Livro promove a educação na história, na realidade humana e na atualidade
Na rota da educação: epistemologia, teoria, história foi escrito por Justino Magalhães, doutor pela Universidade do Minho (Portugal) e professor catedrático do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. No livro, o autor aborda os principais campos da educação embasado não só no legado de importantes pensadores, mas também em sua experiência como educador em diferentes segmentos de ensino e circunstâncias científicas.
Publicada por meio de uma parceria entre a Editora da Unicamp e a Editora da Universidade Federal de Uberlândia (Edufu), a obra tem por objetivo ampliar a compreensão acerca da educação, situá-la e promovê-la na realidade humana, na história e na atualidade. “As motivações que me levaram a escrever o livro foram pessoais, acadêmicas e profissionais, muito embora eu veja como causa mais profunda a possibilidade de contribuir para a centralidade da educação nas questões e nos desafios da atualidade”, explica Magalhães.
Segundo o docente, a obra é permeada pelo enigma educação/instância do humano-pessoa e, no essencial, dá curso à ideia de que, ontológica e antropologicamente, a educação está na base das sociedades, dos processos civilizacionais, do desenvolvimento, dos destinos da humanidade e do próprio planeta.
Jornal da Unicamp – Quais foram as motivações para a produção do livro Na rota da educação?
Justino Magalhães – O livro que me aventurei a escrever pretende compreender, situar e promover a educação na realidade humana, na história e na atualidade. Nas disciplinas teóricas e metodológicas, na teoria da educação, na história da educação e em publicações anteriores, jamais deixei de interrogar-me sobre e procurar explicitar noções fundamentais, nomeadamente as de educação-processo, educação-campo de conhecimento e ação, educação-instituição, educação-fenômeno, e de confrontar-me com os desafios inerentes à epistemologia, à representação simbólica e conceitual, às ciências da educação.
JU – O livro aborda os principais campos da educação: epistemologia, teoria, ciência e história. Como essa obra pode ser vista dentro da sua produção acadêmica?
Justino Magalhães – Em educação, o futuro é. Li algures, sob a forma de paráfrase atribuída a Émile Durkheim, um dos fundadores da pedagogia e da escola modernas, que, se a educação é lenta a mudar, é porque está bem. Em educação não há mudança sem permanência, e a inovação mede-se e ganha significado por refereciam a mobilidade social e a participação política. Universalizando a escola, os modernos sistemas educativos sobrepõem instrução e educação, fazendo corresponder o institucional e a literacia escolares à educação básica. A continuidade e a progressão dos estudos configuram a educação secundária, a educação terciária e, por fim, a educação ao longo da vida.
Permanência e mudança, o presente educativo, em si novo, ganha substância e significado na revisitação, na atualização, na reinterpretação do passado e investe-se de futuro. Pensar, teorizar, investigar e dar a conhecer, ensinar e transmitir, estruturar sob o racional de projeto são operações fundamentais do campo da educação, inerentes à epistemologia, à teoria, à ciência e às ciências da educação.
A história traz à educação substância, discurso e sentido. Desde o século XVIII, história e educação se vêm desenvolvendo de forma integrada. Pensando, ensinando e fazendo história da educação, procurei trazer para o livro Na rota da educação uma sistematização do que de fundamental foi assinalando a minha produção acadêmica.
JU – Na opinião do senhor, quais as contribuições do livro para uma reflexão sobre a história da alfabetização e do ensino na área da educação?
Justino Magalhães – A cultura escrita foi historicamente o meio e o vetor fundamental do pensamento, do conhecimento e da comunicação. O triângulo antropológico da escrita (composto por visão, cérebro, mão), associado à mente letrada, informa o núcleo curricular da escola desde a Antiguidade Oriental. Desde a Antiguidade Clássica, a leitura e a autografia favoreciam a mobilidade social e a participação política. Universalizando a escola, os modernos sistemas educativos sobrepõem instrução e educação, fazendo corresponder o institucional e a literacia escolares à educação básica. A continuidade e a progressão dos estudos configuram a educação secundária, a educação terciária e, por fim, a educação ao longo da vida.
JU – No Brasil, vemos com frequência alguns movimentos políticos tentando depreciar personagens da educação, desvalorizar a ciência e reduzir a importância de políticas públicas educacionais que mantêm o bom funcionamento das escolas e universidades. Nesse contexto, como o livro contribui para a valorização da educação e da ciência.
Justino Magalhães – Essa pergunta resume as principais ameaças externas à educação e a que se tendem a associar crises e fatores de instabilidade inerentes ao institucional escolar e à relação entre escola e sociedade. O livro, mais do que alimentar um manifesto e uma militância em prol da escola, procura fundamentar a causa da educação, conferindo-lhe o primado na sublimidade do humano e na harmonização com a natureza. Desvelando a complexidade, a possibilidade e o longo percurso entre educação e história, alimenta a esperança, mas reitera a inevitabilidade de um contrato total.
A humanidade não se cumpriu e não se cumprirá com subdesenvolvimento, pobreza, discriminação, violência. Mas, se também não é mais pensável a unidimensionalidade que caracterizou algumas políticas escolares, não é menos condenável a negação a que continuam votadas populações de regiões menos desenvolvidas do globo ou segmentos infanto-juvenis de territórios empobrecidos, a quem continua a não ser dada oportunidade para fruírem o legado humano e histórico-educativo da aculturação escrita e do institucional escolar.
Título: Na rota da educação: epistemologia, teoria, história
Autor: Justino Magalhães
Páginas: 256 Edição: 1ª Ano: 2022
Formato: 15 x 21cm
Editora da Unicamp e Edufu