantar e seu conhecimento de música é muito alto, então, é muito lindo trabalhar com esse coro, porque tem um nível alto de técnica vocal. E isso não é comum, nem mesmo na Argentina”, elogia Andrenacci, referindo-se à musicalidade e à disciplina de trabalho do CCC.
Na Argentina, o maestro está envolvido com a direção de cinco grupos: o Grupo de Canto Coral (GCC), o Coro del Banco de la Nación Argentina, o Coro Trilce e o Ensemble Francisco Guerrero Madrigalista, além de codirigir o Orfeón de Buenos Aires. O regente argentino ressalta a resposta nos concertos e a entrega do grupo brasileiro à execução do repertório, além das qualidades como pianista de Fernandes e sua percepção musical sobre a música popular, o que facilitou o trabalho.
“Foi extremamente gratificante trabalhar com o Néstor, porque, além de trazer muita informação da prática coral argentina, que é bastante respeitada no mundo todo, ele tem uma experiência muito grande como regente”, destaca Fernandes. Segundo o docente do IA, foi uma “experiência ímpar” desenvolver essas atividades com o colega argentino, que tem um perfil muito cativante e tranquilo ao lidar com as pessoas, resolvendo com eficiência e segurança problemas técnicos e musicais.
Uma parte importante da formação de cantores de corais consiste em executar repertórios em diferentes idiomas, mas isso não é necessariamente um requisito para quem se dedica a estudar regência, explica Andrenacci. Ao longo de mais de cinco décadas de experiência, ele calcula já ter cantado ou regido obras em quase 40 idiomas ou dialetos, entre eles sueco, filipino, dinamarquês, húngaro, mapuche, guarani, eslovaco, russo, iorubá, japonês e chinês. “Se vai se fazer música coral, é música de todo o mundo”, defende o regente.
“A pronúncia de um idioma não são apenas as regras de pronúncia. Muitos ensinam um idioma dessa maneira. Entretanto, do ponto de vista artístico, essa forma de aprendizagem é muito superficial. Um idioma é uma cultura, é todo um povo, que tem história, que tem sua geografia e seus costumes, então, um idioma é muito mais do que isso.”
O ciclo foi concluído com uma apresentação do CCC, regido por Andrenacci, reunindo dezenas de pessoas no Auditório da FCM, no dia 26 de setembro, com canções de Mendelssohn, do italiano Claudio Monteverdi (1567-1643), do austríaco Anton Bruckner (1824-1896) e dos argentinos Roberto Caamaño (1923- 1993), Fernando Moruja (1960-2004) e Astor Piazzolla (1921-1992), com acompanhamento de Angelo Fernandes ao piano.
A residência artística “Música Coral em Foco”, organizada pelo IdEA, contou com o apoio do Instituto de Artes (IA), da Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa (Cocen), do Centro de Integração, Documentação e Difusão Cultural (Ciddic) e da Pró-Reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (Proeec) da Unicamp.