As ceratoses actínicas são lesões de pele que podem afetar pessoas submetidas a uma excessiva e prolongada exposição ao sol. Ela se caracteriza pelo surgimento de manchas escamosas e ásperas na pele, geralmente de coloração marrom ou avermelhada, e é considerada uma lesão pré-maligna, ou seja, pode evoluir para um câncer de pele caso não seja tratada tão logo se manifeste. No Brasil, seu diagnóstico é um dos mais numerosos em termos dermatológicos, situação que se repete em muitos países.
Em virtude do elevado risco à saúde que a ceratose actínica oferece, um grupo de pesquisadores da Unicamp, formado por especialistas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) e da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), desenvolveu uma formulação dermatológica à base de uma associação de diclofenaco de sódio e ácido retinóico capaz de tratar, de forma eficaz, a ceratose actínica. A composição ainda oferece benefícios para condições como acne, melasma, foliculite, psoríase e dermatites, entre outras.
O diclofenaco de sódio é um medicamento com propriedades anti-inflamatórias, comumente usado para aliviar dores e inflamações. O ácido retinóico, por sua vez, é um derivado da vitamina A amplamente empregado na dermatologia devido à sua capacidade de renovação celular e sua ação antienvelhecimento. Combinar ambos em uma formulação parecia ser uma solução natural, mas o trabalho dos pesquisadores esbarrou em um obstáculo desafiador: os dois possuem baixa solubilidade em água, o que limitaria a possibilidade de se criar emulsões para uso tópico nos tratamentos de tais doenças.
Desafios para compor a formulação dermatológica
A baixa solubilidade em água dificulta que um ingrediente possa compor, por exemplo, emulsões ou géis – cremes ou pomadas, como são popularmente chamados. Por isso, para reunir os dois componentes em uma formulação a ser aplicada diretamente na pele, a pesquisa exigiu identificar outros agentes que assegurassem a sua estabilidade.
A professora da FCF Gislaine Leonardi, que participou do grupo de pesquisa, explica que “era preciso encontrar agentes emulsionantes que garantissem a estabilidade de ambos, especialmente do ácido retinóico, cuja estabilidade é menor, o que diminui a vida útil de um fármaco. Ou seja, seu prazo de validade fica reduzido. Boa parte dos esforços dessa pesquisa concentraram-se na busca desses agentes para contornar o problema da baixa solubilidade em água do diclofenaco de sódio e do ácido retinóico”, comenta a pesquisadora.
Testes clínicos e primeiros resultados da formulação da Unicamp
Ainda segundo Leonardi, a equipe conseguiu chegar a uma formulação com uma boa estabilidade química e com a questão da solubilidade equacionada. O passo seguinte foi iniciar os testes clínicos para avaliar a sua eficácia. A professora da FCM Renata Ferreira Magalhães, que também participou do estudo, promoveu uma parceria com o Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp para a testagem do produto em pacientes.
Magalhães ressalta que, de forma rotineira, já são feitos vários tratamentos com produtos tópicos para ceratoses actínicas, incluindo o ácido retinóico e o diclofenaco, mas usados de forma separada: “O protocolo de tratamento com a nova formulação foi uma ótima oportunidade para o estudo. Essa pesquisa teve aprovação no Comitê de Ética da instituição e seguiu todos os requisitos para boas práticas em pesquisa clínica”, completa a professora.
Essa etapa, porém, sofreu um imprevisto que atrasou a evolução da pesquisa. “A pandemia atrapalhou bastante os nossos testes clínicos. Eles costumam ser demorados. Cada paciente precisava ser acompanhado por mais de um mês. E, nesse meio tempo, sempre surgia algum problema ligado à pandemia que interrompia os testes e nos levavam à estaca zero. Foi preciso esperar que ela fosse controlada para que pudéssemos avançar”, acrescenta Leonardi.
Passada a pandemia e realizado o protocolo de avaliação clínica do produto, os resultados alcançados pela formulação no tratamento dos pacientes acometidos pela ceratose actínica foram positivos. “Os primeiros resultados e indícios são de que essa formulação é bastante eficaz. A testagem foi executada junto a um número maior de pacientes. Nós esperamos divulgar, até o final deste ano, os números finais dos resultados dessa formulação, que vem apresentando resultados robustos até o momento”, detalha Leonardi. Ainda segundo ela, a pesquisa encontra-se atualmente em seu estágio final e não estão sendo feitos novos testes clínicos em pacientes.
Apoio da Inova Unicamp na proteção da tecnologia
Em virtude dos resultados promissores obtidos na primeira sequência de testes clínicos, a equipe de pesquisadores decidiu avançar no processo de proteção intelectual do invento. “Os números dos testes iniciais mostraram que a formulação alcançou uma ótima estabilidade e solubilidade. Por isso decidimos já iniciar a tramitação do depósito de sua patente”, afirma Leonardi.
Em vista disso, a Agência de Inovação da Unicamp (Inova Unicamp) forneceu a sua assessoria para executar a proteção da propriedade intelectual. A formulação desenvolvida pelos pesquisadores tem potencial de aplicação na indústria farmacêutica, sobretudo no desenvolvimento de novos medicamentos para o tratamento de doenças de pele.
Leonardi conclui com um importante alerta: “Essa formulação é destinada especificamente para o tratamento de doenças como a ceratose actínica, entre outras enfermidades cutâneas, com boa possibilidade de sucesso. Mas vale lembrar que a ceratose actínica é uma doença que pode ser evitada e a prevenção é o melhor a se fazer. É preciso evitar a exposição excessiva e duradoura da pele ao sol e adotar medidas de proteção solar. Nossa formulação pode auxiliar na cura da doença. No entanto o ideal é não chegar a esse ponto”, alerta a pesquisadora.
Como licenciar uma tecnologia na Unicamp
A Inova Unicamp disponibiliza no Portfólio de Tecnologias da Unicamp uma vitrine tecnológica. Empresas e instituições públicas ou privadas podem licenciar a propriedade intelectual desenvolvida na Unicamp, com ou sem exclusividade, tais como patentes, cultivares, marcas, software e know-how. O contato e negociação são realizados diretamente com a Agência de Inovação da Unicamp pelo formulário de conexão com empresas. A Inova Unicamp também oferta ativamente as tecnologias para o setor empresarial, com a intenção de que o conhecimento gerado na Universidade chegue ao mercado e à sociedade. Para conhecer outros casos de licenciamento de tecnologias da Unicamp, acesse o site da Inova.
Matéria publicada originalmente no site da Agência de Inovação Inova Unicamp.