Desenvolver políticas de prevenção ao burnout para auxiliar no enfrentamento de situações de estresse assim como mapear os impactos do isolamento social e da pandemia na comunidade acadêmica são o foco de uma pesquisa desenvolvida pelo Laboratório de Estudos do Estresse (Labeest) do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. Desde que foi fundado, em 1988, o laboratório se dedica a investigar os fatores biológicos relacionados ao estresse.
Sob a orientação de Dora Maria Grassi Kassisse, professora associada do IB, o estudo vem sendo realizado desde 2018, sempre coletando dados nos períodos de final de semestre, e contou com as respostas de 1.135 voluntários entre aquele ano e junho de 2020. A última coleta da pesquisa ocorreu ao final de 2023 e buscou observar quatro pontos principais: o estresse psicossocial entre os grupos da Unicamp – docentes, graduandos, pós-graduandos e funcionários –, sinais de depressão, a resiliência entre os membros da comunidade acadêmica e as estratégias de coping de cada grupo. Coping é um modelo de terapia cognitiva, pensado para lidar com situações estressantes, e refere-se às formas como a comunidade acadêmica enfrenta o estresse.
O objetivo principal do estudo é entender as mudanças nos quatro fatores analisados, antes, durante e depois da pandemia de covid-19 e utilizar os resultados para implementar ações focadas em cada grupo na Unicamp, a fim de elaborar estratégias de coping individuais e desenvolver uma comunidade mais resistente.
De junho até o dia 17 de julho, a pesquisa está aceitando respostas referentes à primeira coleta de 2024. Os pesquisadores reforçam que a participação de todos é fundamental para que resultados mais precisos sejam possíveis, garantindo uma devolutiva a todos os que contribuírem com o estudo.
Acesse o questionário para a pesquisa.
A pesquisa deu base para o artigo The impact of confinement in the psychosocial behaviour due COVID-19 among members of a Brazilian university, publicado em 2020, pelo International Journal of Social Psychiatry, que teve como autora principal Heloísa Monteiro Amaral-Prado, na época aluna do IB. O artigo detalha a metodologia de pesquisa do projeto e analisa os resultados obtidos até 2020. O que se observou é que os homens, antes e depois da pandemia de covid-19, apresentaram menores pontuações para estresse percebido e depressão e maiores pontuações para resiliência quando comparados às mulheres. De outro lado, os estudantes de graduação e pós-graduação apresentaram maiores pontuações de estresse percebido, sinais de depressão mais pronunciados e menor resiliência em relação a professores e funcionários.
Grassi comenta que o nível percebido de estresse entre os estudantes pode ter relação com a instabilidade do momento da vida desses alunos e sua menor idade. A tendência aponta que, quanto mais velho um indivíduo fica, mais aumenta a sua resiliência ao estresse. Além disso, a professora também alerta que alunos com níveis de estresse elevados podem começar a manifestar sinais de depressão.
“Nós estamos em uma comunidade na qual os docentes e funcionários, nesse primeiro estudo, estão no limite do estresse psicossocial, no início do estresse intenso, e os estudantes e os pós-graduados estão com um estresse bem mais alto. E, uma vez que você tem estresse alto, você tem sinais depressivos também. Ao mesmo tempo, de forma inversa, há a resiliência. Então, quanto mais resiliente você é, menos estressado você fica e menos sinais depressivos você tem”, afirma a professora.
Alerta para os cuidados com a saúde mental
Segundo um estudo de 2017, feito pela Associação Internacional de Gerenciamento de Estresse (Isma, na sigla em inglês) no Brasil, o país está no ranking daqueles com maior índice de estresse do mundo. Cerca de 70% da população em idade de trabalho já apresentou ou apresenta sintomas de estresse.
O estresse ocorre como uma defesa natural do corpo em situações de perigo ou ameaça e serve como uma motivação para nosso organismo responder. Sendo assim, qualquer indivíduo está sujeito ao estresse. O problema, segundo os especialistas, é quando os sintomas persistem, podendo indicar a necessidade de um tratamento médico. “Se você vive em um ambiente estressante agora, você só vai ter hipertensão, ou outros problemas graves [relacionados ao estresse], daqui a dez anos. Então o que que eu posso fazer agora para evitar adoecer daqui a um tempo?”, pergunta Grassi.
O trabalho do Labeest reafirma a importância dos cuidados com a saúde mental e com o desenvolvimento da resiliência frente às inevitáveis situações de estresse do dia a dia. Os pesquisadores destacam que o motivo de existir esse laboratório não consiste em entender o que acontece quando se vive sob estresse, mas entender a pessoa que vive sob estresse e não fica doente: o que ela tem de diferente, como ela enxerga o mundo e quais as suas estratégias de coping. “Então essa é a natureza de existir do próprio laboratório, que tem como foco identificar ações, comprometimentos e atividades que fazem com que o indivíduo se torne mais fortalecido para sobreviver ou para enfrentar a sua rotina.”
Atualmente a Unicamp oferece alternativas para quem quer buscar ajuda dentro da Universidade. Os alunos têm duas opções de serviço de atendimento em saúde mental: o Serviço de Assistência Psicológica e Psiquiátrica ao Estudante (Sappe), órgão ligado à Diretoria Executiva de Apoio e Permanência Estudantil que oferece atendimento psicológico aos estudantes de qualquer área, e o Grupo de Apoio ao Estudante (Grapeme), para os estudantes da área da saúde. Os docentes e funcionários podem procurar apoio no setor de saúde mental do Centro de Saúde da Comunidade (Cecom).
Acesse o site para mais informações sobre o trabalho do Labeest e detalhes sobre a pesquisa.