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Atualidades

Iracema de Oliveira Moraes recebe o título de professora emérita da Unicamp

Formada na primeira turma da Faculdade de Engenharia de Alimentos, se tornou docente e foi autora da primeira patente da Unicamp, em 1976

A engenheira de alimentos Iracema de Oliveira Moraes, de 85 anos, recebeu, na sexta-feira (7 de novembro), o título de professora emérita da Unicamp em uma solenidade que reuniu familiares, convidados e colegas da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), que dirigiu entre os anos de 1982 a 1986. O reitor Paulo Cesar Montagner, que presidiu a assembleia universitária extraordinária, destacou a “valiosa carreira acadêmica” da homenageada, autora da primeira patente da Unicamp, depositada em 1976, fruto de seu trabalho de mestrado.

“Receber o título de professor ou professora emérita, a mais alta distinção que um docente pode receber, é motivo de muito orgulho. É um mérito que ultrapassa os limites da função docente. A trajetória da professora Iracema foi e é marcada pela combinação rara entre competência intelectual, generosidade acadêmica e compromisso institucional”, afirmou Montagner.

“O título é o reconhecimento de seus pares como alguém que representa os valores mais nobres da universidade pública, que é a busca do saber livre, o diálogo plural e a dedicação ao ensino, pesquisa e extensão de qualidade com o compromisso inabalável pelo bem comum”, ressaltou o reitor. “Cada nome inscrito na nossa galeria de professores eméritos representa uma história de trabalho incansável”, completou.

O reitor Paulo Cesar Montagner ao entregar o diploma para Iracema Moraes; a primeira ex-aluna e a segunda mulher na história da Universidade a comandar uma unidade
O reitor Paulo Cesar Montagner ao entregar o diploma para Iracema Moraes; a primeira ex-aluna e a segunda mulher na história da Universidade a comandar uma unidade

Sonho de ser engenheira

A professora, que se tornou a primeira ex-aluna e a segunda mulher na história da Universidade a comandar uma unidade, relembrou, emocionada, sua trajetória educacional. Natural de Socorro, viveu seus primeiros anos em Amparo e foi a primeira de sua família de sete irmãs a ter acesso à educação formal. Ajudou, inclusive, a alfabetizar os pais. “Fui predestinada, quando nasci papai disse que eu ia ser professora. Eles eram analfabetos, mas sedentos do saber. Após a escola, meu sonho era estudar Engenharia.”

A Engenharia teve que esperar, já que, naquela época, pelas condições financeiras, a melhor opção foi se mudar para Campinas para cursar Ciências Exatas (Matemática e Física) na Pontifícia Universidade Católica (PUC), onde se formou em 1962. Moraes deu aulas em diversos colégios, incluindo o Culto à Ciência. “Sempre gostei muito das duas matérias e de lecionar. Então, conheci meu marido, nos casamos, tivemos duas filhas e, alguns anos depois, meu marido me falou que tinha lido no jornal sobre a instalação da Unicamp e que um dos cursos criados seria o de Engenharia de Alimentos”, conta. Enfim, realizou seu sonho de se tornar engenheira ao ingressar na primeira turma da FEA.

Menos de dois meses após se graduar, em 1970, foi contratada como docente na Universidade. “Fiz o mestrado e o doutorado, aliás, acho que fui a primeira na Unicamp”, lembra. Tornou-se livre-docente em 1981, professora adjunta em 1984 e professora titular em 1986, sendo uma das primeiras mulheres do país a alcançar tal posição na área da engenharia.

Ao iniciar sua carreira em pesquisa científica, com o professor Ricardo Sadir, passou a estudar um inseticida bacteriano à base de Bacillus thuringiensis em um mini-fermentador, “tema pouco explorado no mundo naquela época, mas ainda muito atual”. Durante o mestrado, concluído em 1973, teve seu terceiro filho. No ano seguinte, a especialização em tecnologia de fermentação foi no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA, e, em 1976, concluiu o doutorado na FEA, sob orientação do professor Chin Shu Chen.

Na época, Moraes foi autora da primeira patente da Unicamp e, em 1985, repetiu o feito, com o depósito de patente para um processo de produção de toxina termoestável de Bacillus thuringiensis. Ambos os pedidos foram concedidos.

Durante sua trajetória, formou 15 mestres e 14 doutores e coordenou inúmeros projetos em parcerias com universidades brasileiras e agências de fomento, além de instituições internacionais, como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Agência Alemã de Cooperação Técnica (GTZ). No total, publicou 75 artigos científicos, um livro e 29 capítulos de livros.

Mas sua contribuição ultrapassou as barreiras da Universidade. Atuou como diretora administrativa da Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas, foi presidente da Associação Brasileira de Engenheiros de Alimentos, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos e membro do Comitê Internacional “Women in Engineering” da Federação Mundial de Organizações de Engenharia.

Atualmente, preside a empresa Probiom Tecnologia – Pesquisa e Desenvolvimento em Ciências Físicas e Naturais Ltda., dedicada ao desenvolvimento de bioprodutos, e atua como curadora da Coleção de Culturas Tropicais da Fundação André Tosello, da qual é membro fundadora e presidente do conselho.

“Enquanto for possível, estarei aqui para rever os amigos, agradecer meus alunos, meus ‘desorientandos’, para mim é muito importante levar o nome da Unicamp para onde for e ver como a nossa universidade é reconhecida”, completa.

Reconhecimento

Sua “madrinha”, Mirna Lucia Gigante, docente da FEA, celebrou o título de professora emérita de uma grande amiga. “É uma alegria estar aqui como madrinha em um momento tão especial em sua trajetória. Tive o privilégio de trabalhar e conviver com a professora Iracema no final dos anos 1980 e começo dos 1990 e via que ela ensinava mais pelo exemplo do que pelas palavras, sempre pronta para ajudar e com o dom de enxergar o lado bom das pessoas e das coisas”, afirmou.

O atual diretor da FEA, Anderson de Souza Sant’Ana, também homenageou a professora, “integrante de um seleto grupo de docentes que ajudou a construir as bases acadêmicas científicas e institucionais da faculdade, além de ocupar lugares que se tornaram referência e inspiração para as mulheres e que abriu caminho e consolidou o espaço da mulher na liderança acadêmica e científica”.

Foto de capa:

A professora emérita Iracema de Oliveira Moraes foi autora da primeira patente da Unicamp, depositada em 1976, fruto de seu trabalho de mestrado
A professora emérita Iracema de Oliveira Moraes foi autora da primeira patente da Unicamp, depositada em 1976, fruto de seu trabalho de mestrado

Assista à cerimônia:

Assista ao programa Memória Científica com Iracema de Moraes:

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